IX 9.6 A 2ª escolha

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Uma noite e uma manhã inteira se passaram sem que Bryanna ou Leila deixassem o leito de Hannah. Ela tinha ferimentos internos, provocados pelo que Bryanna chamou apenas de "queda". Noa não sabia o que aquilo significava, mas não queria atrapalhar o trabalho das duas com perguntas inúteis. Durante todo esse tempo, elas atuavam principalmente nas asas arrancadas, virando-a de tempos em tempos para aplicar um unguento de lírio de Amadam que deveria ajudar na cicatrização.

Apesar disso, o sangue ainda manchava as toalhas em abundância.
Noa percebeu, assim como os outros, que o sangue de Hannah estava diferente... Mais normal. Era de um vermelho vivo, como o de todos os outros mortais.

Os raios de Amandeep já brilhavam no alto do céu, quando Noa repetiu a pergunta da noite anterior: – Onde está a minha filha, Bryanna?

Ele poderia ter se encolhido diante de tudo o que vira, mas fizera questão de observar cada medida tomada pela Rana Yahia. Hannah era sua krali e nada que a ferisse poderia fazê-lo se afastar. Ele sabia o que significava a bolsa do bebê, o cordão, os seios cheios de leite. E não vira nenhum bebê.

– Vamos conversar, Noa – respondeu Bryanna, mirando-o com atenção e franqueza. Ela se afastou de Hannah que, ainda pálida, repousava em cima de uma toalha quente, o corpo exausto respirando com dificuldade. Depois do aperto na mão de Noa e da única lágrima que derramara, ela não havia expressado qualquer outra reação.

Bryanna limpou as mãos em uma toalha e convidou Noa a se aproximar da sacada. Ele respirou a brisa do mar pela primeira vez desde a noite anterior, notando apenas neste momento que usava somente a calça do pijama.

– Por que não se senta para que eu possa dar uma olhada na sola do seu pé? – perguntou Bryanna com delicadeza. Ele escolheu uma poltrona ao acaso, permitindo que ela tirasse os cacos do espelho presos na sola e o curasse com seu toque.

– Não posso afirmar o que aconteceu com Meena... Não há nada no corpo de Hannah que sugira um problema no parto ou que não tenha sido bem-sucedido... O cordão que liga a mãe ao bebê foi cortado com cuidado. Acredito que Meena nasceu saudável, mas Hannah tinha ferimentos internos em vários pontos do corpo. As costelas estavam fraturadas e havia o princípio de afogamento... Se eu pudesse traçar uma teoria, diria que ela caiu no mar e nadou o máximo que conseguiu... Curei todos os ferimentos internos. Quanto às asas... Não consigo curar essas feridas, mas a cicatrização já começou. Pode ser por sua atuação, pela comunhão de Ayman. Ou até pela própria energia de Hannah. No entanto, a energia dela está bem baixa. É somente por isso que consegui curá-la. Ela não possui mais aquela energia devastadora de antes, está enfraquecida, o que tornou meu trabalho possível, graças aos deuses. Agora, acredito que temos que aguardar... Ela sofreu um grande trauma. E imagino que não tenha sido apenas físico.

Noa estava tão ávido pelas informações sobre Hannah que demorou a notar que seu pé já estava curado. Bryanna o depositou com cuidado sobre o chão.

– Ela deve demorar para acordar... Eu o aconselharia a descansar.

– Hannah vai sobreviver, Bryanna? – perguntou Noa, ansiosamente.

– Não posso afirmar, me perdoe... Mas não imagino que os deuses a enviariam de volta apenas para matá-la... Vashï Amadum não está nos rondando, Noa. Mas peço que tenha paciência... Um pouco mais de paciência. Ela é uma mãe, agora, e seu bebê não está aqui. Quando acordar, vai estar em sofrimento.

Noa assentiu, concordando. A dúvida sobre a situação de Meena já pesava em seu coração, porém o alívio de ver Hannah, de ouvir sua respiração, mesmo que tão fraca, o enchia de euforia. Ele agradeceu os esforços de Bryanna com um abraço apertado que surpreendeu a Rana de Judicaël.

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