VII 7.3 Baile

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O salão de baile era uma expressão viva de toda a pompa de Palacianos. Apesar da simplicidade do povo, aquele era um Palácio construído para os deuses e eles não tinham nada de simplório. Tudo brilhava tanto que Hannah estreitou os olhos, tentando se acostumar aos candelabros de ouro, ao chão recoberto por esmeraldas, ao teto abobadado por traços perfeitos de fios dourados. Assim que olhou para cima, os sussurros encontraram seus ouvidos.

Chuva, fogo, ventania.

Canções antigas e histórias inteiras eram dissecadas naquelas paredes. Ela fechou os olhos, descobrindo que o escuro fazia com que eles se calassem.

Por mais belas que fossem as vozes que tomavam sua mente, ela intuía que ouvir vozes nunca era um bom sinal.

Já era vista como uma aberração, não precisava piorar ainda mais a situação.

Porém, ficar de olhos fechados não era uma solução.

Ela mirou, então, os rostos das pessoas.

Porém, eles estavam cheios de expectativa, de reverência, de admiração.

Hannah não se sentia digna daqueles olhares.

Sentia-se acuada, nervosa, sem chão.

Não queria ser lançada, mais uma vez, naquela sensação incômoda de Judicaël, onde os filhos a observavam com terror. Queria apenas poder estar entre aquelas pessoas sem se sentir diferente e, principalmente... Sem se sentir tão sozinha.

Ela apertou a mão de Adaeze, suando frio.

Aqueles olhares estavam provocando uma vontade de sair correndo atrás de um espelho.

Será que há algo de errado comigo?

Será que tem alguma coisa presa na minha testa?

Ou pior...

Será que eles conseguem ver as marcas no meu corpo? As minhas fraquezas?

– Ali, Hannah – sussurrou Adaeze, indicando com a cabeça. – Ali está ele.

Ela seguiu a orientação da kraliça sem compreender até que viu Noa Rariff se apressando no meio da multidão.

Não foi difícil encontrá-lo. Era ao menos um palmo mais alto que todos os palacianos que estavam ali, além de usar cores sóbrias demais. Estava todo vestido com um uniforme azul marinho que também era usado por muitos outros. Se não fosse pelos anéis nos seus dados, nada denunciaria que aquele era o homem mais poderoso de Adij Alim. A não ser, é claro, o modo como as pessoas se afastavam respeitosamente quando ele passava.

Ele estava apenas a alguns metros de distância e Hannah fixou o olhar naquelas pupilas castanhas, sentindo o aperto da mão de Adaeze se afrouxar.

– Meu Kral – a kraliça o cumprimentou, com uma reverência. Mas Hannah não sabia se seria prudente fazer o mesmo. Descobriu que nunca tinha feito qualquer sinal de respeito para Rariff e não queria que a primeira tentativa desastrada acontecesse ali na frente de uma multidão. Adaeze olhou na direção dela, com um sorriso enigmático.

– Perdoe-me pelo atraso – conseguiu dizer.

Rariff balançou a cabeça como se aquilo não importasse, então estendeu a mão para que ela a pegasse. Sentindo-se constrangida, Hannah mirou Adaeze, aquela kraliça que se dispusera a ajudá-la apesar de tudo. Ela sabia que Adaeze era a noiva de Rariff e vê-los ali, naquele salão, juntos, fazia seu coração doer.

Porém, Adaeze também balançou a cabeça, como se também não se importasse nem um pouco e se afastou, deixando-os a sós no meio do baile.

Hannah percebeu que uma roda se formava ao redor deles. As pessoas haviam parado de dançar e até mesmo de conversar.

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