Mais uma criatura atordoada pelo amor

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*Primeira Noite*

Point of view: Kornkamon

Lá fora fazia frio.

O outono estava em seu auge; via-se pela lâmpada dos postes, que iluminava as ruas vazias, a garoa caindo. Ventava bastante. As folhas secas das árvores passavam flutuando pelos ares. E, de acordo com o noticiário, aquela seria a noite mais fria daquela temporada.

2h15 AM.

Frio e tédio cumprimentavam-se.

No bar havia apenas dois homens bebendo suas cervejas, sentados no banco, com os braços apoiados no balcão de madeira rústica; eles debatiam suas banalidades, falavam sobre times de futebol e mulheres.

Ali, eu era apenas uma figurante, secando copos.

Era como uma noite qualquer, de um dia qualquer, onde nada grandioso aconteceria. Onde tudo que eu faria resumia-se em servir mais doses aos homens, secar alguns copos e ao final, ir para casa com as mãos cheirando à licor.

Apenas outra volta desse círculo vicioso chamado: Minha vida.

Não que fosse terrível trabalhar naquele boteco de aspecto rústico, que parecia ter sido tirado pelos braços da era Vitoriana e jogado nos anos dois mil, mas creio que para uma mulher da minha idade, não era o emprego dos sonhos.

Algum tempo depois, os dois homens ainda estavam lá, falando sobre futebol e mulheres. Eu estava sentada fazendo as contas para fechar o caixa. Já não garoava do lado de fora, ainda ventava.

3h25 AM.

Era uma noite qualquer, de um dia qualquer, onde nada grandioso aconteceria.

Foi o que pensei, pouco antes de alguém adentrar o bar, fazendo a porta empenada, emitir um rangido esganiçado. Estiquei o pescoço e por cima da registradora pude ver um rosto feminino de expressão séria se aproximando.

- Uma água tônica, por favor. – Pediu, gentilmente, a moça que acabara de entrar.

Assenti ao seu pedido, logo servindo-a.

Agradecendo com um aceno de cabeça e sorrindo gentilmente, logo voltou sua atenção ao smartphone preto em suas mãos. Permanecendo de pé, de frente para o balcão.

- Posso pagar uma bebida para a mocinha? – Um dos homens que ali estavam, o mais velho e careca, forçou uma voz sedutora para fazer aquela oferta.

Sua petulância roubou da moça um riso de lástima sem som, apenas lábios forçados.

- Não bebo. – Ela disse, declinando educadamente da tal oferta. E, após pegar sua água, foi se sentar em uma mesa isola, bem aos fundos, onde de sua bolsa de couro preto, tirou um livro e ali, sentada, começou a desfolha-lo.

As horas passaram com velocidade.

5h00 AM.

No bar, só restava a moça, que estava em sua quarta garrafa de água, e eu.

Corria por entre nós os sons da brisa lá de fora, misturadas as vozes baixas que vinham da TV. A decoração rústica e antiga daquele bar, sua pouca iluminação, seus diversos tons de marrom escuro, tudo ali, combinava perfeitamente – e de forma curiosa – com a criatura sentada aos fundos.

A invernia antecipava-se naquela noite. Ventava tanto lá fora, que janelas e paredes não estavam sendo suficientes para manter-nos aquecidas. O frio que fazia lá dentro, começara a incomodar-me, arrepiando meus pelos e fazendo meus músculos endurecerem.

Péssimo dia para estar sem casaco.

Levantando-me de minha cadeira de madeira, que fazia minha bunda doer, corri até a cafeteira e a coloquei para trabalhar. Não demorou muito para que o "plim!" soasse alto e agudo, anunciando que o café estava pronto.

The Last CoffeeOnde histórias criam vida. Descubra agora