Maria Cecilia não sabia nada sobre o Natal na periferia, ela colocou um peru no forno para três pessoas, fez farofa com maça e abacaxi que por si só já era bem estranho. Cheguei em casa depois de separar a caixinha de Natal dos caras do cartel, uma quantia generosa depois do ano difícil. Ela e Agatha estavam em frente da tv com uma musiquinha irritante tentando imitar a coreografia de Meninas Malvadas.
- Vocês estão tão fofas de touquinha vermelha.
- E você? Não vai vestir nada temático? – Ceci parecia adorar o Nata, nossa casa parecia uma loja de acumuladores, tudo vermelho e brancos com pompons dourados, e como se não bastasse a árvore que bloqueava o corredor da escada, ela ainda montou uma pequena sobre a mesa da cozinha.
Abri a geladeira e peguei uma cerveja.
- Por que não troca a cerveja por vinho?
- Isso é só um esquenta, já estão prontas?
- É, Agatha disse que não vamos comer e trocar presentes na sala.
- Eu não tenho sala.
- Você me entendeu. Mas tudo bem, eu posso lidar, baile e depois voltamos e comemos o peru.
Senti a piada de mau gosto queimar junto ao meu suco gástrico e subir pela minha garganta, abri a boca pronto para dizer qualquer coisa com peru, mas Ceci tampou minha boca com a mão.
- Não, hoje não.
- Ela foi mais rápida. E não liga, Ceci. A gente vai lá balançar a raba igual ao sininho de Natal.
Agatha empinou e tremeu a bunda como se fosse muito adulta.
- Hei, você vai ficar bem perto de mim, vocês duas.
- Eu vou adorar ficar bem pertinho de você – Ceci me abraçou pela cintura, oferecendo os lábios para um beijo, ela estava bem soltinha e quando toquei a língua percebi que já tinha tomado um pouco de vinho.
- Eu vou trocar de roupa.
- Usa uma camisa branca.
- Mas que eu comprei é azul, da Lacoste. Você tava comigo.
- Você usa ela outro dia, eu estou de vermelho, se você usar azul não vai combinar.
- Ceci não entende nossa cultura de roupa nova no Natal.
- Porque ela usa roupa nova em todo baile.
- Vocês falam como se eu não estivesse aqui, mas em minha defesa, eu não precisaria de roupa nova em todo baile se a Agatha parasse de esticar meus shorts.
- A culpa não é minha que você não tenha bunda.
Ceci fez um biquinho lindo e totalmente falso, puxei ela para mim e dei um beijo em sua testa.
- Não liga, amor. Eu amo sua falta de bunda.
Gostaria de dizer que valeu a pena, mas me arrependi quando ela acertou um tapa ardido no meu ombro em cima da tatuagem recém feita.
- Bem feito.
- Que cruel. Tá eu coloco uma camiseta branca.
- Vou com você.
Ela subiu me empurrando, animadinha demais para ser só uma troca de camisa, eu já estava começando a me animar também. Ceci entrou no quarto atrás de mim e fechou a porta, assim que se virou joguei um pacote para ela.
- Feliz Natal. Pode usar enquanto – me sentei na cama se pernas abertas, pronto para recer ela.
Ceci abriu devagar e abriu o maior sorriso ao ver a lente clara espelhada, no sol, não adiantaria nada, mas era lindo.
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Meninas do Morro
RomantizmQuando adolescentes começam a desaparecer no maior baile funk de São Paulo, o dono do morro Morado e a assistente social Maria Cecília, começam a trabalhar juntos para descobrir o que houve com elas.