Capítulo 27: Um passo de cada vez

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SEM REVISÃO <3

ESCREVI EMPOLGADA!!!

Muito difícil admitir minha doença, em voz alta, todas as vezes que a equipe me pergunta. Dizem que não posso negar minha condição, então, ok... Eu tenho/sou ANA E MIA. Vocês sabiam que esses são os apelidos "carinhosos" dados a anorexia e bulimia? E pensar que existem sites, blogs, fóruns, grupos que ajudam as pessoas a se afundarem ainda mais. Sim! Existem toda uma campanha pró, a favor, desses infelizes transtornos.

Eu não tive ninguém que estivesse atento a isso para me ajudar, mas penso que, mesmo com a vida corrida, os pais devem estar atentos aos filhos. Nós sempre damos sinais. Os motivos podem ser tantos... O meu chega a ser bizarro, eu sei. Era quase "genético" e me fez perder bem mais que a saúde, me fez perder também a mãe.

Tente. Coloque em um site de busca e tenho certeza que ficará horrorizado. Confesso que eu não ficava. Que pra mim era normal. A gente simplesmente não acha que é um problema porque vivemos essa vida cheia de mentiras como se fosse uma verdade única. São relatos de bullying na escola; de meninas que fazem isso para serem aceitas em grupos; por padrões de beleza; por "gordurinhas" que ninguém sequer enxerga; porque quer um garoto que só fica com magras; porque não aceita vestir manequim acima de 34 ou, no máximo, 36... E o pior, muitos são relatos "vitoriosos". Escrever e incentivar eu nunca fiz, mas confesso que peguei muitas dicas, infinitas vezes e bati palmas para as novas estratégias que surgiam a cada dia.

Isso é muito sério. Somos doentes. São doenças. Não é normal. Não faz bem. Não é bom. Pode matar. Eu quase morri. Eu quase matei meu bebê. Estou longe de ter uma vida normal, mas hoje, mais do que nunca, quero viver. Quero vencer... por mim, por Rico, por nossa abelhinha e por nosso moranguinho.

Todo aquele horror aconteceu há alguns dias. Tenho sido poupada de tudo. Faço fisioterapia para que minhas pernas não atrofiem. Eles não têm nem mesmo me deixado andar longas distâncias. Eu as faço em cadeiras de roda e, para ir ao banheiro, sempre que meu leão está aqui, só vou no colo. Isso tudo pra que eu perca a menor quantidade de calorias, para que eu fique com a energia que estou consumindo sob a forma de alimentos e suplementos. É difícil, é complicado ter que comer tanto e sei que recebo algumas coisas pela veia, mesmo que ninguém me conte. Dizem que estou mais forte e corada. Precisei receber um pouco de sangue e agradeci por termos levantado a bandeira tempos atrás.

Para ser um pouquinho mais trash, não sei por qual motivo isso acontece com todas as grávidas: a gente fica sabendo da gravidez e imediatamente os enjoos chegam. Nunca tinha chorado para vomitar (muito pelo contrário) e agora eu choro. Meu estômago podia ser bonzinho comigo. Colocaram uma nova medicação, que é permitida na gestação, para minimizar esse desconforto. Também me disseram que pode ser deficiência de alguma vitamina e, depois de dosarem no sangue, em mais uma das inúmeras picadas de agulha que tenho levado, aumentaram a dose.

Rico me olha com aquele olhar de amor todas as vezes que meu estômago se rebela. Ele segura meus cabelos e sempre pergunta se quero escovar os dentes com a pasta sabor morango. Meu namô é paciente, carinhoso e não me trata como doente. Ele me beija, me abraça, diz que me ama e mostra que me deseja, o que faz com que as coisas fiquem menos pesadas.

Estou com uma saudade monstra da minha pequena. O pai foge várias vezes, principalmente quando Amanda fica comigo, e sempre traz muitas fotos e vídeos dela sozinha ou com Gabriel, Henrique, Miguel e Valentina.

A maioria pensa que estou internada por ter sofrido um acidente doméstico. Poucos sabem a verdade. Na realidade, não sei quantos, mas no tempo certo todos saberão.

Amanda e Vítor sempre estão aqui. Sinto-me confortável com a presença deles. Minha amiga de longa data puxou minha orelha e chorou comigo em nossa primeira conversa depois que a ficha caiu. Vítor traz a leveza e positividade dele todas as vezes. Ele foi o responsável por agilizar minha transferência. Não era justo em ocupar uma vaga do SUS e, nas minhas condições, não consigo me imaginar dividindo um quarto com outra pessoa ou... chego a ter até palpitação... não consigo imaginar voltar a uma ala psiquiátrica.

Sempre ao seu lado (Livro 2 : Série Transformados pelo Amor) #wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora