Décimo quarto dia de viagem, sexta-feira, 14/07/17 - 19:59 PM

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Augusto se olhou no espelho e sorriu.

O reflexo lhe entregava de volta um menino contente.

Ele passou as mãos no cabelo — os cachos da frente pareciam mais claros do que de costume —, e brincou com uma mecha por alguns segundos até que ouviu uma voz atrás de si:

— Está lindo, meu filho.

Camila estava parada na porta o observando com um sorriso que atravessava todo seu rosto Além disso, ela tinha sombra marrom claro nos olhos e as mechas onduladas que desciam pelas laterais de sua pele e destacavam suas maçãs do rosto.

— Você também está linda, mãe.

Camila agradeceu e caminhou alguns passos para dentro do quarto.

— Está pronto para o jantar? — ela perguntou. — Gabi e Olavo já estão preparando a mesa.

Augusto se olhou mais uma vez no espelho.

— Acho que estou.

Pelo reflexo, viu sua mãe se aproximando de si e abraçando seus ombros. Ele já tinha quase o tamanho da mãe, mas ainda parecia uma mera criança perto dela. As mãos de Camila pousaram sobre os ombros dele com carinho.

— Como você está crescido.

— Sério? — disse Augusto. — Às vezes acho que sou o único do mundo que ainda continua uma criancinha.

— E qual o problema de ainda ser uma criancinha?

— Não sei.

— Então ainda seja uma — continuou Camila. — E quer saber? Aproveite, porque logo acaba.

Augusto suspirou.

— É fácil falar — resmungou. — Eu me sinto uma aberração.

— Não diga isso, filho.

— Você não acha que eu sou muito diferente de todo mundo?

Sua mãe olhou para o rosto do próprio filho pelo reflexo do espelho. Ela tirou uma mecha de cacho castanho amarelado da frente da testa dele, se inclinou e beijou sua cabeça.

— Acho.

Ele se espantou e, vendo sua reação, ela prosseguiu:

— Isso é um problema para você?

Ele confirmou com a cabeça.

— Desculpe, filho — disse ela —, não queria te chatear. Não acho que seja um problema ser muito diferente das pessoas, grande parte das pessoas não é exemplo de nada.

— Você acha?

— Quantas pessoas existem no mundo?

— Não sei — disse Augusto —, uns sete bilhões?

— E você acha que todas elas são exemplo de alguma coisa?

Augusto coçou a cabeça.

— Acredito que não.

— Então não se preocupe se você também não for. — disse Camila. — Você nem imagina quantas vezes fui chamada de esquisita em minha vida.

— Você? Mas você não é esquisita.

Ela riu.

— Eu aprendi a me encaixar — disse.

— Como assim?

— Bom — explicou —, os meus vinte anos foram anos bem difíceis, sabe? Tive você com vinte e três, e no meio disso, era uma rockeira anarquista que jurava que iria mudar o mundo.

Submarine-se, AugustoOnde histórias criam vida. Descubra agora