- Me explica mais uma vez, por que eu estou vestindo isso? – fiz um gesto abrangendo todo o tronco.
- Nunca vi meu pai usando algo menos que terno para sair aos finais de semana e quando encontrei Hugo mais cedo ele parecia vestir o mesmo de ontem e era terno.
- Claro que não havia trocado de roupa, foi o último a sair, eram cinco da manhã.
- É aqui.
Eu já havia reconhecido o lugar, virei o carro e entrei na abertura de estacionamento subterrâneo, ao meu lado, Ceci estremeceu, ela vestia um vestido justo e curto, repleto de brilho e havia retocado a raiz do cabelo, deixando-os totalmente escuros, eu a teria admirado se não fosse a delicadeza da nossa missão.
Fomos bloqueados por uma cancela, um segurança falou no rádio e se aproximou do meu vidro, abaixei lentamente e o encarando seriamente, entreguei o cartão que Cecília tinha me dado.
- 2609.
O segurança pegou o cartão e se afastou, falou no rádio e esperou resposta, depois voltou sem a menor pressa.
- Senhor, pode me dizer novamente a sua senha?
- 1403 – Ceci respondeu no meu lugar.
Novamente ele se afastou, um minuto depois a cancela se levantou, ele veio com uma chave presa a uma plaquinha de número 18 e ofereceu um pequeno cesto de plástico onde colocamos nossos celulares.
O fiz com receio, quando ele liberou, acelerei, dando voltar no estacionamento, localizei a saída coloquei o carro em uma posição fácil de sair caso precisasse fugir.
Ceci entendeu e deu um sorriso com os lábios apertados antes de descer.
- Não devia usar saltos tão altos.
- Não era uma opção.
- A senha que você usou, tem algum significado?
- Meu aniversário, no começo achei que fosse o do meu pai. Não pensei que ele seria tão baixo.
O terno que ela me fez usar ficava apertado, nas coxas, nos braços, no tronco, de modo que apenas dois botões estavam fechados, ofereci o braço a ela e Ceci sorriu enquanto nos dirigíamos a um elevador.
- Poderia ser um jantar – ela disse baixo.
- Um dia.
A porta do elevador abriu, havia uma ascensorista exageradamente maquiada e muito bonita sorriu.
- Primeira visita?
- Sim.
- Sugiro começar pelo bar.
Ela apertou o botão de primeiro andar, não demorou muito até chegarmos, apoiei a mão nas costas da Ceci e ela seguiu na frente, havia algumas pessoas em torno do balcão com copos cheios e ternos chiques, mais a frente um sofá de formado sugestivo vermelho também abrigava clientes, nada fora do comum.
- Não é o que estamos procurando.
Coloquei a mão sobre a arma presa em minha cintura apenas para ter certeza de que estava ali enquanto a guiava para o bar. Cecília pediu por nós enquanto eu olhava o ambiente, o lugar exalava a sexo, a energia luxuriosa entrava em poros, ainda que nenhuma daquelas pessoas, além das atendentes fossem realmente interessantes.
- Conhece alguma dessas pessoas? – não sei porque mas esperava que não.
- Não, mas não posso dizer com certeza, tá todo mundo olhando para mim.
- Quem não olharia para você?
- O que fazemos? – Cecília se aproximou de mim, falando em meu ouvido.
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Meninas do Morro
RomantizmQuando adolescentes começam a desaparecer no maior baile funk de São Paulo, o dono do morro Morado e a assistente social Maria Cecília, começam a trabalhar juntos para descobrir o que houve com elas.