Point of view Samanun
- Aonde está a Mon? - Jamie perguntou raivoso, olhando para dentro do meu apartamento, certamente procurando por algum vestígio de Mon.
- O que você quer com a minha esposa? - Questionei entredentes. Meus punhos estavam doloridos de tanto que eu os apertava. Minha vontade era de esmurrar aquele patife até que o rosto dele afundasse, mas eu não faria isso.
- Su-sua... esposa? - Gaguejou o homem, fitando-me com olhos arregalados.
- Sim, minha esposa. - Afirmei, estufando o peito. Meu maxilar fisgava tamanha força usada para aperta-lo.
- Como assim sua esposa? - O rapaz pareceu ainda mais furioso e inconformado. Tive vontade de rir pela cara que fizera ao receber a notícia.
- Nos casamos, oras. - Respondi como se fosse a coisa mais óbvia a se dizer.
- Ah, que ótimo! - Ironizou suspirando e rolando os olhos. - E onde ela está? Precisamos ter uma conversa.
Sem pedir licença, Jamie adentrou a minha casa como se fosse dele. Eu o encarei com incredulidade. Que diabos ele pensa que é para entrar na minha casa assim?
- Ela não está e, mesmo se estivesse, eu não permitiria que vocês tivessem essa conversa.
Ao me ouvir, o homem travou, girou lentamente os calcanhares e virou-se de frente para mim. Seus olhos raivosos se chocaram contra os meus.
- Escute aqui, Samanun. Mon está esperando um filho meu e eu exijo explicações. E você não tem que se meter nisso, não é da sua conta. - Jamie trovejou aquelas palavras, apontando o indicador para mim em tom de ameaça. Mal sabia ele que isso não me intimidava de maneira nenhuma.
- Claro que é da minha conta! Mon é MINHA esposa e mãe do MEU filho. Você não tem direito de estar aqui, dentro da MINHA casa e falar uma merda dessas. - Respondi no mesmo tom, dando ênfase ao que Mon e o bebê eram para mim.
- Você não sabe o que está dizendo, Samanun. E se eu fosse você, tomava muito cuidado.
Para me deixar mais nervosa, o desgraçado deu uma leve risada. À essa altura do campeonato, minhas veias já estavam saltadas e meus dedos já poderiam atravessar a minha mão pelo tanto que eu a apertava, mas eu ri. E ri com escárnio.
- Está me ameaçando, Jamie Dornan? - Indaguei em tom infernal. - Acho que você se esqueceu de como ficou seu rosto no nosso último encontro.
O homem tremeu por inteiro, mas não desceu do pódio.
- É só dessa forma que sabe resolver as coisas, senhorita? Não acha isso meio boçal não?
- E você, meu caro, não acha meio boçal entrar numa casa que não é a sua, sem pedir licença e ainda desafiar a moradora, que é visivelmente mais forte que você?
A guerra de olhares se iniciou entre nós dois.
- Você ainda vai se arrepender, Samanun... - Seu tom ameaçador me fez rir.
- É para eu ter medo? - Arqueei uma sobrancelha, soltando um quase riso carregado de desdém. - Por que, se for, isso não assusta nem um gato.
- Jamie, vá direto ao ponto, o que você quer? - Mon entrou falando, estava vermelha, a veia de sua testa estava saltando, os olhos dela estavam negros.
- Ué, Samanun? Você não disse que ela não estava em casa? - Jamei debochou.
Apenas olhei para Mon, e ela retribuiu o olhar, como quem diz "eu sei o que estou fazendo".
- Ficou com medo de que eu roube ela de você? - Ele acrescentou, roubando uma gargalhada alta de Mon.
- Você? - Ela apontou para ele, enquanto caminhava em minha direção. - Me roubar dela? - Ela tinha cenho franzido e voz fina. - Não me faça rir, Jamie.
- É a mais pura verdade. - Afirmou convencido. Mon tornou a rir.
- Você acha mesmo que eu iria ser tão idiota a ponto de largar o amor da minha vida, para ficar com uma merdinha como você?
A voz dela saía tão sarcástica, que até eu estava me assustando.
- Por favor, né? - Acrescentou revirando os olhos. - Vamos simplificar isso, Jamie. Eu estou grávida sim, mas o filho não é seu. Esse filho é meu e de Sam. Fruto do NOSSO amor. E você não tem NADA a ver com isso.
Mon estava praticamente gritando à essa altura e eu estava parada ao seu lado, pronta para esmurrar aquele patife.
- Agora faça o favor DE SUMIR DA MINHA CASA AGORA! - Ela berrou, apontando para porta.
Ao invés de intimidar-se, o homem a fitou dos pés à cabeça e sorriu escarnecendo.
- Eu vou, Mon. - Anunciou ainda sorrindo. Desgraçado! - Foi um prazer te rever, você continua linda.
- A porta é bem ali! - Mon insistiu, ainda mais raivosa e trêmula.
O homem se retirou, após ficar alguns segundos parado, nos olhando. Assim que fechei a porta e me virei, deparei-me com Mon sentada no sofá, derramando-se em prantos. Um choro silencioso e assustador. As lágrimas rolavam por seu rosto, enquanto ela permanecia estática, fitando o chão.
- Mon, o que foi? - Perguntei já avançando em sua direção. Agachei em sua frente, para olha-la. Me assustava como seu olhar estava perdido. - Mon?
Ela pareceu ter sido arrastada para fora daquele transe e, olhando para mim, tornou a derramar algumas lágrimas.
- Essa é a parte que você briga comigo... - Ela disse. Eu não entendi nada.
- Brigar contigo? Por que eu faria isso? - Perguntei. Do que ela estava falando?
- Sim, Samanun - ela se levantou. - Essa é a parte em que você fala que eu deveria ter dito a verdade, briga comigo e o caos se instala. - Falou sem me olhar, fitava diretamente o que acontecia do lado de fora da janela.
Por instantes, eu fiquei congelada, tentando entender do que Mon estava falando, e quando o entendimento se fez presente, meu coração apertou. Eu caminhei em passos lentos em sua direção, parei de frente para ela e beijei o topo de sua cabeça.
- Eu não vou brigar com você, Mon. - Falei baixinho, acariciando seus cabeços e olhando em seus olhos. - Você disse a verdade. Esse filho é nosso, fruto do nosso amor. - Acrescentei, pousando minha mão esquerda em seu ventre e movi meu polegar, acariciando aquela região.
- Quando eu penso que você não pode mais me surpreender, eu percebo que estou completamente enganada. - Ela disse sorrindo.
Não tardei em avançar em seus lábios, tomando-os para mim. Retribuindo o beijo, nossas bocas se moveram lentamente uma sobre a outra. Acho que amar é isso. Essa coisa louca de entrar na frente de uma debandada, apenas para proteger sua amada. Esse ato insano de entrar de baixo do mundo que desaba e o erguer. Acho que amar é essa coisa que poucos conhecem, de se doar, se entregar e acima de tudo, superar-se a cada dia, para em cada superação, encaixar ainda mais a pessoa em sua vida.
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The Last Coffee
RomanceEla era uma escritora no auge de seu fracasso, não vendia mais livros, nem escrevia mais poemas, ainda não havia aprendido o quão bela era a poesia de um coração em desordem. Enquanto isso, do outro lado de um balcão, esperando-a com mais um café qu...