Capítulo 30 - Mara Cecília

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- E o meu irmão?

A pergunta de Agatha veio como uma bomba, não que eu estivesse esperando outra coisa, só queria me preparar melhor. A noite havia chegado e com ela, a angústia. Alan não estaria ali para a irmã ou para mim.

- Ele precisa resolver algumas coisas.

Deixei a cadeira de rodas perto e fui a recepção perguntar sobre Mané, não que eu tivesse qualquer ligação com ele, mas ele parecia um bom amigo para Alan e o único capaz de colocar juízo nele. Mas estava inalcançável, ainda sendo preparado para a cirurgia.

- O que a gente vai fazer? – Agatha perguntou tentando se mostrar prestativa demais.

- Vou deixar você em casa e segura, tem um carro esperando.

- E depois?

- Vou ver o que consigo resolver no conselho.

- Acho que devia ver uma pessoa, sabe, você é assistente social e a Brenda precisa da sua assistência – ela riu sem jeito.

- Tem toda razão, mas primeiro você.

Ajudei Agatha a levantar da cadeira de rodas, estava um pouco dopada e com a perna engessado então, não foi uma tarefa fácil. Entramos no carro sozinhas, como pedi que Alan permitisse. Não me sentia segura com os homens dele.

- Certo, onde a Brenda mora?

- Quer ir agora?

- Se você estiver se sentindo bem, sim.

- Tá – Agatha se ajeitou no banco, de repente parecendo mais alerta e focada, um sorriso animado no rosto – vira a direita.

A verdade era que eu não queria ficar sentada na cama de Alan esperando notícias, ainda mais naquela noite.

- Tem um celular?

- Tenho – peguei o celular de Mané de dentro da roupa e entreguei a Agatha – sabe a senha?

- Sei, é um quadrado, Mané é bem legal, mas nenhum gênio.

- Ele é bom com segurança e melhor ainda dirigindo sob pressão.

Agatha começou a mexer no celular enquanto dava ordens para em entrar em ruas estreitas e cheias, pelo caminho, percebi muitas pessoas arrumadas, maquiadas, bebendo, entrando em casa e saindo dela.

- O que está havendo?

- Meu irmão só pode estar brincando.

- O que foi?

- Ele marcou um baile de última hora, convocou o morro todo e proibiu que qualquer pessoa subisse.

- Tem que confiar que ele sabe o que está fazendo.

- É, espero que sim. Mas não é arriscado isso? Tipo, o Alisson estava traindo ele e se tem mais alguém.

- O baile deve ser pra isso, dar o recado. Ele falou alguma coisa sobre o que aconteceu?

- Não, só convocou o baile. É aqui, nesse portão azul.

Era uma pequena grade pintada de azul claro e muito descascada. Outra casa minúscula com três crianças brincando no quintal. Desci e bati palmas, fui atendida por uma mulher idosa.

- Pois não.

- Oi, eu vim ver a Brenda e a mãe dela.

- Fátima – Agatha gritou do carro.

- Sim, dona Fátima. Ela se encontra.

- Um momento – a idosa resmungou rude.

Voltei ao carro e ajudei Agatha a descer, o esforço fez minha cabeça voltar a sangrar, mas insisti em levá-la até o portão.

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