Vai ficar só olhando?

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Música do capítulo é Prisioner - The Weeknd ft. Lana Del Rey

Point of view Samanun

Naquela noite, enquanto eu me perdia na melodia dos grilos e do balançar das folhas, no céu, mais uma vez o grandioso criador insistia em me roubar o fôlego com sua arte. Contrastando com a escuridão marfim, nuvens douradas anunciavam a chegada da lua. Aquela coloração totalmente contrária à negritude da noite escura, transformavam o céu em um espetáculo que poucos tinham a capacidade de contemplar. O sábado estava findando e a realidade estava ainda mais próxima, mas o mundo lá fora não parecia mais tão assustador.

- A noite está bonita, não é mesmo?

Sua voz me pegou completamente de surpresa, arrancando-me a força de meus pensamentos avulsos. Encostada ao batente da porta, estava Mon. Ela tinha os braços cruzados, mas não portava seriedade no rosto, pelo contrário, estava serena e um leve sorriso riscava seus lábios.

- A quanto tempo está aí? - Perguntei com o fio de voz que me restou após sua aparição. Mon sempre roubava meu fôlego.

- Tempo suficiente para decorar cada detalhe do seu rosto. - Ela falou sorrindo, seu olhar invadia minha alma e não era ruim, porém, jamais alguém havia me olhado assim alguma vez.

Mon se desencostou de onde estava e veio caminhando em minha direção. Mesmo tendo uma cadeira vazia ao meu lado, ela preferiu se confortar em meu colo e aconchegar-se em meus braços. Eu me sentia seu refúgio. Meus braços circundavam perfeitamente seu corpo pequeno. Um encaixe tão perfeito só poderia ter sido escrito desde o princípio dos tempos. No livro da vida, nossa história já devia estar escrita a milhões e milhões de anos, apenas esperando que a hora dos encontros viessem a acontecer. Nunca pensei que um café pudesse me trazer um amor.

- Amanhã já é domingo... - Murmurei. Minha mão acariciavam a pele de seu braço e a sua alisava a linha da gola de minha camiseta. Mon que tinha a cabeça repousada em meu ombro suspirou, mas nada disse, apenas se apertou em mim.

Point of view Kornkamon

Altura mediana, olhar irreverente, a fama de grosseira, mas a alma de uma criança indefesa. Essa era Samanun Anantrakul. O anjo que repousava tranquilo, o anjo pelos ferozes demônios de um passado tortuoso perseguido. Ainda me era alarmante sua doçura perante o amargo daquelas mágoas. Dentro daqueles olhos, eu via a imensa pureza de um coração cheio de bondade, mas, também via o medo a duelar com seus pensamentos. Ninguém poderia compreender aquela guerra, mas, por alguma razão, eu compreendia. E, o final daquela guerra, era o encontro dos nossos olhos, que quando acontecia, ela sorria e os fantasmas dissipavam-se. O final de semana estava chegando ao seu fim, a madrugada do domingo se arrastava, parecia ter emendado nas outras madrugadas. As horas passavam lentas e eu não sabia se desejava a velocidade ou o retardamento maior delas. Sam estava deitada ao meu lado, de bruços, toda enrolada na coberta que tampava sua nudez. Minha pele desnuda, era coberta pelo roupão felpudo de algodão. Meu corpo cheirava ao seu perfume. Seus beijos ainda aqueciam meu pescoço. Sua respiração quente ainda arrepiava meus pelos. Por mais uma noite eu havia sido amada por ela. E por mais uma noite, Sam havia me provado que eu não era tão mulher até passar por suas cautelosas mãos. Ela suspirou pesadamente e abriu seus olhos, remexendo-se lentamente na cama.

- Não vai dormir? - Perguntou ela, num fio de voz embargado pelo sono.

- Não consigo...

No ato, Sam abriu os braços e eu me acomodei neles, descansando minha cabeça em seu peito. Foi como ser abraçada por um anjo. Eu sentia o calor de suas asas me cercar.

- O que está te incomodando?

Ela depositou um beijo em meus cabelos após deixar aquela pergunta escapar por seus lábios. A inquietude das minhas pernas que balançavam na cama haviam a incomodado.

The Last CoffeeOnde histórias criam vida. Descubra agora