- E o meu irmão?
A pergunta de Agatha veio como uma bomba, não que eu estivesse esperando outra coisa, só queria me preparar melhor. A noite havia chegado e com ela, a angústia. Alan não estaria ali para a irmã ou para mim.
- Ele precisa resolver algumas coisas.
Deixei a cadeira de rodas perto e fui a recepção perguntar sobre Mané, não que eu tivesse qualquer ligação com ele, mas ele parecia um bom amigo para Alan e o único capaz de colocar juízo nele. Mas estava inalcançável, ainda sendo preparado para a cirurgia.
- O que a gente vai fazer? – Agatha perguntou tentando se mostrar prestativa demais.
- Vou deixar você em casa e segura, tem um carro esperando.
- E depois?
- Vou ver o que consigo resolver no conselho.
- Acho que devia ver uma pessoa, sabe, você é assistente social e a Brenda precisa da sua assistência – ela riu sem jeito.
- Tem toda razão, mas primeiro você.
Ajudei Agatha a levantar da cadeira de rodas, estava um pouco dopada e com a perna engessado então, não foi uma tarefa fácil. Entramos no carro sozinhas, como pedi que Alan permitisse. Não me sentia segura com os homens dele.
- Certo, onde a Brenda mora?
- Quer ir agora?
- Se você estiver se sentindo bem, sim.
- Tá – Agatha se ajeitou no banco, de repente parecendo mais alerta e focada, um sorriso animado no rosto – vira a direita.
A verdade era que eu não queria ficar sentada na cama de Alan esperando notícias, ainda mais naquela noite.
- Tem um celular?
- Tenho – peguei o celular de Mané de dentro da roupa e entreguei a Agatha – sabe a senha?
- Sei, é um quadrado, Mané é bem legal, mas nenhum gênio.
- Ele é bom com segurança e melhor ainda dirigindo sob pressão.
Agatha começou a mexer no celular enquanto dava ordens para em entrar em ruas estreitas e cheias, pelo caminho, percebi muitas pessoas arrumadas, maquiadas, bebendo, entrando em casa e saindo dela.
- O que está havendo?
- Meu irmão só pode estar brincando.
- O que foi?
- Ele marcou um baile de última hora, convocou o morro todo e proibiu que qualquer pessoa subisse.
- Tem que confiar que ele sabe o que está fazendo.
- É, espero que sim. Mas não é arriscado isso? Tipo, o Alisson estava traindo ele e se tem mais alguém.
- O baile deve ser pra isso, dar o recado. Ele falou alguma coisa sobre o que aconteceu?
- Não, só convocou o baile. É aqui, nesse portão azul.
Era uma pequena grade pintada de azul claro e muito descascada. Outra casa minúscula com três crianças brincando no quintal. Desci e bati palmas, fui atendida por uma mulher idosa.
- Pois não.
- Oi, eu vim ver a Brenda e a mãe dela.
- Fátima – Agatha gritou do carro.
- Sim, dona Fátima. Ela se encontra.
- Um momento – a idosa resmungou rude.
Voltei ao carro e ajudei Agatha a descer, o esforço fez minha cabeça voltar a sangrar, mas insisti em levá-la até o portão.
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Meninas do Morro
RomanceQuando adolescentes começam a desaparecer no maior baile funk de São Paulo, o dono do morro Morado e a assistente social Maria Cecília, começam a trabalhar juntos para descobrir o que houve com elas.