Antes da primeira sessão, sexta-feira, 28/04/2017 - 21:50 PM

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— De quem é essa festa mesmo, Hel? — falou Augusto.

— Eu já disse, Guto! É do namorado de uma irmã da amiga de uma amiga da aula de boxe! — respondeu ela, agitada, puxando o braço dele.

Augusto concordou com a cabeça, mesmo sem entender muita coisa, e eles continuaram andando apressados pelo corredor. Ao entrarem no elevador o garoto sentiu sua mão começar a ficar suada. Talvez estivesse ansioso por estar prestes a encontrar tanta gente; fazia muito tempo que não saía para uma típica noite de diversão adolescente.

Quando já estavam no andar correto e dava para escutar um princípio de música eletrônica, Augusto se sentiu um pouco inseguro.

E a sua insegurança parecia estar evidente, porque Helena não tirava os olhos dele.

— Vai ser divertido, ok? — falou ela.

Ele assentiu e então começou a olhar para todos os cantos, em busca de algum objeto familiar que o fizesse sentir menos deslocado. Velho hábito que adquirira havia muito tempo.

Certa vez, quando era mais novo, Augusto, seu avô e sua mãe foram passar o natal na casa de uma amiga do trabalho. Ele lembrava que por horas não conseguiu levantar-se da cadeirinha que a mãe o fizera sentar quando chegaram lá, por puro medo e ansiedade. Apenas quando ele começou a reparar nos enfeites natalinos conseguiu se sentir mais confortável. Porque ao olhar para os pisca-piscas da casa da Srta. Moura, Augusto percebeu que não estava tão longe assim, afinal as mesmas luzes coloridas que piscavam no lar daquela mulher desconhecida havia também em sua casa.

De volta para o presente, Augusto desistiu de procurar algum objeto familiar quando percebeu que estava sim longe de seu habitat natural; Helena desviou o olhar dele para tapar os ouvidos por uns instantes.

Haviam chegado à porta do apartamento e quase não conseguiram mais ouvir os próprios pensamentos.

A música absurdamente alta e o som de pessoas gritando não eram as únicas coisas que caracterizavam aquela festa: fumaça e luzes coloridas saíam por debaixo da porta de entrada.

Augusto chegou a se perguntar se aquilo não incomodava os vizinhos, mas aparentemente naquele prédio só havia um apartamento em uso. E era aquele.

— Ei, sei que essa não é sua praia, mas só fica comigo que vai dar tudo certo — disse Helena, sorrindo.

Augusto assentiu novamente; percebeu que assentia muito naquela noite. Era um pouco cansativo que precisasse ser cuidado o tempo todo, mas agradecia que ela estivesse cuidando do mesmo jeito.

De repente um garoto alto abriu a porta, deixando escapar alguns absurdos lá de dentro. Ele parou em frente à entrada com os braços cruzados; olhou Augusto de cima a baixo, torcendo os grandes lábios que tinha; mas ao reparar em Helena, ele riu.

Os dois se cumprimentaram e a garota deu uma conversada com o grandão. De alguma forma eles se conheciam, o que fez Augusto se perguntar o quanto ele realmente sabia a respeito de Helena.

Segundos depois ela virou para ele e acenou com a cabeça, indicando que já podiam entrar na festa. Augusto respirou fundo enquanto o garoto alto abria a porta com um leve empurrão. Helena estendeu a mão e ele segurou-a com força. Então ambos entraram.

A primeira coisa que viram ao adentrar àquele mundo de música alta foram dezenas de pessoas se beijando, encobertas em fumaça e luzes que piscavam colorido. Um grupo de garotas passou por Augusto e Helena rindo, e segurando garrafas de bebida. Elas estavam pintadas com tintas neon e uma delas segurava o salto alto na mão direita.

Submarine-se, AugustoOnde histórias criam vida. Descubra agora