Point of view Kornkamon
Dá porta para a janela, dá janela para a porta. Esse era meu percurso naquela noite. Andando de um lado para o outro, os medos me dominavam e transformavam minha noite em um verdadeiro caos.
- Ela está assim há horas, Yuki - Sofia tentou sussurrar, mas não funcionou muito bem. Parei meus passos para fitar a garota e a mesma ergueu os braços em rendição, logo depois saiu do quarto e fechou a porta.
- Você viu a Samanun hoje? - Yuki perguntou, balancei a cabeça negando. - Vocês brigaram? - Balancei negando novamente. - Virou um camaleão que só balança a cabeça?
- Estou meio preocupada, Yuki... Meio não, muito.
- Por que? Ela não aceitou? - Minha amiga perguntou, eu ri, mas, meu sorriso não durou muito, pois a resposta de sua pergunta já estava formulada e era dolorosa de ser dita.
- Sim... Mas, até quando, Yuki? Eu estou grávida! G-r-á-v-i-d-a. Não é uma gripe. Não estarei curada na próxima semana. É uma criança. Um bebê que não é dela, que é do meu ex noivo, que me traiu. Até quando vai durar essa aceitação, Yuki? Até a barriga aparecer? Ou melhor, até meus hormônios ficarem loucos? Ou até o bebê nascer e ela se der conta de que vai criar um filho que parece com meu ex? - Àquela altura já chorava e berrava feito uma louca, e Yuki apenas me olhava com os olhos arregalados.
- Mon... Calma...
- NÃO TEM CALMA! - Berrei ainda mais alto. - Ela vai me deixar. Eu encontrei o amor da minha vida e vou perder. É simples. - Limpei minhas lágrimas e comecei a andar de um lado para o outro. O surto que eu tanto evitava, estava acontecendo e o estrago estava começando.
- Amiga, você tem que se acalmar. Nervosa desse jeito, você vai acabar passando mal. E outra, duvido que a Samanun vá te deixar. - Ela disse e eu gargalhei alto, debochando.
- Yuki, ninguém normal convive bem com isso. Essa aceitação não vai durar muito. Uma hora, ela vai abrir os olhos, vai me ver gorda, barriguda e vai pensar: "Que merda eu estou fazendo com a minha vida? Esse filho nem é meu". - Quando terminei, Yuki tinha os olhos ainda mais arregalados, quase saltando da cara. Ela estava pálida feito uma folha de papel branco.
- É isso que você acha que vou pensar, Kornkamon?
Aquela voz... Merda!
- Samanun... o que faz aqui...? - A pergunta vazou por meus lábios e quando a olhei, para meu maior susto e desespero, ela não estava só. Minha mãe estava ao seu lado, junto de meu pai e Sofia.
- Eu...acho que já vou! - Yuki se levantou rapidamente da cama e pegou sua bolsa. Quando vi, ela já estava passando pela porta, tentando não esbarrar nas criaturas de olhos grandes que me fitavam.
- Bom. - Meu pai pigarreou. - Acho que vocês precisam conversar. Estaremos lá em baixo para continuar essa conversa. - Ele deu um tapinha no ombro de Samanun e deu as costas, seguido por minha mãe e Sofia.
- Diz que você não ouviu tudo aquilo que eu disse...
- Eu ouvi sim, Mon. - Samanun falou séria e fechou a porta atrás de si. Aqueles olhos transpassaram minha alma e relaxando os ombros, ela deixou um sorriso escapar pelo canto de seus lábios. - Mas não vou brigar contigo, meu amor, eu estou com muitas saudades para brigar. - Ela apenas abriu os braços e eu me atirei naquele meio, sendo logo apertada por ela. Aqueles braços me cercavam como asas e protegida por elas, nenhum medo era capaz de me assustar.
- Eu não quero te perder... - Falei deixando as lágrimas escaparem por meus olhos. Sua mão tocou meu queixo e segurando ali, ela ergueu meu rosto. Olhando-a tão de perto, era possível perceber que não havia um defeito sequer naquele rosto. Cada risco que formava seus traços era extremamente milimétrico e bem pincelado. Seu nariz tão bem desenhado, tinha de quebra aquele piercing que a dava um ar ainda mais juvenil. Os tão cobiçados lábios rosados e aveludados e aqueles lindos olhos intensos. Não era trivial, nem banal a intensidade que aqueles olhos tinham.E para minha sorte, aquela preciosidade estava diante de mim, me observando até o respirar.
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The Last Coffee
RomanceEla era uma escritora no auge de seu fracasso, não vendia mais livros, nem escrevia mais poemas, ainda não havia aprendido o quão bela era a poesia de um coração em desordem. Enquanto isso, do outro lado de um balcão, esperando-a com mais um café qu...