Capítulo 16

301 44 21
                                    

Oh Misuk.
Quinta-feira, 9 de abril.

Comecei a devorar o bibimbap assim que mamãe deixou eu me servir, aparentemente eu tinha que dar preferência às visitas. Bufei e concordei silenciosamente enquanto esperava Sunghoon terminar de colocar sua poção minúscula da comida, o que me deixou confusa, como que alguém poderia comer tão pouco bibimbap? Eu dei de ombros, sobra mais para mim, coloquei uma poção considerável no meu prato e como dito antes, comecei a devorar meu bibimbap, pintar cabelos é um trabalho que dá fome. A minha mãe estava muito entretida em falar com a senhora Park, então não reclamou comigo, mas acho que Sunghoon decidiu assumir esse papel.

—Se você fosse Yeji, minha mãe já teria te pedido para comer como uma mocinha.— Ele sussurrou.

—Quem é Yeji?— Perguntei no mesmo tom que ele, que apenas bufou.

—Minha irmã, oras.— Park revirou os olhos, levando a comida até a boca e se calando para mastigar. —Você a conheceu.

—Ah, a menininha de óculos, me lembro dela.

—Mas o seu Sunghoon é um rapaz muito bonito.— Mamãe comentou, chamando a atenção de nós dois.

—Obrigado, senhora Oh.— Sunghoon agradeceu educadamente fazendo uma leve reverência.

—Ah, posso dizer o mesmo de sua Misuk, é uma menina adorável.— Senhora Park sorriu para mim. —Posso dizer que nossos filhos ficam bem juntos, até usam o mesmo suéter.

—Hein?— Nós dois indagamos em uníssono.

—É mesmo, tenho certeza de que eles dariam um ótimo casal.— Mamãe concordou.

Minha única reação foi segurar o riso, que ficava preso em minha garganta, olhei para os arredores, senhora Park e minha mãe pareciam sérias no que diziam, meu pai não disse uma palavra, apenas olhou para Sunghoon com a testa levemente franzida, ele por sua vez, ah o que falar de Sunghoon? Seu rosto pálido agora estava completamente vermelho como um pimentão, ou talvez mais vermelho que isso, os lábios dele se afastavam, como se ele quisesse dizer algo mas não reunisse coragem o suficiente para fazê-lo, ele olhava para mim de canto com um olhar apreensivo, até notar que eu também estava olhando para ele, o que fez com que seu olhar voltasse a direção da sua mãe.

—Eu não sei se Sunghoon iria me aguentar.— Comentei, tentando contornar a situação.

—Oh, mas você é uma menina tão doce! Eu adoraria tê-la como minha nora.— A senhora Park sorriu.

—É bobagem dela, eu tenho certeza de que eles dois são o par perfeito!— Mamãe disse.

—Ora, não falem assim, o rapaz já está ficando envergonhado.— Papai se pronunciou pela a primeira vez.

Sunghoon ficou mais vermelho ainda (se é que fosse possível). Eu apenas dei uma risada nervosa, disfarçando minha risada real, era estranho, até um pouco cômico pensar em nós dois como algum tipo de casal, era tão absurdo que era engraçado. Dei uma última olhada para Sunghoon, que suspirou colocando um pedaço de cenoura na boca e tomando um copo de água antes de olhar para mim de canto de olho com um olhar aparentemente um pouco cansado, eu respondi seu olhar com um sorriso de canto, eu estava pronta para zoar com a cara de tomate dele assim que eu pudesse.

(...)

Já se passava das oito da noite, eu e Sunghoon estávamos na TV da sala, vendo um programa sobre pessoas fazendo um monte de cupcakes, papai já tinha ido dormir e a senhora Park não parava de conversar com a minha mãe. Olhei no relógio do meu celular e notei que faltavam exatamente trinta minutos para o toque de recolher do meu colégio e que eu precisava estar lá assim que pudesse, mas não queria ir embora com as visitas em casa. Sunghoon parecia um pouco afobado também, batendo seus dedos finos contra o braço do sofá enquanto olhava para sua mãe discretamente algumas vezes antes de voltar seu olhar para os cupcakes.

O tema era batman, eu adoraria cair de boca naqueles cupcakes se eu não tivesse comido tanto bibimbap, os cupcakes estavam até me dando nojo.

—Mãe.— Sunghoon interrompeu nosso silêncio enquanto gesticulava para que sua mãe fosse até ele e ela o fez. —Podemos ir para casa? Estou com dor nas costas e preciso estudar.— Ele sussurrou.

—Mas eu ainda tenho muito o que tratar com a senhora Oh.— A mãe sussurrou de volta.

Essa era a minha deixa.

—Não se preocupe senhor Park, eu preciso voltar pra o colégio de qualquer jeito, posso ir andando com o Sunghoon.— Falei, sorrindo para a mulher.

—Oh sério? Obrigada querida.— Ela olhou para mim, sorrindo de forma mais simpática que o normal.

Ah, eu sabia bem o que isso significava.

—Suki, você já vai voltar pra a escola?

—Uh-huh, tenho aula amanhã.— Fiz que sim com a cabeça me levantando.

—Eu vou acompanhar ela, senhora Oh.— O garoto disse se levantando atrás de mim. —É perigoso para uma menina andar na rua a essas horas.

—Não para mim.— Dei uma piscadela.

—Ora Misuk, ele só está sendo cavalheiro.— Mamãe sorriu. —Boa noite para vocês.

Nos despedimos de nossas mães e saímos, descendo as escadas e passando pela lavanderia vazia antes de sair para a rua. Nós andamos um pouco e após ficar a alguns metros de casa eu finalmente me permiti dar risada, a que eu estava segurando já fazia um tempo, Sunghoon me olhava como se me achasse louca, e tinha certeza de que ele me achava.

—Você é louca.— Ele disse, confirmando minhas suspeitas.

—Sei disso.

—Tá, mas por que está rindo?

—Porque foi engraçado.— Dei de ombros, é claro que foi engraçado. —Nossas mães dizendo que nós faríamos um belo casal, sua cara toda vermelha, isso foi engraçado.

—Não achei graça.— Ele franziu o cenho.

—Ah Sunghoon, você tem que aprender a achar graça na vida.— Comecei a andar de costas na frente dele.

—Você vai se machucar assim.

—Quem liga?

—Você deveria ligar.

—Mas não vou!— Dei uma piscadela.

Sunghoon suspirou, apressando seus passos enquanto ia até mim e segurando meu pulso antes de me puxar mais perto para si. Meu sorriso automaticamente sumiu e passei a inclinar um pouco minha cabeça para olhar para sua expressão séria, já que ele era bem mais alto que eu. Seus dedos estavam firmes ao redor de meu pulso e ele tinha um olhar que fazia minhas bochechas esquentarem um pouco, com alguns fios do cabelo descolorido caindo por cima dos olhos.

—O que foi...— Comecei a falar, mas ele me interrompeu.

—Tome cuidado, você quer ser atropelada?

Sunghoon parecia até um pouco irritado em sua fala e sua expressão mostrava o mesmo. Ele cuidadosamente soltou meu pulso e nós continuamos a andar normalmente enquanto eu tentava me recompor. Nós não trocamos uma palavra pelo resto do caminho inteiro, até ele me deixar na porta da escola, murmurando um "tchau" e se virando sem ao menos esperar eu entrar. As vezes eu não sabia dizer se Sunghoon era um cavalheiro ou se ele era só um babaca.

Homem, tinha que ser homem.

Sweater WeatherOnde histórias criam vida. Descubra agora