Primeira sessão, segunda-feira, 06/06/2017 - 18:50 PM

76 18 5
                                    

Faltavam dez minutos para começar um dos momentos mais difíceis da vida de Augusto Martins.

Marcelo havia dito que a doutora Fabiana encontraria com ele exatamente às sete horas da noite, mas o garoto chegara ao Instituto com sua mãe — mais assustada do que ele — grudada em seu braço acompanhando seus passos apressados minutos antes, mais precisamente: trinta e cinco minutos antes. O prédio escuro de vários andares chamado Instituto Carmélio Pessoa o esperava imponente quando ele atravessou aos portões.

Durante a explicação de Marcelo, aprendeu que o lugar era uma espécie de clínica filantrópica e que fora fundada por um grande psicólogo psiquiatra, quem nomeava o local. Ainda ficou sabido que existia o instituto em muitas outras cidades do estado paranaense; o psicólogo educacional lhe disse que naquela sede eram ofertados cursos gratuitos de psicanálise, além dos atendimentos clínicos com profissionais voluntários. Aprendera todos os mínimos detalhes, a fim de ficar a par de tudo que estava acontecendo — e para explicar à sua mãe sem inventar ou mentir.

Para o outro psicólogo, a doutora Fabiana era uma das melhores, com um grande espírito: "você pode confiar nela, não são muitos os psicólogos condecorados e de prestígio que atendem gratuitamente, por vontade própria".

Na hora, Augusto assentiu com conforto, mas agora, quando pensava na mulher desconhecida para quem teria que compartilhar todos os seus segredos, não conseguia sentir confiança alguma.

Ele caminhou pelos corredores junto de sua mãe — ela não se soltara dele em momento algum, agia como um papagaio de pirata muito assustado, parecia preocupada simplesmente por estarem ali —, esperando que de alguma forma divina alguém soubesse exatamente quem ele era e o que estava fazendo ali sem que tivessem que contar.

Mas não aconteceu.

Quando chegaram a um balcão de madeira, que abrigava uma mulher jovem com os cabelos presos num rabo de cavalo, Augusto soube não tinha mais como voltar atrás.

— Boa noite. — A recepcionista manteve a postura firme enquanto lia a ficha do futuro paciente. — O psicólogo estudantil do seu colégio, Marcelo, te encaminhou para cá para começar um tratamento de psicoterapia, certo? — disse ela, respirando fundo.

Quem acenou em concordância fora a Sra. Martins. Ele estava nervoso demais para isso.

Sua mãe batia o pé contra o chão enquanto conversava com a recepcionista. Augusto, por sua vez, entrava num cadeia de pensamentos ruins, olhou para os lados e imaginou-se algemado àquela parede branca, sendo interrogado por um grande médico raivoso vestido de branco. Sentia que o amarrariam a uma maca fria, o levariam até um quarto escuro e o sentenciaram a loucura sem cura.

"Será que minha mãe está bem com tudo isso?", Augusto se perguntou, sentado na cadeirinha de madeira do corredor comprido enquanto segurava a mão dela com força; não sabia como tinha arranjado tanta coragem para contar a sua mãe sobre o tratamento.

Ela chorara durante toda a conversa.

Naquela noite surreal — mas que realmente acontecera —, precisou contar sobre suas ausências na escola, como não estava se sentindo bem fazia meses, a falta que sentia de seu avô, e, principalmente, de sua profunda solidão. Abriu seu coração como não fazia desde que Tim morrera anos atrás; aliviou-se, mas se sentiu vulnerável demais mesmo perto de sua própria mãe.

Sua mãe ouvira tudo com aperto. Sentada sobre o tapete da sala, encostada ao sofá, naquela madrugada de fim de semana, ela chorara de preocupação e surpresa. As mangas de seu pijama preferido estavam todas molhadas quando ela apertou o filho com força. A rotina impedira que ela percebesse os problemas do seu menino; culpava-se por todas as tristezas que Augusto enfrentava. Mas conversaram por horas, até se acalmarem por completo; o mundo em completa escuridão e os Martins tentando acender uma chama apagada havia tempo. Augusto lhe contou sobre a conversa com Marcelo, disse sobre o tratamento; ela concordou de imediato.

Submarine-se, AugustoOnde histórias criam vida. Descubra agora