Capítulo 32: Nem tudo é festa...

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  ALICE

Um sorriso bobo ganha espaço no meu rosto e o sinto iluminar ao ler a frase de Dalai Lama escolhida pelo meu namô:

"Dê a quem você ama: asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar."

E, para completar...

"Fica com a gente, pra sempre?"

Peguei o telefone e respondi, por áudio, com um sonoro "simmmmmmmmmmmm... forevermente"!!!

Uso "my best Google" e acho a frase perfeita também. Dalai Lama sempre arrasa:

"A paciência protege a nossa paz de espírito diante da adversidade. É uma resposta deliberada às fortes emoções e aos pensamentos negativos que tendem a surgir quando encontramos algo que nos faz mal." Obrigada por ser tão paciente e por me ajudar a ter paciência, por me aceitar, por me dar paz, por me amar sem limites, por me proteger de todos os males, inclusive de mim mesma sempre que é necessário. AMO VOCÊS!

***

Como não participei efetivamente da organização da festa, pedi que me deixassem por conta de reorganizar os presentes. Nós tínhamos cartinhas escritas pelos monitores e pelas crianças ou pelos adolescentes (podem morar lá desde recém-nascidos até 18 anos incompletos). Tinha a manhã toda para fazê-lo. As meninas combinaram de vir logo no início da tarde para colocarmos tudo nos carros e literalmente fazermos a festa.

Estava encantada! Tinha desenhos muito infantis, mas também tinha verdadeiras obras de arte! Temos que valorizar esses talentos!

Repassei nome por nome, presente por presente, pedido por pedido.

Brinquedos, mochilas, tênis, sandália... OK!

Tudo estava criteriosamente organizado. Abri cada um dos envelopes, conferi (mais de uma vez) e arrumei novamente, seguindo o padrão. Após ler cada cartinha, sempre colocava a mão e "enfiava a cara" para ver se não tinha mais nada, já que em alguns deles eu encontrava mais de um anexo. Não estava disposta a deixar passar nenhum detalhe. Queria que tudo fosse perfeito... e estava! Foi em um desses momentos, em uma das últimas cartinhas, que encontrei algo que nem sabia que estava procurando. Estava muito bem dobrado, com uma letra pequena e caprichada, que, com certeza, não era de um dos mais novos. Estava tudo bem juntinho, não havia parágrafos ou troca de linhas, só no final, provavelmente quando se despedia e identificava. Apesar da curiosidade, li desde o início "sem roubar". Minhas mãos já tremiam antecipadamente.

"Eu não sei se alguma de vocês vai achar esse pedaço de papel, mas quero agradecer muito pelo que fazem pra gente. Antes de vocês, a vida era boa, só que agora ela é muito melhor. Eu não falo só pelos presentes, eu falo pela atenção que a gente tem. A gente sempre fica ansioso quando sabe que vai ter visita ou vai ter passeio. Eu não gosto muito de contar pra ninguém como era minha vida na rua. Eu fui pra rua depois que minha mãe morreu. Eu não tinha pai e ninguém quis ficar comigo. Tem coisas que eu não lembro ou não quero lembrar. Eu era obrigado a ficar pedindo dinheiro para dar pros outros usarem drogas e comprar cachaça. Passei fome de verdade porque eles nunca compravam nada pra mim. Eu comia o que achava no lixo. Chupava osso, lambia a tampa de iogurte, comia pelanca, fruta estragada e resto de comida. As donas das casas me xingavam, os porteiros jogavam água, mas eu revirava o lixo porque era minha única chance de ter alguma coisa pra comer. Nem animal come isso. Nem animal merece comer isso. Eu sempre fui quieto e não gostava de briga e de fazer coisas feias que as pessoas fazem na rua. Sempre pedi que Deus me ajudasse a sair da rua, mas quando passava o pessoal que tira a gente da rua, eles não deixavam me levar. Falavam que eu era filho, me sufocavam para fingir que eu estava dormindo, porque eu dava dinheiro pra eles, né? Quando fiquei um pouco maior e mais esperto, corri atrás da Kombi que dava comida e pedi ajuda. Já tem um tempão que moro aqui, graças a Deus.

Sempre ao seu lado (Livro 2 : Série Transformados pelo Amor) #wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora