IV 4.7 Pedido a Amadum

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As mãos de Bryanna tremiam quando ela dobrou a carta cuidadosamente, guardando-a no bolso do vestido, porém não era de emoção, nem de felicidade. Era um tremor errático e, para apaziguá-lo, ela apertou os punhos com força. Sentia raiva, frustração e permitiu que apenas uma lágrima escorresse pela bochecha sardenta.

Depois, num impulso violento, atirou o papel na lareira que ardia no canto do quarto.

Não era nada que valesse a pena reler, de qualquer jeito.

Os versos de Emeka Afia eram pobres; seus elogios, batidos.

Ela não era mais tão boba ou ingênua, mas a ousadia com que os homens tentavam enganá-la era ultrajante. Sentia que, mais uma vez, sua inteligência era ofendida; sua herança, uma piada.

Agora, Emeka Afia se dizia insuportavelmente apaixonado, afoito para casar-se e repetia a promessa de que a queira o mais rápido possível, que agradecia aos deuses que a próxima Cerimônia estava tão perto, que ele não precisaria esperar mais meses para tê-la ao seu lado...

Um bando de baboseiras!
Havia acontecido uma Cerimônia há um dia!
Se ele realmente a quisesse, poderia ter feito o pedido.

Mas não.

Queria deixar a opção em aberto, para fazer a proposta somente depois que a batalha estivesse ganha, que as terras de Bryanna fossem recuperadas.

Agora, pretendentes não faltariam.

Seu legado seria restaurado.

Seu clã teria um futuro.

Seu sangue seria honrado.

E nada disso era graças a Emeka Afia, o homem que prometera protegê-la.

Não, era tudo graças a Noa Rariff e seu desejo de vingança.

Era a vingança que colocaria aqueles homens em marcha.

Ela observou os homens começando a se enfileirar diante da praia de Palacianos. Centenas de soldados a perder de vista... Pela primeira vez desde que era uma menininha, voltaria às suas terras, retornaria para casa.

Não era a primeira vez que ela sonhava com esse momento.

No entanto, sempre que pensava em fazer uma excursão às terras devastadas, ela se acovardava.

Suas lembranças de Judicaël era vívidas, felizes, cheias de amor.

Ela nunca tinha visto os afogados.

Quando era mais jovem, Raoul havia feito inúmeras incursões a Judicaël. Levara especialistas para testar a água, o solo... E, em todas as vezes, os resultados foram desanimadores.

O solo era infértil, a água, tóxica.

A longo prazo, qualquer tipo de vida em Judicaël poderia ser danosa. As substâncias tóxicas presentes na água fariam com que os habitantes sentissem sono, vertigens, alucinações. Os raios de Amandeep feririam os olhos vidrados, enquanto os habitantes prefeririam a noite. Para dormir, seria cada vez mais necessário o uso de entorpecentes, de bebida ou de qualquer subterfúgio que ajudasse a balancear o ritmo natural das coisas.

Viver em uma terra regada pela morte partiria corações, enlouqueceria mentes...

E quem a seguiria, afinal?

Moraria sozinha em Judicaël?

Seu povo estava morto.

Sua família, dizimada.

Seus únicos laços sanguíneos eram com os outros filhos dos clãs que, graças às centenas de anos de casamentos na Cerimônia, tinham parentesco com ela, mas nenhum deles estaria disposto a abandonar uma terra fértil para habitar um cemitério.

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