Point of view Mon
Há algumas noites o teto do meu quarto se tornava o lugar mais interessante de ser olhado, meu sono simplesmente se esvaia e uma maré de pensamentos se estendia. Os dias que deveriam ser de lágrimas e dor, estavam se transformando nos melhores dias da minha vida, e isso só estava acontecendo porque Samanun insistia em arrumar infinitas artimanhas para me fazer sorrir. Em todos os momentos que as lembranças insistiam em me ferir, ela simplesmente conseguia converter nos melhores risos minhas piores lágrimas. Mesmo estando em meio aos meus piores pesadelos, sem conseguir acordar, me angustiando e sentindo meu coração apertar, eu sabia que uma hora ela iria aparecer e aqueles olhos iam afugentar meus demônios, transformando meus pesadelos em sonhos doces. Eu não entendia o que tinha de tão especial naqueles olhos dela, ou na sua presença que me fazia sentir tão em paz e tão contente. Eu apenas queria sentir mais e mais vezes, e quando ela não estava por perto, eu sentia o vazio de sua ausência me angustiar. Sempre que ela não estava, faltava algo e eu procurava ela nas coisas ao meu redor. Por dias procurei Samanun nos poemas, nos meus cafés da manhã, na chuva, no sol, e o melhor é que de certo modo, eu sentia que ela estava lá. Sam havia se transformado num anjo, quando ela me abraçava, eu sentia como se estivesse protegida de baixo de duas asas. Quando estávamos juntas, eu sentia que nada de ruim poderia me atingir, pois ela espantaria todo mal. Eu não sabia como aquilo havia se iniciando, nem quando, muito menos porquê. Eu não fazia ideia de como aquilo havia se formado entre nós, nem fazia questão de descobrir. Eu apenas me sentia feliz por ela ter simplesmente caído de paraquedas na minha vida.
Era madrugada, eu não estava com sono, minha mente não me deixava dormir, nem havia amanhecido e eu já estava ansiosa por nosso encontro. Eu andava em passos lentos pelas ruas do meu bairro, afim de me cansar para conseguir dormir. Estava frio, o céu estava estrelado, as ruas estavam vazias e silenciosas. O sorriso dela brilhava forte na minha mente, seus olhos me observavam atentamente e sua risada se repetia em meus pensamentos. Abracei meu corpo com meus próprios braços assim que a brisa leve soprou em meu rosto e foi como se aquele vento suave tivesse trago como brinde o perfume da Sam. Puxei o máximo de ar que meus pulmões podiam comportar e tudo aquilo ainda não foi o suficiente. Expirei esvaziando meus pulmões e voltei a inspirar. Seu perfume me invadiu e me arrepiou por inteiro.
(...)
- Mon, o que vai fazer hoje? - Yuki perguntou. Estávamos no shopping, eu estava em busca de um presente para minha irmãzinha, pois no domingo comemoraríamos seu aniversário, e Yuki estava me ajudando. Eu pensei por instantes na resposta, até que me lembrei que tinha compromisso marcado para aquela noite.
- Eu irei assistir filme com a Sam, vamos pedir comida japonesa e jogar conversa fora. - Falei normalmente, tentando conter a animação que eu sentia involuntariamente só por saber que veria Sam. Nem fiz contato visual naquele momento, pois sabia que Yuki estava a me analisar de cima à baixo.
- Você e a Samanun andam bem juntinhas pelo que percebo. - Yuki comentou como quem não quer nada. Olhei rapidamente para ela, apenas para reparar em sua expressão, aparentemente estava tudo bem.
- Ela é um amor comigo, sempre tentando me fazer rir, sempre ouvindo meus dramas. Não sei como ela ainda me aguenta. - Ri mordendo lábio inferior.
- Também não sei como ela ainda te aguenta.
- Hey! - Exclamei fingindo indignação e Yuki gargalhou.
- Mas sério, acho que ela gosta de você. - Ela soltou aquilo repentinamente me fazendo engasgar com o ar.
- De onde tirou isso? - Perguntei em meio aos meus tossidos. Ela arqueou sobrancelha e me fitou com o cenho franzido.
- Pela sua reação, agora suspeito que você esteja gostando dela também.
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The Last Coffee
RomanceEla era uma escritora no auge de seu fracasso, não vendia mais livros, nem escrevia mais poemas, ainda não havia aprendido o quão bela era a poesia de um coração em desordem. Enquanto isso, do outro lado de um balcão, esperando-a com mais um café qu...