Capítulo 14 - Maria Cecília

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Ser rejeitada por Alan, depois da conversa fofa que tivemos me deixou um pouco frustrada e para piorar meu mau humor matinal, assim que saí do quarto percebi uma luz acesa no andar de baixo.

- Droga, ele já acordou? – falei comigo mesma.

Desci e entrei na cozinha. Falcão me olhou de canto, já a postos na janela.

- Bom dia – cumprimentei, passando por ele.

- Foi uma noite agitada, hein.

Parei com a mão na maçaneta, eu poderia só ir embora, deixar o irmão dele em paz e seguir meu dia, afinal tinha muito o que fazer. Mas não consegui, me virei e o encarei.

- A sua também – me aproximei da janela, olhando lá para baixo – que bom que você estava de olho.

- Eu sempre estou.

- Não sabia que dava pra ver tanto daqui.

- Tem outra janela no quarto.

Estiquei o pescoço para o restante da casa, fora a sala só haviam mais duas portas, ambas do lado oposto da casa.

- Hum, sei.

- Não gosto de você aqui.

- Eu notei, mas fica tranquilo, não vai demorar muito tempo.

Eu sorri, sem nenhuma pretensão de ser convincente. Haviam duas possibilidades.

A primeira, Falcão não tinha nada a temer e acharia que eu só estava me divertindo com Alan.

A segunda, que eu mais apostava, ele devia alguma coisa e dizer a ele que ia acabar logo o faria acreditar que eu estava muito perto de descobrir.

Ambas me davam vantagem.

Fui escoltada por todo o morro até chegar no meu carro, entrei e respirei aliviada, o cheiro de baunilha do aromatizante me fez sentir mais confortável, ainda que eu vestisse apenas a camisa de Alan.

Antes do horário de pico, não havia trânsito, cheguei em casa na metade do tempo que levaria se fossem sete ou oito horas da manhã.

Fui primeiro para meu quarto, não queria ser vista como estava, embora tenha encontrado um ou outro funcionário no caminho, o que me preocupava era explicar para meus pais. Quando finalmente desci para o café da manhã, com a cabeça doendo pela falta de cafeína, a mesa estava desfalcada.

- E o Victor? – perguntei ao servir uma xícara.

Meu pai se inclinou para trás, tirou o guardanapo do colarinho o colocando com força desnecessária e me olhou com soberba.

- Sabe qual o seu problema, Maria Cecília?

- Você vai me dizer de qualquer maneira.

- Tenta ser algo que não é. Entenda o seu lugar.

Não respondi a isso, ele se levantou pegou a pasta no aparador e saiu sem se despedir.

- Sabe que ele não está indo trabalhar, não é? É sábado, ele é político. Não trabalha nem quando deveria.

- Não fale assim, seu pai é um homem maravilhoso.

- É sim. Claro. E essa ofensa gratuita teve algum motivo?

- Seu irmão se machucou feio ontem a noite tentando tirar você daquele lugar – mamãe não me deixou processar a informação – é sério isso, Ceci? Uma festa na periferia? Podia ter sido roubada ou pior.

- Eu tenho vergonha das coisas que você fala. O que o Victor te disse?

- Ele não falou comigo, só com seu pai.

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