Maria Cecília não era como as mulheres no morro, era decidida e confiante, mas no lugar de marra e malícia, ela tinha classe. Tem algo instigante em beijar uma moça de família, elas eram mais safadas que o normal, mesmo que tenha dito que não concordava com o beijo, enquanto minha língua dançava na sua boca, Maria Cecília devolvia sem hesitar.
- Vou te chamar de minha gostosa daqui em diante, sempre me atenda.
- Não vou responder a isso, se quer me dar um apelido, me chame de Ceci.
Eu ri com sinceridade.
- Sério? Quer que eu, um cara desse tamanho, e olha que nem estou falando da minha profissão, chame você de Ceci?
- Não sei porque acha tanta graça, as pessoas precisam confiar em mim e para isso, tenho que ser levada a sério. Eu não levaria a sério uma mulher que atendesse 'por "minha gostosa" de bandido.
- Toma cuidado com o que você diz, garota. Minha paciência é curta.
- E como devo te chamar?
Eu me aproximei novamente, segurei seu queixo, ainda que ela tenha levantado o rosto por conta própria.
- Me chame de dono, amo, senhor, mestre, chefe.
Ela desviou o olhar segurando o riso, seu perfume cítrico invadiu minhas narinas como uma droga, me inclinei a fim de sentir mais de perto e ela disfarçou, indo até a pia, pegando um copo do escorredor e enchendo um copo d'agua.
- A filha do governador toma água da torneira? – perguntei em tom de provocação.
- Tem coisas sobre mim que você nem sonha e isso – ela apontou de mim para ela – não está rolando, não de verdade.
- Olha, você é mais emocionada do que eu. Eu garanto.
- Veremos – ela deu um grande gole, gotas do copo molhado caíram sobre sua blusa branca e fina, não o suficiente para deixar o tecido transparente, mas pensar naquela mulher molhada mexeu com minha imaginação – mas agora me diz, o que você sabe sobre as meninas?
- Na verdade, eu não sei muita coisa, durante os bailes, muita gente de fora sobe o morro, e muitas mulheres descem. Não dá pra controlar isso, mas sei que tem desaparecido muito mais meninas nos últimos meses.
- Meses? – ela gritou tão agudo que tive que cobrir os ouvidos – isso está acontecendo a meses e você não fez nada?
- Hei. Vai baixando sua bola. Eu cuido do morro todo, demorei pra perceber que algo estava errado.
- Tá bem, eu vou coletar os desaparecimentos de adolescentes da região no último ano e filtramos juntos os que podem estar relacionados.
Maria Cecília se inclinou sobre a bolsa na cadeira, sua bunda redonda ficou apertada na calça social e por mais que eu buscasse uma marca de costura tudo indicava que estava sem calcinha, principalmente com a marca em forma de amêndoa da sua boceta.
A farsa de relacionamento só seria um sacrifício se ela não cedesse, naquele momento eu já tinha decidido pressioná-la de todos os jeitos.
Ela abriu uma caneta e ainda inclinada fez uma anotação.
- Esse é meu número pessoal, melhor que a gente se fale apenas por ele.
- Eu te mando um oi. Pronta pra ir, gostosa.
Ceci revirou os olhos e pegou a bolsa.
- Eu sei o caminho de volta.
Ela passou pela porta decidida e na mesma hora colei meu corpo no dela, apoiando a mão espalmada em sua barriga e coordenei nossos passos.
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Meninas do Morro
RomanceQuando adolescentes começam a desaparecer no maior baile funk de São Paulo, o dono do morro Morado e a assistente social Maria Cecília, começam a trabalhar juntos para descobrir o que houve com elas.