Antes da primeira sessão, sexta-feira, 19/05/2017 - 10:39 AM

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Augusto aguardava do lado de fora da salinha com o estômago revirado. Suas mãos sobre suas pernas não paravam quietas. Esporadicamente apertava os dedos contra a barriga, tentando controlar o próprio desconforto, mas em vão. Nada parecia fazer com que seu estômago se comportasse de maneira minimamente razoável. Ficou feliz que dali ninguém poderia ouvir os sons estranhos que seu corpo produzia. Estava sentado relativamente longe de toda a gritaria de um colégio convencional; quase dois corredores inteiros de distância dos outros alunos que definitivamente iriam julgá-lo por estar ao da sala do psicólogo do colégio.

Mas agora não havia como fugir — não quando fora chamado ali pelo próprio dono do local —, então apenas continuou tentando respirar fundo e não gorfar todo o café da manhã que havia comido minutos atrás.

Quando ouvira seu nome sendo dito pela assistente, ficara completamente perdido. Augusto intitulava-se o tipo de aluno que passava despercebido até mesmo pelas pessoas que trabalhavam na gestão do instituto.

— Augusto Martins? — disse a mulher baixinha cutucando suas costas.

Ele virou para trás assustado.

A assistente sorriu embaraçada, como se não tivesse certeza de estar falando com o aluno certo. O sorriso dela só se desfez quando Augusto assentiu com a cabeça; seu rosto relaxou e ela leu o papel que segurava em uma das mãos mais uma vez.

— O Marcelo gostaria de vê-lo. — Ela parecia tão desconfortável quanto quem estava em sua frente.

A boca de Augusto se contorceu involuntariamente. E ao notar que o garoto parecia não fazer ideia do que estava falando, ela completou:

— O psicólogo; ele estará te esperando na sala dele. — Novamente a mulher consultou o papel em suas mãos. — Você sabe onde é, não é?

Ele acenou com a cabeça em resposta, mas antes que pudesse perguntar sobre o que se tratava, ela já havia partido.

Minutos mais tarde lá estava Augusto, esperando do lado de fora da salinha. Com o corpo encolhido e o estômago ainda em apuros, olhava assustado aos arredores: a alguns metros de distância outras portas levavam para salas que os alunos nunca iam, nem podiam ir. O que o fez perguntar-se por que colocar um dos lugares mais desconfortáveis para se estar em um espaço desconhecido.

"O ponto de um psicólogo para os alunos não é fazer com que se sintam mais a vontade?", imaginou.

Bufou para o próprio pensamento. Seu estômago havia parado de se revirar, mas isso não o deixara mais calmo. Sentiu algumas gotas de suor brotarem da própria testa e deslizarem até suas sobrancelhas; ele as limpou com a manga da camiseta.

A espera demorou tanto que o antebraço de Augusto já estava molhado devido ao tanto de vezes que havia enxugado a própria testa; dezenas de pessoas já haviam passado por ele; todas o olharam como se fosse algum tipo de delinquente.

Era estranho entrar em uma área do próprio colégio que não conhecia. Sentia que por mais que frequentasse aquele ambiente fazia quase dois anos, ainda assim era um completo desconhecido — e talvez de fato fosse.

Para alguém da gestão e administração de uma instituição de ensino médio os alunos são apenas nomes que desaparecem depois de três anos. Novamente Augusto perguntou-se por que colocar uma sala voltada ao aluno em um lugar onde claramente o mesmo não era bem vindo. Ele apertou os punhos com certa impaciência, numa tentativa falha de relativizar o misto de sensações que subiam seu corpo.

Ele respirou fundo uma.

Uma senhora passou segurando uma pasta em uma das mãos, batendo o tamanco contra o chão. Ela tinha o cabelo preso em um coque e andava mancando. Atrás dela, um homem vestindo uma camiseta social branca apareceu atravessando a porta do corredor.

Submarine-se, AugustoOnde histórias criam vida. Descubra agora