Bônus Léo <3

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SIM... EU TAMBÉM CHOREI E ACHO QUE VOU CHORAR TODAS AS VEZES QUE RELER. TENTEI ESCREVER DE UM JEITO BEM LÉO...

ESPERO QUE GOSTEM <3

REVISÃO PREJUDICADA PELAS LÁGRIMAS ;'(


Meu nome é Leonardo, tenho 15 anos e moro aqui no abrigo desde quando eu tinha 13 anos.

Todos me conhecem como Léo. Minha mãe sempre me chamou de Léo e deve ser por isso que acho legal me chamarem assim. Eu gosto de verdade.

Quando resolvi escrever a carta no Natal, fiquei com vergonha, mas como "Deus é bom o tempo todo" eu sabia que ela chegaria a alguém que daria importância. E, no meu coração, eu sabia que seria a tia Alice. Não que as outras não fossem dar importância, mas eu cismei com ela.

Depois que entreguei meu envelope fiquei noites sem dormir. Será que iam gostar? Será que iam só ter pena de mim? Será que iam me achar doido? Será que iam entender o que eu quis dizer?

Eu queria muito que ela lesse. Eu tinha muita esperança que ela me tratasse bem, mas só que a reação dela foi muito melhor que imaginei. Ela não chorou, mas ficou muito vermelha, parecia que estava segurando para eu não ficar triste e eu gostei mais ainda dela. Ela cuidou de mim. Ela não queria me ver triste. Ela não teve medo ou nojo de me abraçar por causa de nada.

As pessoas brancas, não todas, mas muitas delas, olham pra gente diferente. Como eu morava na rua, muitas me tratavam pior que bicho, porque bicho também não merece ser mal tratado.

Se eu estava deitado perto de onde eles iam passar, eles desviavam como se eu fosse querer agarrar a perna deles e derrubar eles pra roubar.

Se eu passava do lado, eles seguravam as bolsas ou as mochilas achando que eu ia pegar e sair correndo.

Se eu chegava na janela do carro quando estavam parados no farol, eles fechavam o vidro na minha cara.

Se eu falava de Deus, eles mandavam eu parar de usar o nome dEle pra conseguir dinheiro, que isso era coisa de vagabundo.

O que ninguém sabia é que eu não fazia aquilo pra mim.

Que se eu não fizesse... eu apanhava.

Que se eu levasse pouco dinheiro pra debaixo da ponte ou da marquise... eu apanhava.

Que se eu chorasse de fome ou de frio... eu apanhava.

... Que eu sempre apanhava.

Eles usavam drogas e bebiam, mas minha mãe sempre me ensinou que essas coisas não eram legais.

Eles me chamavam de careta.

Eles jogavam fumaça na minha cara.

Eles cuspiam em mim.

Eles me queimavam com cigarros.

Eles me davam garrafadas.

Eles me davam pauladas.

Eles faziam sexo com um monte de gente na minha frente.

Eles faziam coisas muito feias comigo.

Eles tentavam me deixar doido com tanta coisa ruim.

Uma psicóloga disse que eu tinha tudo pra ficar revoltado, mas ao contrário, eu só fiquei mais tímido, mais na minha, e que eu tinha que cuidar da minha cabeça pra não sofrer muito. Falei com ela que sofreria se ainda tivesse na rua e que sou muito feliz porque estou vivo. 

Eles podiam ter me matado, mas eu estou vivo, graças a Deus.

Gosto de ficar aqui no abrigo com as crianças. Sou um dos mais velhos daqui. Todos dizem que meu tempo para adoção "já passou" e algumas vezes tenho pesadelos só de pensar que posso voltar pra rua.

Eu não tenho padrinho nem madrinha porque já não sou novinho e engraçadinho como já ouvi muitas vezes e sei que padrinho e madrinha também não pode ser muito novo como a tia Alice é. Tem umas coisas de idade. Acho que ela só poderia ser de algum mais novo que eu, mas isso não me deixou triste porque ela parece querer meu bem.

