IX 9.5 Queda

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Acordar nos braços de Damien era uma das sensações mais incríveis da nova vida de Bryanna, porém era raro que acontecesse. Damien quase não dormia, enquanto Bia precisava alongar as manhãs na cama, principalmente após as festas intermináveis dos filhos de Babakur.

Que ela fazia questão de aproveitar bastante, sempre na companhia do seu futuro marido.

Como o dia de Damien começava quando os cabelos de Amadam ainda encobriam o céu, ele tinha tempo para treinar e levar o pequeno Eric à arena de treinamento, com os outros guerreiros. Desde que tinham voltado para Judicaël, Damien assumira o treinamento do menino, ensinando a ele tudo o que sabia, não somente a dominar armas, mas a canalizar a energia. Ainda não era possível saber se Eric seria um haya ou um curandeiro. Por causa da sua ascendência, ele teria o poder dos filhos de Amadum nas veias, mas a sua aptidão como guerreiro o tornava um candidato para ser um grande haya. E, como os filhos de Babakur não se limitavam às condições impostas antigamente pela Ilha, Bryanna permitia que Damien guiasse seu filho nessa descoberta. Se, por fim, o menino decidisse seguir pelos dois caminhos, ela não o impediria.

Nos últimos meses, desde a perda traumática de Liam, Bryanna não estava negando nada ao filho. O pequeno Eric havia descoberto, através da confissão do próprio pai, a natureza complexa de Liam, mas ainda se culpava por não ter sido capaz de salvá-lo. Bryanna esperava que, à medida que crescesse, ele compreendesse que era jovem demais para ter qualquer responsabilidade.

Damien se provava mais e mais útil no processo de aceitação e superação do luto do filho. Afinal, ele fora realmente responsável pela morte do pai em uma idade em que crianças ainda são consideradas inofensivas. Além disso, carregava a culpa pela participação no massacre de Judicaël.

Com a proximidade com Bryanna, aos poucos, a memória de Damien retornava, trazendo de volta os aspectos mais sombrios do seu passado. Cada noite ao lado daquela que era a maior curandeira de Adij Rariff restaurava os elos perdidos das suas lembranças, ajudando-o a entender a sua história.

O nome da filha, Yara, ganhou um significado ainda mais especial quando ele resgatou as memórias da mãe.

Da janela do seu quarto, Bryanna conseguia ouvir os gritinhos alegres de Eric e Yara, que brincavam de se esconder entre os troncos das árvores. Contra todas as expectativas antes da batalha, o solo de Judicaël havia se mostrado fértil e, desde então, toda semente plantada crescia com força e beleza em uma rapidez impensável para qualquer terra dos clãs.

Bryanna se orgulhava do jardim frondoso que rodeava o Palácio dos Afogados, trazendo vida aos riachos. O cheiro tóxico de lírio de Amadam abandonava a água que se tornava cada vez mais pura e límpida. Aos poucos, espécies de peixes, sapos e aves voltavam a habitar Judicaël. De manhã, os pássaros preenchiam o silêncio deixado pelos mortos e, à noite, os grilos garantiam a sinfonia para os filhos de Amadum que queriam contemplar as estrelas.

Assim como ela, Damien gostava de cultivar a terra, um talento que redescobriu graças às suas origens na tribo de Bahija. Ele tentava passar esse hábito para Yara, mas a menina era geralmente distraída por Eric, que a chamava para brincar.

Desde que eles tinham retornado, Yara passava um mês em Judicaël e o outro dividida entre Palacianos e Adij Rariff, de acordo com o lugar onde Serena e Joshua estivessem.

Segundo os cálculos de Bryanna, ela ficaria ainda mais uma semana com eles, por isso se surpreendeu, naquela manhã, ao avistar Joshua tentando correr atrás dos gêmeos, enquanto Serena saía da carruagem com o pequeno Sloan Blake enrolado em uma manta.

Bia se apressou para colocar uma roupa e pedir que as camareiras arrumassem os quartos de hóspedes, mas logo descobriu que Serena não tinha intenção de ficar. Sozinhas no salão do café da manhã, a ghaya lhe falou com urgência: – Preciso que me acompanhe, Bia... A Palacianos. Judicaël pode dispensar a sua atenção por alguns dias?

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