Segundo dia de viagem, domingo, 02/07/17 - 08:17 AM

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Augusto acordou com vontade de ficar naquela cama para sempre, rolou para um lado, depois para o outro e chutou os lençóis para longe — coisa que julgou burrice depois de dois minutos, porque se viu obrigado a levantar por causa do frio.

Olhou pela janela e o dia parecia agradável, apesar de gelado. A grama havia amanhecido coberta de geada branca, e já era possível ver algumas vacas, ao longe, começando suas refeições matinais.

Ele arrastou os pés vestidos com as meias antiderrapantes que trouxera — agradeceu a si mesmo por isso — e suspirou, então coçou a palma da mão e se espreguiçou.

"HUMRFIPPIM" foi o barulho que fez com a boca.

Augusto achava que se espreguiçar sem fazer barulho não tinha graça alguma.

Logo, puxou sua camisa comprida que subira seu corpo para tapar sua barriga: um gesto involuntário que adquirira desde que começara a se sentir com pouca estima.

Buscou seu celular do criado mudo e o acendeu apenas para olhar as horas; decidira que não ficaria preso ao aparelho enquanto estivesse em viagem.

Arrastou-se para fora do quarto com preguiça, ainda tirando remelas dos olhos e desviando do próprio bafo matinal, detestava o fato de acordar parecendo um monstro do pântano — porque logicamente não havia vindo de um.

Quase tropeçara, ao sair pelo corredor, no longo tapete que cobria a sacada interna inteira, do seu quarto a outros que ainda não conhecia. Então, deslizara os pés pelas escadas com cuidado, teria que se acostumar a descê-las com frequência, e de preferência, sem cair nenhuma vez.

De repente, percebera que não lembrava mais que horas eram. Vira algo entre seis horas da manhã e duas da tarde na tela de seu aparelho celular, mas notando a distância entre os dois horários, se tocara que não fazia ideia alguma.

Enquanto descia a escada, ouviu a voz de Olavo lá embaixo.

— Gabrielle, me entrega a espátula!

— Ok, pai.

Augusto escutou com atenção os passos apressados da garota, que circulava com velocidade pelo móvel, provavelmente em busca do objeto. Ele quem ouvia parou na metade dum degrau, silencioso e curioso.

— Meu Deus! — gritou Olavo.

— Quieto! — censurou sua filha.

Coisa a que o velho respondeu "ok, ok", apenas.

Tomando coragem, Augusto retomou seus passos e finalmente desceu a escada. Enfim chegou à cozinha, ainda em silêncio e curioso.

Ao adentrar o móvel se deparou com Olavo e Gabrielle tirando mel de um grande frasco de vidro incrivelmente transparente.

— Ah, você já acordou, menino Guto! — disse Olavo.

Augusto fingiu normalidade e forçou um bocejou antes de conseguir responder; logo olhou para ele e disse da maneira mais natural que conseguiu:

— Sim, acho que estava ansioso pelos pães de mel.

Olavo riu de gargalhar, e Gabrielle soltou um risinho controlado.

— Mas é claro, meu rapaz! — falou o senhor. — Nós dois mesmo estamos aqui desde as seis da manhã.

Ele coçou a própria barba e postou o grande frasco transparente no topo da mesa, agora completamente vazio.

— Precisamos da farinha, meu anjo!

— Estou indo, estou indo — respondeu Gabrielle, agora deslizando pelo piso e não mais batendo suas pesadas botas pelo chão, talvez tivesse percebido a barulheira que havia feito.

Submarine-se, AugustoOnde histórias criam vida. Descubra agora