Capítulo 2

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Oh Misuk.
Segunda-feira 18 de março, 06:50h.

Coloquei o meu suéter novinho sobre o uniforme sem graça da escola, apesar de ficar um pouco grande demais em mim, eu não via nenhum problema nisso, já que comprei o suéter na sessão masculina. Peguei minha mochila jogada no chão e coloquei nas costas antes de abrir minha porta com tudo e ir até a cozinha. Percebi que eu teria que estar na escola há pelo menos uns vinte minutos, mas sinceramente não me importava em levar uma bronca da diretora e talvez uma detenção de uma hora, mas a minha mãe se importava.

—Vai logo menina, você vai se atrasar.— Ela disse, enfiando uma torrada assada na minha boca.

—Obrigada mãe.— Eu falei de boca cheia (a frase soou como "ovrigafa vãe") antes de descer correndo para a lavanderia.

—Não fale de boca cheia!— Ouvi minha mãe exclamar enquanto eu descia.

Cheguei na lavanderia, vendo meu pai que já estava trabalhando lá, ele apenas me deu um sorriso ao qual eu apenas respondi com um leve acenar com a cabeça, saindo em disparada da loja. Eu corria pela calçada em direção a escola enquanto segurava a torrada com a boca. Finalmente cheguei no colégio, dando uma olhadinha para trás antes de entrar na escola e vi um garoto alto e bonitão com o uniforme do colégio Geodaehan (cujo eu conhecia porque o irmão da minha amiga estuda lá) no outro lado da rua, me encarando fixamente com os olhos arregalados, como se tivesse algo muito de errado comigo. Apenas sorri por cima do meu ombro, comendo a torrada inteira em uma única mordida e corri para dentro da escola o mais rápido que pude, já sabendo que ia levar uma bronca daquelas.

—Parece que ganhamos mais uma para o time.—A diretora disse assim que entrei pela porta principal.

Eu não era a única atrasada, um grupo de mais ou menos dez ou quinze meninas estava no corredor recebendo uma bronca da senhora Baek, ou senhora Baem (cobra) como nós costumávamos chamar. No meio dessas meninas, estavam Yeeun e Mirae, minhas duas amigas, o que me chocou, já que Mirae é a maior nerd que eu já conheci e ela também estava me dando um olhar mortal. Me encostei na parede ao lado de Yeeun deixando minha cabeça para baixo, o que nós sempre fazíamos quando estávamos levando uma bronca.

—Tenham responsabilidade! Você deveria estar aqui há quase meia hora, senhorita Oh.— A mulher reclamou, apontando uma régua na minha direção.

—Mil perdões, diretora.— Falei tentando segurar minha risada.

Mirae me olhou como se estivesse me fuzilando, Yeeun estava bem relaxada. A diretora continuou com sua palestra sobre responsabilidade, mas eu não prestei atenção nenhuma nela, toda a segunda era assim.

—Qual é o seu problema? Como você se atrasou tanto? Eu fiquei vinte minutos na frente da lavanderia!— Eu não sabia dizer se Mirae estava sussurrando ou gritando comigo. —Eu já tive que lidar com o bundão do Jiho demorando no banheiro e ainda tenho que lidar com essa bronca de merda.

—Senhorita Paek Mirae, sem conversa e sem palavreado.— A mulher disse.

Mirae apenas suspirou, tanto eu quanto Yeeun nos seguramos para não rir na frente da diretora. Depois de bons vinte minutos de esporro, nós saímos correndo para a sala, quer dizer, eu e Mirae, já que Yeeun era um ano mais nova mas ficava na sala ao lado da nossa. Nós éramos de um colégio interno só para meninas, cheios de regras estúpidas que nós não seguiamos (pelo menos eu não) e por isso, a diretora me odeia, não que eu também não odeie ela, é um ódio correspondido.

Nós chegamos no meio da aula de inglês, qual nem eu nem Mirae poderíamos nos importar menos, então ela rapidamente me passou um de seus fones e colocou o outro em seu próprio ouvido, antes que "Psychosocial" do Slipknot começasse a estourar meus tímpanos, perfeito. Deitei minha cabeça na mesa, começando a dormir apesar de toda a barulheira no meu ouvido, eu odiava aulas de inglês mais que tudo.

(...)

Saí correndo para fora da escola, indo em direção a minha academia, onde eu praticava boxe, eu não tinha como faltar aquele treino, já que o professor tivera alguns problemas estomacais (caganeira). Estava calor, mas decidi continuar com o meu suéter simplesmente porque ele era legal. Cheguei na academia, pegando minhas roupas de academia da bolsa antes de colocá-la dentro de um armário. De repente, entrou na academia o mesmo garoto do Geodaehan que eu tinha visto mais cedo, ele pareceu tomar um susto, olhando fixamente para mim, talvez para o meu suéter.

—Você...

Antes que ele terminasse a frase, eu fui até a sala onde eu tinha meus treinos de boxe, eu já estava atrasada e aquele cara parecia minimamente estranho. Assim que cheguei na sala, o senhor Baek perguntou:

—Você conhece o Sunghoon?

—Quem?

—Park Sunghoon, o garoto do Geodaehan, ele parecia querer falar com você.

Park Sunghoon, esse nome parecia levemente familiar.

—Não sei não, deve ser doido.— Dei de ombros.

—Foi ele o jovem que venceu um campeonato de patinação artística recentemente, o cara é bom mesmo.

—É mesmo! Vi o nome dele na TV!— Dei uma olhada para a janela da sala e vi o tal de Sunghoon indo em direção a uma sala em um lado oposto a minha.

—Agora sem enrolar, vai trocar de roupa que a gente começa o treino.

—Sim, senhor Baek.— Fiz uma continência.

(...)

—Já pode ir pra casa, Misuk.— O professor falou.

—Graças a Deus.— Falei, tomando um gole de água.

—E não se atrase amanhã.

—Foi só porque eu fiquei de castigo porque me atrasei para a missa antes das aulas.— Eu revirei os olhos.

Além de ser uma escola feminina cheia de regras, o Yungseong também era um colégio católico, mas veja bem, eu sempre me considerei como agnóstica, apesar de meus pais serem católicos, então não me fazia sentido comparecer a uma missa, por isso e muito mais a diretora tinha muitas coisas contra mim.

—Sim, entendo, se esforce pra não ser pega faltando missa da próxima vez.— Ele deu uma piscadela, o senhor Baek era uma ótima má influência algumas vezes.

—Vou me certificar, te vejo amanhã.

Saí da sala, dando de cara com o Park Sunghoon, que se mantinha quieto e sério enquanto parava na frente da minha sala.

—Você é a filha do cara da lavanderia, né?— Ele perguntou.

—Sou, por que?

—Eu quero meu suéter de volta.

Fiquei confusa, o suéter dele?

—Como?

—O meu suéter, que você pegou.

Ah não, eu não ia deixar aquele cara falar que eu tinha roubado o suéter dele assim tão fácil.

Sweater WeatherOnde histórias criam vida. Descubra agora