Capítulo 22 - Maria Cecília.

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Eu não conseguia respirar, o arrependimento de ter ido até aquele lugar ao invés de simplesmente acionar a polícia me consumia de dentro, as meninas enfileiradas, arrumadas pareciam com tanto medo que mal conseguiam ficar em pé se não estivessem grudadas uma na outra.

Levantei a placa para a única sobre o degrau, prostrada como uma peça de exposição.

- Tenho sessenta quem dá mais?

Hugo levantou a placa dele cobrindo meu lance. E levantei a minha sem nem pensar.

- Tenho setenta, quem dá setenta e cinco?

- Cem mil – Hugo disse alto e forte.

Graças a Deus que Alan estava me segurando ou eu teria voado no pescoço daquele homem nojento há tempos. Outro homem levantou a placa cobrindo o lance em cento e dez mil.

- Cento e vinte, tenho cento e vinte? – o leiloeiro cantava as palavras com uma alegria desmedida.

Minha visão estava turva o suficiente para aquela cena parecer um pesadelo. Ouvi a voz de Hugo distante oferecer o cento e vinte que o homem pedia.

- Cento e trinta? Alguém da cento e trinta?

Peguei a placa novamente, mas tive minha mão segurada em cima da mesa, forcei, Alan segurou mais forte, senti um ódio tão grande dela, palpável. Ele estava com os olhos baixos, como se pedisse desculpas com o olhar.

O dinheiro tinha acabado.

- Vamos dar os lances mesmo assim.

- E sair daqui como? Estou armado e com um arsenal no carro, mas não é como nos filmes Ceci. Seriamos mortos antes de eu conseguir sacar a pistola. Viu quantos seguranças estavam no estacionamento.

- Dou-lhe uma.

- Eu sou filha do governador.

- Dou-lhe duas.

- Garotas ricas também somem.

- Dou-lhe três. Vendida para o senhor na mesa dois.

A menina entrou em choque, com os olhos parados em mim, embora eu tivesse certeza de que sua consciência nem estivesse mais ali, ela foi tirada e Brenda foi colocada sobre o pedestal.

- Vamos dar continuidade ao segundo item de hoje. Começaremos com dez mil.

Levantei a placa no mesmo instante.

- Porque tão pouco?

- Olha como tá machucada, a outra deve ter chegado agora.

- Isso é doentio.

- O que nesse lugar, não é?

- Vinte mil, eu ouvi vinte?

- Um casal de idosos levantou a placa e eu rebati com trinta mil.

Um dos homens ao lado do Hugo perguntou a ele se não daria lances naquela e ela negou com uma risada esganiçada.

- Não, essa está danificada, eu garanti isso ontem.

- Eu vou vomitar.

- Ceci, olha para mim.

- Eu preciso de um minuto, garanta que ela vai conosco.

Saí da sala, andei pelo corredor, no final dele e em frente ao elevador haviam três seguranças, era assustador andar em direção deles, virei no banheiro feminino e devolvi o vinho no vaso.

Eu não podia chorar, não podia deixar que vissem que algo estava errado. Me sentei no chão do banheiro e levantei o rosto, tentando a todo custo controlar meus enjoos.

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