Capítulo 22

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Oh Misuk.
Sexta-feira, 7 de junho.

Fazem pelo quase um mês desde que Sunghoon começou a me ajudar com minha mãe biológica, e nada de realmente interessante aconteceu nesse meio tempo. Quer dizer, as únicas informações que eu tinha dela eram: ela era coreana, seu sobrenome era Heo (Heo Misuk soa bem ridículo), que ela é viúva e que ela já trabalhou numa boate após me deixar no orfanato (cujo eu não consegui entrar porque estava com o uniforme do colégio).

Eu estava na cadeira giratória, encarando Ovis nadando em seu aquário, as vezes eu queria ser o Ovis, talvez ele não se importasse sobre quem é sua mãe biológica, ou talvez ele nem saiba o que isso significa. Suspirei, encostando minha testa no vidro gelado do aquário.

—Ovis, o que eu faço?

O axalote continuou movendo seus bracinhos rosados, nadando pelo o aquário enquanto eu pensava. De repente uma ideia pairou na minha cabeça, acendendo como uma lâmpada em meio a escuridão e então afastei o rosto do aquário.

—Isso! Eu posso fingir ser maior de idade pra entrar na boate, valeu Ovis.— Falei, empurrando a cadeira para longe com os pés. —Genial! Eu vou falar com o Sunghoon.

Certo, eu poderia muito bem fazer isso sozinha, mas ir para esse tipo de lugar sendo uma garota não era a melhor das ideias. Quer dizer, eu sou com certeza mais forte que Sunghoon, mas uma versão mais jovem e poodle patinador do Cha Eunwoo talvez despistasse algum pervertido. Isso, agora eu só precisava convencer Sunghoon, encontrar alguma roupa legal, me maquiar e dar um jeito de sair sem meus pais perceberem. Ainda eram sete da noite eu sabia que o bar não iria fechar tão cedo em uma noite de sexta-feira como aquela, então eu tinha um bom tempo pra fazer isso. Disquei o número de Sunghoon, esperando por alguns segundos até ele atender.

—Alô?— Ouvi a voz dele do outro lado da linha.

—Sunghoon, eu preciso de um favor gigante seu, você vai fazer alguma coisa importante essa noite?

—Acho que não.

—Ótimo, eu preciso de sua ajuda, é algo relacionado a minha mãe biológica.

—Bem, sou todo ouvidos.— Eu o ouvi sentando-se em uma cadeira.

—Então, minha mãe já trabalhou numa boate, mas quando eu fui tentar ir lá pra pegar informações, eles me barraram porque eu sou uma aluna do ensino médio.- Suspirei. -Então eu queria me passar por uma adulta e entrar lá, só que eu não posso fazer isso sozinha.

Sunghoon ficou em silêncio por cerca de três segundos.

—Você está dizendo que eu deveria ir pra uma boate com você nos passando por dois adultos?— Ele pareceu chocado.

—Bingo! Matou a charada.

—Não vou fazer isso.

—Sunghoon! Por favor! Por favorzinho com uma cereja por cima.

—Agh, odeio cereja.

—É sério, eu preciso disso! Você não quer que eu encha a sua galeria com fotos do Ovis de novo, né?

Eu acho que Sunghoon preferia não se lembrar desse dia, mas quem mandou se recusar a me ajudar a matar mais uma missa? Aliás, meu Ovis ficou lindo em todas as fotos.

—Certo, eu vou com você, mas com duas condições.— Ele fez um suspense.

—Fale! Eu quero ouvir.

—Certo, a primeira: que essa história de boate morra entre nós dois.— Ele fez uma pausa. —E a segunda: me recompense.

—Como?

—Sei lá, vou decidir.

—Tá bom, negócio fechado.— Falei, me levantando da cadeira. —Fale pra sua mãe que você vai me ajudar a estudar, me encontre na frente da sua escola daqui a quarenta minutos.

—Certo, estou desligando.

