Sorte.

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Point of view Samanun

O dia estava amanhecendo, despontando por entre as montanhas bem além e eu estava debruçada sobre o parapeito da sacada, recepcionando os primeiros raios de sol. Segurava uma xícara vazia com as duas mãos e me perdia em pensamentos. O céu estava inteiramente num azul claríssimo, ainda restavam algumas poucas estrelas no céu. Eu estava ansiosa. Kade, minha empresária, me daria a notícia sobre a aceitação ou não aceitação de meu livro naquela manhã; minha carreira estava prestes a ser alavancada e ao mesmo tempo, a ser avacalhada. Temia o pior, mas me esforçava para manter os pensamentos no modo positivo.

- Não vai dormir? - Nam, a amiga que havia chegado no dia anterior, para passar uma temporada em minha casa, após se divorciar, perguntou.

Olhei para ela, que vinha pela sala com os cabelos bagunçados, cara amassada e coçando os olhos, e ri daquilo.

- Mesmo se eu quisesse, não conseguiria. - Respondi. Ela parou ao meu lado e encostou sua cabeça no meu ombro, banhando meu braço com seus longos cabelos loiro-claros.

- Oi, eu sou a Nam!

Uma loira magricela chegou se apresentando e estendendo a mão para mim. Era meu primeiro ano naquele colégio, meu segundo dia de aula, eu estava só, sentada numa mesa, almoçando. Não esperava fazer amizades, nem queria. Gostava de estar sozinha, eu era sempre minha melhor companhia, mas quando vi os olhos brilhantes da tal moça e o sorriso receptivo, pensei: "Por que não?".

- Eu me chamo Samanun! - Apertei sua mão levemente e logo depois, ela se sentou ao meu lado.

- Você não é muito velhinha para estar no ensino médio não? - Indaguei ao notar que ela era muito mais velha. Ela riu.

- Eu não estudo aqui, eu trabalho aqui. Sou a secretária do diretor. - Respondeu ela, exibindo seu crachá. Como eu não tinha reparado nisso?

- Por que trabalha numa escola? Isso é suicídio! - Indaguei de forma cômica e rimos juntas.

- Estou terminando minha faculdade de direito e preciso de dinheiro, meus pais não podem custear a mensalidade toda. - Explicou ela.

Nós conversamos sobre tudo, rimos, fizemos piadas. Nesse mesmo dia, descobri que seríamos uma dupla e tanto.

Nam ainda tinha a cabeça encostada em meu ombro, seus cabelos exalavam cheiro adocicado de rosas, misturado com vinho e vodka. O porre que a garota havia tomado noite passada, conseguia ser pior do que eu havia tomado quando terminei com Nita. Compreendia a dor de Nam. Assim como eu, ela havia confiado em alguém; um rapaz de sorriso galante e a gentileza de um lorde. Pena que quando a máscara caiu, o príncipe virou sapo, a desconfiança se tornou concreta.

- Kade! Pare! Estou ficando sem ar! - Supliquei gargalhando, contorcendo-me no sofá, tentando me desvencilhar de suas mãos que me faziam cócegas.

- Implore! - A moça de belo rosto me desafiou sorridente. Suas unhas pontiagudas faziam força contra a pele de minhas costelas, eu já não tinha mais forças para rir, meu riso saia em quase gritos agudos, minha barriga estava dolorida.

- Oh, céus! Por favor, Kade! Pare! - Minha voz quase se perdeu entre as gargalhadas esbaforidas.

Minha amiga parou a sessão de tortura e sentou-se exausta ao meu lado. Enquanto eu tentava recuperar o ritmo correto de minha respiração, mentalmente eu agradecia aos anjos por terem me dado uma amiga como Kade, porém, meus pensamentos foram cortados pelo estridente som da campainha.

- Deve ser a pizza! - Comentou ela, já se prontificando para atender.

Novamente a campainha tornou a tocar e desesperadamente alguém apertava o botão por seguidas vezes.

The Last CoffeeOnde histórias criam vida. Descubra agora