Capítulo 13

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Park Sunghoon.
Quinta-feira, 9 de abril.

Eu tinha dois problemas e por incrível que pareça ou não, os dois eram ligados a Oh Misuk, grande surpresa, ultimamente, tudo de ruim na minha vida, tudo de mais estranho e cabuloso possível foi ligado a aquela menininha bonitinha com aquele sorrisinho inocente, se eu dissesse isso para alguém que não a conhece, a pessoa provavelmente riria da minha cara. Bem, acho que me perdi um pouco, meus dois problemas: Jake não era o tutor de inglês mais paciente do mundo, que me insistiu em me ensinar essa língua estúpida, já que perdi uma aula aparentemente importante porque fingi que levei um chute nas bolas na frente do colégio de Misuk. Oh Misuk, tudo culpa dela.

—Vai, should expressa conselho, ordem ou desejo?— Jake bateu a ponta do lápis contra o livro.

—Não sei.

—Você deveria saber.

—Jake, não sou um australiano igual a você.— Cruzei os braços. —Você que deveria saber.

—Como você vai pra Brisbane se não sabe falar inglês?— Ele fez questão de falar o nome da cidade com seu sotaque australiano.

—Eu nem sei se vou pra Brisbane no fim do ano, ainda tem algumas seletivas.— Dei de ombros.

—Ora Sunghoon, você é o cara mais foda dos patinadores do sub dezessete, não é difícil que você vá parar em Brisbane.

—Melhor não botar tanta expectativa.

Jake suspirou.

—Melhor a gente ir embora desse fim de mundo.— Ele se levantou da cadeira e eu decidi fazer o mesmo, ainda um pouco desanimado para ir embora e provavelmente me deparar com Oh Misuk querendo me transformar num poodle. —E essa cara de bosta?

—Fiz uma aposta com Oh Misuk e perdi.— Respondi. —Agora ela quer descolorir meu cabelo e vai ficar uma merda.

—Cara...— Por alguns segundos, Jake olhou fixamente para meu rosto. —Você vai ficar legal loiro, vai ficar igual a Gaeul.

Ele estava falando da minha cadela, uma poodle.

—Meu Deus, você também?— Bufei. —Eu não me pareço com um poodle.

—Misuk disse isso?

—É, ela disse.

—Eu concordo.— Ele riu, eu apenas revirei os olhos. —Boa sorte virando um poodle.

Apenas bufei, indo até a parte de fora da escola e dando de cara com Misuk me esperando na calçada, com aquele sorriso estúpido de sempre. Franzi o cenho quase que imediatamente enquanto ela acenava para mim, tão exageradamente que parecia uma criança de cinco anos dando "oizinho" para sua mãe. Suspirei, indo até ela (ainda tinha medo de levar um soco) enquanto segurava uma alça da minha bolsa.

—Oi medrosinho, pronto pra virar um poodle?

—Não vou virar um poodle.

—Você vai!

—Vamos acabar logo com isso.— Coloquei as mãos no bolso.

—Foi você que prometeu, Hoonzinho.— Ela riu.

—Não me chama assim.

—Hoonzinho!— Ela repetiu com uma voz cantante, rindo como se fosse super engraçado enquanto andava na minha frente, se virando para falar comigo. —Vem, para de ser lerdo.

—Eu mereço.— Resmunguei andando logo atrás dela.

Misuk andava de forma saltitante, até um pouco cartunesca, senti um sorriso invadir meus lábios, mas rapidamente substituí por uma expressão emburrada, franzindo o cenho. Dei passos mais rápidos, tentando seguir o ritmo saltitante dela.

—Tem como andar mais devagar?— Falei, aumentando meus passos. Minhas pernas eram significativamente maiores que as delas então não foi muito difícil ir até ela.

—Não, quanto mais cedo a gente começar, melhor.

Nós chegamos até a lavanderia, vendo a mãe de Misuk atrás do balcão falando com a minha. Fiquei um pouco confuso, olhando para as duas.

—Oi mãe, oi senhora Park, vou descolorir o cabelo do Sunghoon.— Misuk disse como se fosse super normal ela decidir descolorir o cabelo de um cara que ela mal conhece.