Aqui eu voltei a estudar, tenho comida gostosa, tenho companhia, ajudo a cuidar das crianças menores, tenho chuveiro com água quente, tenho cama e coberta, tenho um tipo de família.

Eu gostei quando a tia perguntou como eu queria chamar ela. Tia parece da família de verdade. Como já sou adolescente, muitas vezes tentei chamar professores e monitores de "tio e tia", mas sempre respondiam:

"Nunca soube que era irmão do seu pai/mãe".

"Meu irmão fodeu a sua mãe de não em contou?"

"Mais respeito, garoto. Aqui não é família. Aqui é meu trabalho."

São pequenas coisas que ficam na nossa cabeça que não são legais, mas se a gente esperar, as legais também chegam.

Muita coisa mudou aqui onde eu moro depois da ideia daquela festa da tia Liz. Será que ela também deixaria eu chamar ela de tia?

Elas e os namorados e maridos delas ajudam muito a casa. A comida está muito melhor. Ninguém fica sem médico ou remédio. A gente reza mais. A gente sai mais. Todo mundo tem pelo menos um bolo no aniversário. A gente vai até em festa de gente rica.

A tia Alice não apareceu aqui no Natal nem no Ano Novo, mas o abraço que me deu hoje valeu por tantos anos sem um abraço bom, sem um abraço de verdade.

A festa foi legal, as crianças se divertiram. Ganhamos tudo o que pedimos e ainda mais que pedimos.

Foi um dos melhores dias da minha vida e quero lembrar dele pra sempre.

Gostei de saber que a tia está grávida. Vai ser um nenê muito bonito porque o namorado dela parece um artista e ela é a mulher mais bonita que eu já vi, mas a Stella, a bebê que ela já tem, é a mais privilegiada. Como a tia me disse, a bebê nasceu dentro do coração dela, que é o mais importante, porque olha essa casa... um monte de mãe abandonou o filho. Um monte de mãe só deixou o filho na barriga e depois jogou fora, teve criança que ouvi dizer que foi jogada no lixo. Tem criança aqui meio doente porque a mãe não queria a gravidez.

Lixo não é pra jogar gente. Lixo não é pra ninguém comer...

Minha mãe cuidou de mim muito bem. Guardo tudo dentro na minha cabeça como uma coisa muito legal.

No dia que ela morreu eu fugi. Depois eu voltei achando que ia chegar em casa e ela estar viva de novo, mas ela não estava.

Hoje sei que ela no céu, porque era muito boa.

Eu fiquei na terra porque o padre diz que todo mundo tem uma missão. Ainda não sei qual é a minha, mas vou saber um dia. Eu espero saber.

Hoje eu sinto que daqui pra frente minha vida vai ser muito melhor. muito feliz. O sorriso da Stella, que parece tão feliz, não sai da minha cabeça.

O cheiro gostoso da tia Alice não saiu da minha roupa e eu cheiro ela toda hora.

O abraço e a atenção que ela me deu não saem do meu coração.


BOA NOITE!
DEDICO A TODOS VOCÊS QUE SE EMOCIONARAM COM A HISTÓRIA DO LÉO!

É FICÇÃO, MAS NÃO É INVENÇÃO.

INFELIZMENTE NÃO É EXAGERO.

É TÃO REAL.

É TÃO TRISTE.

É DE CORTAR O CORAÇÃO... VALE A REFLEXÃO.

QUEM É/FOI VOLUNTÁRIO... QUEM TRABALHA/TRABALHOU COM ASSISTÊNCIA SOCIAL... QUEM JÁ ESTEVE "DO OUTRO LADO" SABE O QUÃO DOLOROSO É ;'( ;'(

QUE DEUS OS ABENÇOE!

AMOCÊS, MEUS FODÁSTICOS! <3 <3 <3 

Sempre ao seu lado (Livro 2 : Série Transformados pelo Amor) #wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora