- Acho que vou aceitar aquela cerveja.
Ceci colocou as mãos na lombar e se espreguiçou, já havia tirado a blusa rosa fina e ficado com uma de alcinha que usava por baixo. Ela era bonita, elegante, mas não se importava com etiqueta.
Ela começou a juntar o papelão que sobrou ao redor da cama e enfiar em um saco transparente enquanto eu colocava o colchão sobre a cama, dando graças a Deus de conseguir terminar, ainda que Cecí não saiba ler o manual.
- Acha que está bom? - perguntei a fim de fazê-la se virar para mim.
- Parece firme.
- É melhor fazer o teste.
- Teste?
A agarrei pela cintura e a joguei na cama, Ceci gritou e começou a gargalhar, subi nela apoiando meus punhos ao lado de sua cabeça, deixando-a presa.
- Sexo surpresa.
- O que? – e sussurrando – não faz parte do acordo.
- Tem que ser convincente.
Me abaixei e deixei beijos desesperados e molhados em seu pescoço suado, ela não conseguia me afastar, apesar das mãos espalmadas em meu peito, não tinha forças para empurrar de tanto que ria.
- Está gostando? – minha intenção não era ser sexy, eu não brincava com ninguém assim á tempos, mas ela não sabia como eu tinha que ser, apenas como eu era para ela.
- Não consigo respirar.
Me sentei em seu colo e a observei, Ceci respirou fundo e devolveu o olhar, ficamos sérios.
- Vai me deixar levantar?
- Claro – disse já saindo de cima dela – então, o que achou de acompanhar meu trabalho?
- Não acho que seu trabalho seja só isso, na verdade, conheço essa estratégia. Quer me comover.
Bufei e balancei a cabeça, ela estava certa, mas não significava que minha atitude não era sincera.
- Só não sei sua intenção.
- Eu montaria essa cama mesmo que você não estivesse aqui para atrapalhar.
- Ah claro, se eu não tivesse descoberto como medir o tamanho dos parafusos você ainda estaria pregando o estrado.
- Se dependesse de você, a cama ficaria em pé ao invés de deitada.
- O manual não era claro.
Ela cruzou os braços e manteve contato visual.
- Você leva jeito pra política.
- Deus, não!
- E tão ruim assim? – guiei ela para fora do quarto onde nos despedimos da dona da casa que agradeceu mais uma vez.
- E agora? O que faremos?
- Acha que consigo fazer mais alguma coisa hoje? – peguei o celular e conferi a hora - Vamos tomar aquela cerveja, um banho e sei lá. Como eu disse, você vai dormir aqui hoje.
- Não quer que eu vá embora porque tem medo que eu encontre o Capitão Renald sem você saber.
Não respondi, era uma boa desculpa, embora o motivo da minha insistência ainda fosse meio abstrato.
Alisson torceu o nariz quando Cecí entrou em casa depois de mim. Abri a geladeira e dei uma boa olhada antes de pegar a Heineken.
- Na verdade, pode ser a Bud?
Dei um breve sorriso e troquei pela cerveja mais amarga.
- Tem muita garrafa aí.
- Eu bebo umas duas por dia, o restante é desse grandão aqui – apertei o ombro do meu irmão e dei uma para ele.
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Meninas do Morro
RomantizmQuando adolescentes começam a desaparecer no maior baile funk de São Paulo, o dono do morro Morado e a assistente social Maria Cecília, começam a trabalhar juntos para descobrir o que houve com elas.