VIII 8.10 Covarde

87 23 12
                                    

– Afia, peço que reconsidere – insistiu Joshua Blake. Apesar da perna fraca, usava uma armadura pesada e estava prestes a se juntar aos outros homens que defenderiam o Palácio. Já Emeka permanecia de pijama, recusando-se a vestir a armadura ou pegar em armas. – Ainda há homens de Hiwot aqui e, segundo Roparzh, eles se recusam a lutar sem o seu comando.

– Dei ordens explícitas aos meus homens. Não vamos nos envolver mais nos conflitos de Rariff. Dê esse recado ao seu Kral – desdenhou.

– E o que Rariff fez para merecer tamanho descaso? Se essa fortaleza cair, todos estaremos em risco, inclusive a sua família...

– Yan Gwenaël atacará essa fortaleza com o único objetivo de buscar Hannah Maël e seu famoso herdeiro – lembrou Emeka, sem emoção. – Não tenho nada a ver com esse conflito. Por quantas vezes já arrisquei a vida dos meus homens para demonstrar apoio a Rariff?

– E seu apoio não foi de graça! Rariff sempre o apoiou no patrulhamento das suas fronteiras, oferecendo homens, comida e mantimentos. Não seja ingrato quando mais precisamos!

– Ingrato?! Como ousa me acusar de tal coisa? Eu marchei lado a lado com vocês em Shailaja. Eu apoiei a legitimidade de Noa frente a Ür desde o rompimento dos dois. Tive que fazer uma campanha para convencer meu pai. Eu liderei todos os homens de Hiwot na batalha de Judicaël. E o que tive em retorno? Rariff não se casará com Adaeze. A aliança entre as nossas famílias está terminada.

– Foi Adaeze quem rompeu o noivado... – lembrou Blake com impaciência.

– Porque Rariff só tem cabeça para outra mulher!
– Ora, Afia, pelos deuses. Não somos muito velhos para ficarmos discutindo isso às vésperas de um ataque?! Acha que sou tão ignorante a ponto de não perceber que essa sua revolta está relacionada à rejeição da Rana?

Emeka sentiu a raiva crescendo dentro dele.

Até aquele momento, com exceção de Adaeze que lhe perguntara como estava, ninguém ousara tocar no assunto.

– Rariff é um dos conselheiros da Cerimônia, ele poderia ter mostrado a ela que deveria participar...

– Ela é uma Rana! – berrou Blake. – Ela é dona do próprio Destino.

Mais um trovão ecoou, fazendo as janelas tremerem. Em algum lugar no Palácio, uma delas partiu, mas o barulho do vidro se quebrando foi abafado pelos berros de Afia: – E vocês permitiram que ela partisse daqui, acompanhada de um filho de Babakur! E ainda vai terminar por colocá-lo no trono!

Joshua pegou a bengala e se dirigiu para fora, dando um último recado: – Você sempre se gabou de ser um dos maiores guerreiros de Adij Alim. Essa batalha será cantada pelos próximos séculos. Pretende mesmo ser reconhecido como o homem que passou a noite escondido no quarto por causa de uma desilusão amorosa?

– Que Amadum carregue todos aqueles que ousarem cantar sobre mim – resmungou Afia, servindo-se de mais uma dose de malte de fogo. Finalmente, Joshua Blake o deixou sozinho.

Ele caminhou até a janela, tentando distinguir qualquer coisa do lado de fora, porém a ventania e a chuva criaram uma cortina que impedia qualquer tentativa de visibilidade. Ergueu o copo para beber mais um gole, quando notou um vulto às suas costas, refletido no vidro da janela.

– Blake, eu já disse para desistir... – ele se virou, mas à sua frente não estava Joshua Blake, porém uma mascarada. A mulher usava vestes pretas e um lenço sobre a cabeça, que cobria seu nariz e a boca, deixando apenas os olhos visíveis. Ela portava uma espada comprida e fina, com Amadum representada no cabo. No indicador direito, trazia um raro anel de garra de graúna.

O Portal IV - Fios de AlimOnde histórias criam vida. Descubra agora