VII 7.5 Krali

102 31 13
                                    

– O que foi? – ela perguntou assim que não havia mais ninguém à vista na orla escura.

Hannah inspirou o ar fresco da noite, aproveitando a sensação da água gelada contra os dedos dos pés. Ao seu lado, Noa Rariff também encarava a imensidão do mar. Os dois tinham avançado até uma parte erma da praia, que rodeava a fortaleza, próxima à piscina natural cuja escadaria levava diretamente aos aposentos do Raj.

Em poucas horas, amanheceria.

– Espero que tenha conseguido aproveitar a festa... – ele comentou, ignorando a sua pergunta.

– Acho que... Foi a melhor noite da minha vida – Hannah respondeu com sinceridade. Nunca tinha se sentido tão feliz, tão acolhida. – Mas é claro que não faço ideia do que estou falando. Quem sabe eu deveria perguntar para a criança?

– Há algo que a criança ainda não sabe, mas que eu gostaria que você soubesse – anunciou, à beira da escadaria vertiginosa de pedra.

Hannah subiu alguns degraus, ficando na mesma altura dele. Ela aguardou. O sorriso misterioso continuava ali e ela sentiu que a curiosidade fazia seu interior estremecer. Mordeu o lábio inferior, impedindo-se de implorar para que falasse logo.

Noa exalou, então o sorriso subiu pelo canto esquerdo da boca dele: – Naquela outra noite, você disse que não gosta tanto de mim... E pedi uma chance para provar que você está muito errada.

– Pelos deuses, como o senhor é convencido... – ela revirou os olhos, as costas encontrando a parede enquanto ela tentava manter uma distância segura dele. Noa se aproximou ainda mais, a mão segurando a sua cintura firmemente. Ela não conseguiu tirar os olhos dos lábios cheios enquanto completava: – Extremamente convencido e compromissado. Prometido a outra mulher e completamente inconveniente e proibido...

– Por causa de "malditas catapultas"... – ele a imitou com falsa indignação, a outra mão subindo pela sua garganta e elevando seu queixo com o polegar.

Hannah se esforçou para encará-lo diante do arrepio que aqueles dedos calejados e brutos provocavam contra a sua pele. Ela balbuciou: – Adaeze me ajudou hoje e eu não acho justo...

– E se eu disser que não estou mais noivo? – os lábios de Noa se aproximaram dos dela, mas ele não a beijou.

Hannah sentiu seu coração pular algumas batidas.

Queria acreditar naquilo.

Queria muito.

Mas já tinha sofrido tantas decepções... Precisava ter certeza.

– O senhor... Você... Terminou tudo? Mas e a aliança com os Afia?

– Ela terminou comigo – ele admitiu, erguendo as sobrancelhas. – Talvez você tenha sido capaz de convencê-la.

– Mas...

Hannah se calou.

Os motivos de Adaeze não importavam.

Agora, sua mente só conseguia focar em um pensamento: não havia nada que a impedisse de estar com aquele homem. E, apesar das desconfianças, dos boatos horríveis que tinha ouvido sobre ele, das coisas que ele dissera sobre ela, da guerra entre as famílias e do fato de ele ser o único com a ousadia de sentar no trono do seu pai, ela não queria recuar.

Porque a presença dele fazia com que ela perdesse o ar, mas não como se estivesse sufocando. Não, pelo contrário. Era como se estivesse em queda livre, segurando a respiração antes de um voo pelo desconhecido.

– Me mostre como estou errada, então – ela ordenou, mas aquela vontade de desafiá-lo era tão latente que não resistiu: – Se for capaz de me alcançar.

O Portal IV - Fios de AlimOnde histórias criam vida. Descubra agora