Antes da primeira sessão, sábado, 29/04/2017 - 04:41 AM

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Quando percebeu, Augusto se encontrava em uma sala branca. Bem, não poderia logicamente ser chamada de sala, já que não havia nenhum sinal dum fim. Canto algum ou horizonte podia ser visto da onde o garoto jazia. Ele vestia roupas largas e um grande casaco de pele animal sobre os ombros; em seus pés, nada havia — descalços.

Augusto estava parado, de pé, em um ambiente completamente branco e vazio, com roupas desconhecidas e molambentas.

O garoto piscou algumas vezes quando se deu conta da própria presença naquele lugar estranho. Não fazia a menor ideia de como havia ido parar ali e muito menos do que se tratava aquele ambiente claro.

Ele olhou para os lados repetidas vezes e, então, andou alguns passos largos e apressados, procurando algum sentido naquela situação. Suas roupas largas e seu casaco grosso pesaram contra seu corpo quando seus passos começaram a aumentar de velocidade. Gotas de suor começaram a cair da sua testa e sua respiração ficou ofegante à medida que seus passos se transformaram em uma corrida pelo lugar.

Ele correu por mais tempo que pôde aguentar.

A sensação era de que nunca saía do lugar; sentia-se como se estivesse preso por correntes invisíveis que o impediam de se locomover.

Seus passos logo haviam se tornado vãos e sem significado. Num ímpeto de desespero, Augusto começou a chamar por nomes.

— Mãe?! — gritou.

O brado que brotara do fundo de sua garganta repercutiu pelas paredes, ou pela falta delas, mas sequer respostas ou ecos voltaram para seu lugar de origem. Ele repetiu o chamado mais algumas vezes, mas todos obtiveram o mesmo fim.

Quando a sensação de medo súbito reapareceu à mente de Augusto, ele já havia chamado por sua mãe mais vezes do que podia contar.

O garoto retomou novamente a caminhada pelo espaço branco em busca de qualquer coisa que respondesse a dezena de perguntas que tinham se formado em sua cabeça. Seus pés pisavam com força no chão branco e ele sentia frio subir por todo seu corpo a cada novo passo que dava. Era como se Augusto precisasse tirar o pé com rapidez do chão para que aquele frio não dominasse seu corpo.

A corrida, que dessa vez durou menos tempo, continuou sem sucesso. O grande espaço vazio mantinha sua vitória sobre a percepção de Augusto.

Logo, começou a chamar por outro nome.

— Helena? Sério, tem alguém aí? — falou o garoto, à mercê do vazio.

Obviamente nenhuma resposta aconteceu.

Suas roupas molambentas já estavam encharcadas de suor quando ele desistiu de andar pela segunda vez.

Augusto, então, abaixou-se, colocando as mãos sobre os joelhos; tentou recuperar o ar que havia perdido respirando com mais força; deixou-o entrar pelas narinas e percorrer por todo seu corpo, este que já havia começado a doer devido ao esforço repetitivo. Quando ergueu a cabeça, Augusto tentou mais uma vez.

— Alguém, por favor? — falou com a voz trêmula. — Henrique?

E, desta vez, algo aconteceu.

Ao levantar o corpo e olhar ao redor, encontrou uma figura masculina e juvenil parada, de costas, a alguns passos de distância.

Era de fato Henrique.

Ele sentiu uma sensação de alívio e seus lábios se comprimiram num sorriso ao ver o amigo. Deu um passo em direção à figura familiar, depois outro e outro; em menos de uma dezena de segundos já estava parado em frente àquela silhueta de costas.

Submarine-se, AugustoOnde histórias criam vida. Descubra agora