—Oi mãe.— Murmurei, torcendo para que ela me proibisse de descolorir o cabelo.

—Hoon vai pintar o cabelo? Oh, vai ficar um homenzinho lindo.

Certo, talvez minha mãe não estivesse muito ao meu favor.

—Não é mesmo? Eu falei que você ia ficar bem de cabelo loiro.

—Você disse que eu ia ficar parecendo um poodle.

—Dá no mesmo.— Ela revirou os olhos.

Ela começou a me empurrar em direção a uma escada.

—Vamos estar no meu quarto.— Ela anunciou.

—Deixe a porta aberta.

—Sim, mamãe.— Misuk começou a me empurrar escada acima.

—Ei, eu sei andar sozinho.

—Só estou garantindo que você não possa escapar de mim.

Depois de alguns degraus, nós chegamos na casa de Misuk, acima da lavanderia. Era um lugar pequeno, porém aconchegante, o piso era de madeira escura, a sala tinha um sofá bege, uma mesa de centro e uma TV que parecia não ser muito nova. A cozinha não era muito grande também, apenas um fogão, uma geladeira e uma bancada de granito com três banquinhos, que deduzi serem para ela, sua mãe e seu pai. Ela rapidamente me empurrou para um dos quartos, entrando logo atrás de mim, deixando a porta aberta. A cama de solteiro, paredes laranjas, poster com a foto de uma pessoa com um rosto distorcido com os escritos "we are not your kind" e o nome Slipknot, além de toda a bagunça no cômodo me fizeram deduzir que aquele era o quarto de Misuk.

—Pegue uma cadeira, já volto com o pó descolorante e o papel alumínio.— Ela avisou, saindo do quarto.

Peguei uma cadeira de perto de uma escrivaninha e coloquei em um espaço que não tinha nenhuma roupa jogada nem nada estranho no chão e decidi tomar esse tempo para analisar melhor o espaço. Os pôsteres nas paredes laranjas se variavam entre Slipknot e Studio Ghibli, pelo menos eu e ela tínhamos algo em comum, o Studio Ghibli, não o Slipknot. Meus olhos rodearam o quarto até chegar em uma bancada com uma espécie de aquário e um axolote sorridente (ou algo próximo de sorridente) com os olhinhos minúsculos fixos em mim.

—Parece que o Ovis gosta de você.— Misuk disse, voltando para o quarto com o pó descolorante e um rolo de papel alumínio em mãos.

—Ovis?

—Meu axolote.— Ela foi até o aquário e parou na frente, não prestei atenção, mas deduzi que ela estava alimentando Ovis.

—Como você tem um axolote?

—Consegui autorização do governo e agora tenho o Ovis.— A garota saiu da frente do bichinho, que ainda olhava para mim. —É um fofo, não?

—Não sou muito chegado a anfíbios.

—Chato.— Ela fez beicinho.

Misuk ficou por cerca de dois minutos rodando o quarto de um lado para o outro antes de voltar para o lugar onde eu estava.

—Vou descolorir seu cabelo.— Alertou, separando mechas de seu cabelo. —Espero que esteja pronto para dar adeus a seu cabelo castanho.

—Por que você tem pó descolorante em casa?

—Você acha que meu cabelo é sempre castanho?— Ela ergueu uma sobrancelha, passando um pincel estranho em uma das minha mechas, senti meu couro cabeludo arder. —Eu só não fico o tempo inteiro com minhas mechas rosinhas por causa daquela cobra da diretora.

—Certo, imagino.

O pai de Misuk passou pela a porta do quarto, olhando fixamente para nós. Eu finalmente notei que o pai dela já parecia um idoso, como se ele e sua esposa parecessem ser velhos demais para ter uma filha da idade de Misuk. Fiquei com uma baita pulga atrás da orelha, meus lábios se separaram levemente, eu queria perguntar, mas decidi ficar quieto, deixando Misuk me transformar em um poodle.

Sweater WeatherOnde histórias criam vida. Descubra agora