A chamada foi desligada e então eu fui até meu guarda-roupa, a procura de um vestido. Só tinha camisetas de academia, shorts e calças largas, meu suéter e camisas de brechó ou roubadas do meu pai. Eu não tinha ideia do que fazer, então fui tentando procurar no meio do meu armário. De repente, achei um vestido e uma peruca antiga que a minha mãe adotiva usava nos anos oitenta, quando ela era jovem. Ela adorava vestidos curtos e como ela tem um cabelo originalmente cacheado e não gostava muito dele, então usava uma peruca lisa, loira e longa. Era estranho, mas talvez me desse um ar mais adulto.

Peguei as coisas, indo direto ao banheiro me trocar e colocar a peruca na cabeça, torcendo para não pegar um piolho. Pensei em tentar procurar um tutoria de maquiagem, mas percebi que já tinha perdido muito tempo tentando fazer minha peruca ficar realista, então decidi tirar os meus óculos e fazer só o que eu sabia. Eu não costumava usar muita maquiagem porque meu colégio não permitia alunas maquiadas, não sei o porquê.

Com tudo isso, lá estava eu, loira do cabelo grande, com um vertido vermelho justo que ia até a metade das minhas coxas, maquiagem básica e muita fé que todo o meu plano maluco ia dar certo. Voltei ao quarto e tive que tirar o meu travesseiro tamanho real do John Cena do armário (não me pergunte o porquê de eu ter um John Cena travesseiro em tamanho real) e deita-lo na cama, cobrindo-o com meu lençol, perfeito.

—Mamãe, papai, eu tô com dor de cabeça, vou dormir.— Gritei de dentro do quarto.

—Boa noite filha.— Ouvi meu pai dizer.

Fácil, mamãe já devia estar dormindo aquela hora. Desliguei as luzes, peguei um par de saltos e saí pela a janela com os calçados na mão. Assim que eu cheguei no chão, eu coloquei os saltos nos pés e fui andando até a escola de Sunghoon de salto (péssima ideia).

Chegando no ponto de encontro, avistei Sunghoon, ele ainda estava parecendo um colegial, um mais rebelde, mas ainda parecia um colegial. Fui até ele, que usava uma camiseta preta, uma jaqueta jeans escura e calças de mesma cor. Seus cabelos bagunçados cobriam os olhos e ele continuava passando a mão na franja, tentado tirá-la de seu rosto. Assim que ele me viu, suas sobrancelhas se franziram, como se houvesse algo de muito errado comigo e talvez houvesse mesmo.

—O que diabos aconteceu com você?— Ele perguntou como se houvesse algo de muito errado na minha cara.

—Por que?

—Sei lá, talvez pelo o cabelo loiro, batom borrado e esse vestido que é claramente inapropriado pra uma garota de sua idade.— O Park cruzou os braços, mantendo uma expressão emburrada.

—Eu não pareço uma adulta?— Dei uma voltinha. —Você me daria quantos anos? Acho que uns vinte e um, né?

—Se eu dissesse exatamente o que você parece, você me bateria. Aliás, você parece uma criança brincando com as coisas da mãe, vem cá.— Ele bufou, se aproximando e passando o polegar em baixo de meus lábios antes de passar a mão na minha peruca. —Pronto, bem melhor.

—Ah, você tá preocupadinho comigo.

—Não tô! Só estou dizendo que seu plano não vai dar certo se você se vestir igual uma versão falsificada da Daphne de Scooby-Doo.— Sunghoon deu de ombros.

—A Daphne é ruiva, bundão.

—Tanto faz.— Ele revirou os olhos. —Só pede um Uber logo.

—Uber? Só tenho dinheiro pra voltarmos de metrô.— Cruzei os braços. —Vamos andando.

—Andando?

—É.— Fiz que sim com a cabeça.

Sunghoon suspirou, ele não parecia muito satisfeito.

—Deus me acuda.

Sweater WeatherOnde histórias criam vida. Descubra agora