VIII 8.1 Palacianos

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Hannah não sabia o que era ser tão feliz desde que a sua família era viva.

Acordava todos os dias com Noa, se espreguiçando nos braços dele. Os dois enrolavam nos lençóis o máximo que podiam.

Encontrava Serena e Christine já no café da manhã, que todos tomavam juntos no jardim interno do Palácio, como acontecia na Ilha. As crianças corriam pelo jardim, implorando por pedaços de pão maiores do que conseguiam morder. Serena sempre negava, mas Joshua acabava cedendo, o que lhe rendia muitas broncas da esposa.

Ela descobriu que Noa Rariff não tinha o costume de dividir as refeições do dia a dia com outras pessoas e, por vezes, se divertia com a sua falta de costume diante da intimidade dos próprios amigos. Ela riu quando Yara pediu para ler a correspondência do Kral e precisou conter uma gargalhada diante do choro incontrolável do gêmeo Lucas assim que percebeu que Noa estava comendo o último pãozinho doce.

Rariff ainda mastigava, surpreso com a reação dramática, enquanto se levantava correndo para pedir aos cozinheiros que trouxessem mais pães urgentemente.

É claro que, no momento em que eles terminaram de assar, as crianças já faziam a primeira soneca do dia, sem sequer se lembrar do episódio da falta de pão.

Havia algo de absurdo e muito comovente em ver um homem como Noa Rariff, tão cheio de preocupações, ser completamente absorvido pelo drama infantil.

Liam Roparzh era outro que se juntava ao café da manhã, mas sempre permanecia muito quieto. Na ausência de Bryanna, quem cuidava da rotina de Eric era Serena, que fazia questão de tratá-lo como a um de seus filhos. Nela, Eric encontrava consolo, atenção e encorajamento, apesar das milhares de tarefas que a ghaya tinha.

Joshua e Noa também eram íntimos de Eric e o conheciam bem o bastante. Era sempre um deles que o levava até as arenas de treinamento, onde o menino brilhava pela sua habilidade precoce com as espadas. Noa havia designado Abdul como treinador de Eric, o que era raro para um oficial com uma patente tão alta, mas o palaciano cumpria essa função com evidente prazer.

A cada dia, Hannah se surpreendia com a vocação de Serena para mãe. E se pegava imaginando como seria se os deuses lhe concedessem uma benção como essa. Ela se lembrava cada vez mais da boneca Meena e do desejo da pequena rani de ter uma família. Porém, sempre que pensava nessa possibilidade, era arrebatada pelas vozes dos ghayas que determinavam que seu ventre estava trancado pela Profecia.

Era a última Maël e seria a última.

De nada adiantava sonhar com filhos e uma família.

Christine havia convocado o Exército Negro para fortificar Palacianos, alocando alguns homens para permanecer em Judicaël, enquanto a fortaleza era reconstruída. Ela e Ariel sempre chegavam atrasados para o café da manhã, o que refletia bem os hábitos dos filhos de Babakur, que amavam a noite.

O casal já era conhecido nas tabernas de Palacianos e, muitas vezes, voltavam ao Palácio já com o despertar de Amandeep.

Depois do café da manhã, Ariel era seu mentor no treinamento para tentar prever os ataques de Yan. Eles passavam ao menos quatro horas na arena. Ariel era o único forte o suficiente para enfrentá-la, mas Christine e Gaetana observavam sua evolução de perto e contribuíam com conselhos.

Ninguém sabia como Yan pretendia atacá-la, mas era uma unanimidade entre os hayas que a luta em forma animal seria uma estratégia valiosa para ele, que era mais fraco, porém mais preciso. Já Hannah, que detinha mais energia, poderia atacá-lo com força bruta, porém era justamente a energia descontrolada da sua força que, segundo as teorias, poderia acabar abrindo o Portal.

O Portal IV - Fios de AlimOnde histórias criam vida. Descubra agora