Última sessão, segunda-feira, 30/04/2018 - 18:56 PM

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Sentado na poltrona azul — como já havia feito tantas outras vezes —, Augusto aguardava sua psicóloga; balançava o pé para lá e para cá e observava a pequena sala com cuidado, despedindo-se do lugar.

A parede branca com dois quadros já não o incomodava mais fazia muito tempo. A proximidade entre as poltronas já não o deixava ansioso. Podia se dizer até que ele aguardava Fabiana com paciência — certamente muito maior do que na primeira vez que esteve ali.

As cortinas da sala estavam fechadas como de contrato silencioso e o relógio de mesa fazia barulho a cada segundo.

Tic tac, tic tac, tic tac.

O garoto piscou algumas vezes quando reparou as fortes lâmpadas pela última vez. Quando pisara pela primeira vez ali — havia quase um ano —, nunca pensou que um dia chegaria àquele momento.

Em meio ao seu devaneio silencioso sua psicóloga adentrou a sala. Ela segurava seu habitual caderninho preto e sorriu para ele ao se sentar. Fabiana se ajeitou na poltrona com certa elegância; seus cabelos castanhos amarrados no mesmo coque perfeito e seus óculos na ponta do nariz ainda a deixavam com uma aparência intimidadora; abriu o caderninho e puxou uma caneta do bolso de sua blusa social.

— Olá, Augusto, como vai? — disse ela, de maneira séria.

Ele não respondeu.

— Como você bem sabe, hoje é um dia bem importante — continuou, arrumando os óculos. — Preparado?

Augusto engoliu em seco e colocou as mãos entre as pernas. Apenas quando ouviu aquelas palavras percebeu que aquela seria, de fato, sua última consulta.

Num instante um flashback de tudo que aconteceu no ano anterior apareceu em sua mente. Ele respirou fundo enquanto as memórias passavam diante de seus olhos num último esforço e apertou as mãos uma contra a outra ao falar:

— Estou.

Submarine-se, AugustoOnde histórias criam vida. Descubra agora