Capítulo 32 - Maria Cecília

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Eu estava muito preocupada com Alan e com o que ele estava fazendo, mostrando um lado que, apesar de tudo, eu não esperava e ao mesmo tempo trazendo a tona um lado meu que eu não conhecia.

Ainda assim, saber que meu irmão estava vivo me deixou aliviada, não que no momento eu estava preocupada com o bem-estar dele, mas caso morresse, perderíamos uma testemunha importante, no fundo eu ainda tinha esperança de levar isso a um tribunal.

- Primeira-dama.

O grito vindo de fora, ecoou pelas paredes da cozinha onde eu buscava notícias sobre o que estava acontecendo, o morro não estava silencioso, ouvia estalos de moto, carro buzinando, gritos, vozes altas.

- Primeira-dama.

No Facebook era onde estava a maior parte dos vídeos, havia focos de incêndio e confronto com a polícia por todo o centro e perto até perto do morro. Agatha desceu com a perna quebrada, ouvi ela na escada e me apressei em encontra-la, Agatha deu de ombros e se espantou ao me ver na cozinha.

- Você não vai atender?

- Do que está falando?

- Primeira-dama, é como te chamam aqui. Sabe, você é de família política e está namorando meu irmão, as pessoas te deram um apelido.

- Isso não faz sentido algum.

- Eu acho que faz – Agatha abriu a porta e berrou – já vai – depois se virou para mim com a expressão séria – é a mãe da Thuany.

Um arrepio passou pela minha espinha, me levantei assustada e arrumei a roupa, uma camisa do Alan por cima de um short curto que Agatha me emprestou, não estava apresentável, mas eu tinha que atender.

- Só para que fique registrado, eu não gostei do apelido.

- Desculpa, já pegou.

Abri a porta e já conseguia ver Iara me esperando lá embaixo, desci as escadas correndo e abri o portão, só então percebi que ela não estava sozinha, havia um pequeno grupo de mulheres com ela, dez ou quinze talvez.

- Posso ajudar?

- A gente veio aqui atrás de instruções.

- Instruções? Por quê?

Iara deu um passo mais perto de mim, seus olhos estavam decididos.

- Nossos jovens estão lá embaixo, lutando contra aqueles monstros ou criando distração com a polícia, a gente não pode descer, mas queremos ajudar com o que você estiver fazendo.

Eu não estava fazendo nada, mais pais chegavam aos poucos, esperando me ouvir. Eu não podia entrar em pânico, eu havia me tornado a namorada de Morado, ganhei voz, espaço e um apelido embaraçoso, mesmo que eu não tivesse conhecimento de nada disso. Eu devia para aquelas pessoas.

- Está bem, primeiro, o mundo tem que saber o que está acontecendo aqui, repostem os vídeos dos que estão lá embaixo usando a hashtag das eleições, marquem políticos importantes, vamos fazer as postagens se espalharem. Não deixem que nos abafem – respirei fundo, minha garganta já doendo de gritar – avisem os que conhecem para que não levem os feridos para o hospital central, todos devem vir pro hospital de campanha, caso contrário podem ser interrogados pela polícia.

- Primeira-dama? E quem não usa redes sociais?

Um senhor mais velho que os outros gritou de onde estava.

- Quem puder vai descer ao hospital de campanha comigo, vamos ajudar com o que pudermos para aliviar a equipe do hospital.

Eles concordaram e começaram a se mover, alguns pegando o celular, outros correndo para se preparar, a noite estava alta, olhando lá de cima dava para ver focos de fumaça que se estendiam, aquele era o morro ganhando o asfalto, abrindo espaço. Assustador e lindo.

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