Terceiro dia de viagem, segunda-feira, 03/07/17 - 11:08 AM

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Naquela manhã de segunda-feira na qual os animais da fazenda amanheceram mascando grama e ciscando o chão como todos os outros dias, pois não tinham consciência de tempo e rotina, Augusto acordou com Gabrielle puxando seu pé para fora da cama. Ela pulou de empolgação ao exclamar que precisavam se arrumar logo de uma vez, e saiu do quarto com a mesma animação. Depois do dia anterior, a garota parecia muito mais animada e confortável com seu novo amigo.

Ela havia dito quando ele chegara ali que tinha de ensiná-lo a pescar. E pensara que nada melhor para isso do que o fim da manhã fresca e o começo da tarde quente da segunda-feira chata que os dava bom dia. Assim que o garoto deu sinal de estar completamente desperto, Gabrielle voltou e avisou que iria arrumar o que precisavam para partirem logo para o rio, e, antes de sair apressada novamente, o instruiu a comer alguma coisa enquanto ela fazia os preparos, pois a tarde seria longa.

Augusto se aprontou ainda bocejando, demorando alguns longos segundos para vestir shorts jeans gastos — se recusava a sujar alguma de suas calças bonitas com lama escura —, e saiu de seu quarto temporário procurando comida.

Adiante em momentos, sentado à mesa da cozinha, comia um pedaço de torrada com doce de leite, uma de suas combinações favoritas, ferozmente. Fazia bastante tempo que não tomava um café da manhã constituinte de alguma coisa além de um copo de leite com achocolatado.

Estava tudo uma delícia.

Enquanto ele mordia o último pedaço do pão, Gabrielle entrou na cozinha vestindo um chapéu de pescador, portando uma vara de pesca proporcional para seu tamanho e mais uma caixa de plástico. Aquele que comia não fazia ideia de que existiam varas de pesca infantis.

— Oi, Gabi.

— Olá — respondeu ela —, ajuda aqui!

Como a pessoa educada que sua mãe lhe ensinou a ser, Augusto se levantou, dirigiu-se até a garota, segurou a caixa de plástico para ela e então a colocou no balcão, ao seu lado, com calma. Durante o processo examinou o caixote: se assemelhava a uma caixa térmica para colocar bebidas. Mas dentro só havia um saco de iscas fedidas e outras coisas que ele não entendia muito bem.

— Nós vamos sozinhos? — perguntou.

— Agradeça que sim — disse Gabrielle. — Papai fica muito chato pescando.

Ele sorriu em concordância, mas não deixou de estranhar a situação.

— E não é perigoso irmos sozinhos? — disse.

Gabrielle o encarou, genuinamente confusa, sem saber se Augusto estava realmente falando sério.

— Bem que sua mãe disse que você nunca sai de casa. — Meneou a cabeça e sorriu de orelha a orelha com a própria piada.

Ele virou o rosto, envergonhado.

Ao saírem porta afora deram de cara com um sol alto, mas não quente, e ventos demasiadamente frescos. Enquanto caminhava, Augusto apertou os próprios braços para espantar ao frio. Ao longe, era possível ver árvores singelas balançando veementemente, o que causava a expulsão de alguns pássaros, que saíam voando pelo céu numa explosão divertida de se assistir.

Olavo e Camila estavam sentados à mesa, mas dessa vez não sorriam alegres e calmos como nos dois dias anteriores — pareciam concentrados no trabalho que vinha pela frente. O filho da arquiteta constantemente esquecia que para sua mãe aquela viagem não significava somente lazer. Gostaria que ela fosse com eles pescar, na verdade, gostaria que todos fossem. Mas sempre precisava se lembrar de que a vida não funcionava assim para os adultos.

Gabrielle deu adeus ao seu pai e Augusto deu adeus à sua mãe, então os dois inverteram até cada um ter dado pelo menos alguns "adeuses" a mais. Após, partiram ao galpão de máquinas, ferramentas e rações para os animais em busca das bicicletas usadas no dia anterior.

Submarine-se, AugustoOnde histórias criam vida. Descubra agora