Capítulo 15 (continuação)

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RICO

Acredito não faltar muito para termos a mesma alegria que o George e a Bárbara tiveram ao levar Henrique para casa. É frustrante, se assim posso dizer, querer tanto algo e aquilo demorar tanto para acontecer, por mais certo que seja ou pareça.

Sou ansioso demais e a ansiedade tem aumentado e chegado em níveis quase insuportáveis, mas tenho tentado me controlar.

Nossas visitas têm sido cada vez mais gratificantes. A evolução é visível e hoje será um dos dias mais especiais da minha vida: verei, pela primeira vez, minhas duas mulheres juntas, abraçadas.

Optamos por fazer uma surpresa para minha deusa do fogo. Quando soube, pedi reforço aos padrinhos, que apesar de imaginar que já soubessem, agiram como se fosse uma novidade. Eu não quero ser o primeiro. Eu nunca quis ser o primeiro. Eu nunca me imaginei sendo o primeiro. Jamais imaginei ser eu quem fizesse o papel de mãe. Nunca me pareceu equívoco "esquivar" ou ceder minha vez para Alice. Sempre foi a vez dela, a vez é da mãe e ponto. Ela merece por tudo o que fez e tem feito por mim e por nossa filha.

Ao entrarmos na UTI, senti meu coração acelerar e minha boca ficar seca. Passei a língua para umedecê-la, mas nada mudou.

Liz e Vítor estavam pero da incubadora com o restante da equipe e o que aconteceu depois foi quase indescritível.

Alice levou um susto ao ser impedida pela doutora e ao saber por Liz que será a primeira vez delas. Ela abaixou a cabeça, deixando-me preocupado. Não seria a primeira vez que a veria desmaiar. A pressão dela é baixa e, por isso, desde novinha tem desmaios. Não tirei os olhos dela, mas optei por manter certa distância, porque queria tocar e ninar meus amores e, com isso, contaminaria tudo e estragaria o momento.

Ela não parecia estar em condições de raciocinar, com os olhos vermelhos, parecendo segurar o choro, mas mesmo assim teve que levar um "sacode" ao me questionar que não seria justo que fosse ela, que o correto seria eu...

A partir do momento que ela se sentou na poltrona, passei a ser expectador de um filme de amor... dos meus amores... do filme da minha própria vida.

Alice estava hipnotizada e eu não conseguia fixar em apenas uma delas. Eu alternava meu olhar, sem querer perder nenhum detalhe. Percebi a euforia da nossa guerreira ao "sentir" o ambiente... ao ouvir os sons, as vozes, ao sair de sua "bolha". Nossa abelhinha, agitada, movimentava os braços e pernas antes tão magrinhos e hoje já cheio de dobrinhas, como Alice gosta de dizer. Nem os equipamentos que a deixam viva, a máscara nos olhos ou a participação de tantas pessoas em um momento tão lindo, íntimo e NOSSO minimizou a beleza dele. Eu queria pausar o filme para que Stella e Alice estivessem sempre juntas... e comigo.

Alice não piscava e acho que nem respirar ela respirava. Elas se encaixaram com tanta perfeição que toda aquela agitação inicial da nossa filha cessou. Stella sentiu o cheiro da mãe pela primeira vez e tenho certeza que gostou de senti-la, assim como pareceu prestar atenção na voz dela. Minhas meninas conversaram por alguns instantes. Alice sussurrava frases inaudíveis e, como se fosse possível, seus olhos brilhavam ainda mais, suas bochechas ficavam cada vez mais vermelhas e suas mãos pareciam estar cada vez mais "à vontade". Liz gesticulava, tentando não "quebrar o clima", mas Alice estava tão concentrada que só percebeu quando teve a luva retirada e a mão higienizada.

Mi cielo soluçou baixinho, apesar de ter tentando não fazê-lo, e ficou roxa e com o rosto coberto por lágrimas.

Minha futura esposa emocionou a todos com seus agradecimentos. Malu nunca foi nem será esquecida. Como sempre dissemos, ela foi escolhida por Deus para gerar nossa filha e Deus nos tem nos capacitado para conseguirmos criar, cuidar e dar nossas vidas, se for necessário, como a mãe biológica fez, por e para ela.

Sempre ao seu lado (Livro 2 : Série Transformados pelo Amor) #wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora