ALICE
- Tudo bem. Eu te respeitei muito e acabei sendo negligente. Vou poder interromper para sanar dúvidas? – demonstrou ansiedade.
- Pode. Prefiro que seja assim ou vai parecer um monólogo. Não vai ser fácil pra mim, ok? – nunca me imaginei tendo esse tipo de conversa com ele, nem com ninguém.
- OK. Eu começo ou você começa?
- Eu começo. – assentiu e continuei. – Não tenho nenhum problema agudo, se posso assim dizer. Ele é crônico, de longa data. – o vi engolir seco. É sempre muito difícil admitir isso. - Tenho distúrbio ou transtorno alimentar. Muitos dizem que é apenas anorexia, como se isso fosse pouco. Outros tantos dizem que também tenho bulimia por eu usar métodos purgativos.
- Métodos purgativos?
- Vomitar, tomar laxante, diurético, esse tipo de coisa. Antes que você pergunte, era por isso que eu ia ao banheiro depois de sairmos para comer ou quando comíamos em casa mesmo. O sabor "morango" era um que não me causava náuseas e me deixava com um gostinho gostoso na boca. Era minha sensação boa depois de algo ruim (comer nem sempre é tão bom quanto parece). Eu não fazia tudo isso em todas as refeições. Algumas vezes eu só vomitava, outras tomava um ou outro remédio e muitas outras precisava apenas tirar o gosto de comida da boca. – morango sempre foi meu sabor infantil preferido.
- Você disse que é um problema de muito tempo... desde quando você... é... – coitado. Nem sabe como dizer para que não pareça agressivo. Fica escolhendo as palavras.
- Desde criança. – senti uma dor ao reviver minhas memórias. Minha infância totalmente atípica. Minha família totalmente diferente.
- Porra! Desde criança? Como? Por qual motivo? – ele estava irado. Tinha um olhar diferente, muito diferente do dono daquele sorriso "tímido-fofo-safado" que me conquistou no bale de formatura da Liz.
- Minha mãe me proibia de comer... porque eu não podia ser uma bailarina gorda. Eu fazia ballet desde bem novinha e sempre fui muito elogiada. Sabe aquela fase que as meninas ficam meio roliças, barrigudinhas, "quadradinhas"? – Rico anuiu. – Foi nessa fase que entraram os remédios. Eu não sabia o que era, é claro. Ela me dava e dizia que era para eu ficar mais bonita e dançar melhor e eu tomava.
- Que loucura... CARALHO! – andou de um lado para o outro passando as mãos nos cabelos e dizendo coisas desconexas. - Desculpa. Pode continuar.
- Pra mim não era doença. Era normal, você me entende? Foi algo que sempre fiz e, se era a minha mãe quem estava me dando, não podia ser um problema, porque as mães sempre fazem o melhor para os filhos e zelam pela saúde deles. Assim eu pensava... – lembrei com tristeza.
- Você tinha colegas na escola ou no ballet? Tinha uma vida de criança normal? – parecia angustiado, mas eu não podia mentir para fazê-lo feliz com mais uma mentira.
- Em muitas eu não ia porque ela ficava nervosa se eu comesse muito. Em outras ela ia comigo e depois que eu comia, me levava ao banheiro e me fazia vomitar ou quando chegava em casa me dava os remédios. Eu não era muito querida. Todos achavam que eu tinha problemas... eu sempre estava passando mal e muitas vezes cheguei a desmaiar. Minha mãe me buscava na escola e fingia que me levava ao médico, mas ela raramente me levava.
- Que desequilíbrio! Ela achava mesmo normal fazer isso com você? Que filha da puta louca! – chegou a elevar um pouco o tom de voz e nem se desculpou por xingar.
- Sim. Tanto pra mim quanto pra ela era normal, pois a vi fazer tudo o que te falei com ela mesma, durante a vida toda.
- Ela também tem esse problema? – ele estava muito interativo, mas eu não ia impedi-lo de perguntar.
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Sempre ao seu lado (Livro 2 : Série Transformados pelo Amor) #wattys2016
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