Eu estou bem

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Raiva.

Raiva é o que sinto quando olho para ela.

Tanta raiva que não consegui ficar parado o dia todo. Não queria olhar para ela, mas me peguei várias vezes abaixando as tiras da persiana para espiar em direção a sua mesa.

Da primeira vez em que nos cruzamos ela desviou o olhar ao me desejar um bom dia. Eu poderia até pensar que ela estava envergonhada pelo que fizemos na festa, pela forma como se exibiu para mim, como me entregou sua calcinha antes de sentar no sofá e se masturbar para meu deleite, envergonhada por me provocar a noite toda e agora ter que me encarar no trabalho.

Seria melhor se fosse apenas isso: a insegurança de uma mulher sóbria depois de fazer uma besteira quando estava bêbada, sem saber como agir com o amigo e colega. Mas não era só isso, ela estava com medo. Com medo de me encarar. Com medo que eu soubesse quem ela realmente é. Com medo de que eu a tivesse visto dormir em minha cama, com medo de que tenha descoberto sua mentira.

Como eu deveria agir com ela depois da festa? Ser simpático e engraçado, com toda certeza, chamá-la para sair de verdade, ignorar por algumas horas que tenho uma identidade secreta e não deveria envolvê-la nos meus problemas, por mais que quisesse muito fazer isso. Como eu poderia fazer algo do tipo quando essa mesma mulher é Ladybug? Quando duas vezes ela usou a identidade para se enfiar na minha cama?

A tarde foi ainda pior. Um alerta de Akuma me fez correr até a janela novamente, para observar Marinette caminhando apressada para o banheiro. Sai pela janela da minha sala, escondido das vistas de todos pelas persianas fechadas. Ao menos como Ladybug ela parecia normal, não apreensiva, e mais focada do que o de costume, tanto que derrotar o akumatizado foi ridiculamente rápido, e ela logo se despediu.

- My Lady!

Segurei seu pulso para não deixá-la ir. Por algum motivo ela estar de máscara parecia deixar mais fácil encará-la. Como se a mentira fosse de Marinette, não de Ladybug, mas foi Ladybug em minha cama.

- O que foi?

Não havia nada que eu realmente quisesse falar com ela, nada que eu pudesse, mas continuei segurando seu pulso, tão fino entre meus dedos. Ladybug e Marinette, a mesma pessoa.

O que ela diria se soubesse que era eu? Que foi com Adrien que ela ficou na torre? Que foi com Chat Noir que ela passou a noite no quarto de Adrien?

- Chat?

- Nada. Nada, não.

- Tá tudo bem? Você parece meio distraído hoje.

- Problemas no trabalho, só isso.

- Eu tenho que ir, mas se quiser conversar mais tarde...

- Vai lá, também tenho que voltar ao trabalho.

Só que não voltei. Que os outros se perguntassem para onde eu fui, ou como sai da sala, porque Ladybug sabia que Chat Noir estaria no trabalho depois da luta.

A noite chegou quando eu ainda estava jogado na minha cama, encarando o teto. Repassei todos os momentos que passei com Marinette e Ladybug nas últimas semanas. Tudo que Marinette fez com Chat Noir, como se fosse algo comum entre amigos. O que Ladybug fez com Chat Noir quando me recusei a ficar com Marinette. O que Marinette fez com Adrien depois de não ficar com Chat Noir, e como Ladybug procurou Chat Noir antes, mandando mensagem pelo comunicador depois de sair da festa, só depois indo bater na janela de Adrien. E ainda tinha o vibrador, aquele brinquedo que ela deixa na bolsa e que causou toda essa confusão. Um vibrador que ela chama pelo meu nome.

Não sei em que momento pensei que a Mari pudesse realmente gostar de mim, mas era Chat, esse tempo todo, em quem ela estava interessada. Por algum motivo isso me deixou mais irritado.

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