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CAPÍTULO DEZESSEIS

Droga, ele desmaiou, sangrando, nos braços do vampiro. Wangji tinha sido bem e verdadeiramente nocauteado.
Ele veio à consciência aos poucos, ancorado pela dor em seu ombro. Havia um novo curativo de pano limpo e duro enrolado em seu peito nu. A dor ardente se foi, graças a Deus, mas a dor foi suficiente para mantê-lo flutuando em meio estado de vigília. Ele tentou avaliar os arredores sem abrir os olhos. Havia um colchão firme embaixo dele, e o calor suave do sol banhava o lado de seu rosto e pescoço.
— Ele ainda está fora? — disse uma voz.
Wangji se acalmou, escutando Yanli. Ele estava na casa de Wuxian? O colchão parecia diferente, e o cheiro caseiro de linho fresco e sálvia o cercava. De repente, ele estava ciente de que tinha sido despojado de suas calças.
— Ele vai acordar em breve. — Havia uma tensão de exaustão no tom do vampiro.
Por quanto tempo Wangji ficou fora?
— Você esteve aqui a noite toda, — implorou Yanli. — Por favor, deixe-me ajudá-lo.
O vampiro o vigiava a noite toda? Wangji não tinha certeza de como se sentia sobre isso. Em que Yanli quis ajudar?
A curiosidade queimou a névoa persistente que nublava os pensamentos de Wangji. O dia anterior veio à tona com uma clareza violenta. Hora de abrir os olhos e obter algumas respostas.
— Você falou com seu pai sobre minha oferta? ― Perguntou Wuxian.
Wangji manteve os olhos bem fechados. Ele ouviu Yanli suspirar, seus passos leves pisando no chão. Ele quase podia ver sua sombra andando contra a parte de trás de suas pálpebras.
— Você sabe o que ele vai dizer.
— Você se deu ao trabalho de perguntar?
Houve uma pausa pesada, pontuada pelo ranger tenso da madeira e o suave farfalhar das saias.
— Eu não posso deixar minhas irmãs, Wuxian. Eu simplesmente não posso. Elas são muito jovens. Qing ainda não tem quinze anos. ― Yanli soluçou, e os dedos de Wangji se fecharam em punhos sob o cobertor. Uma mulher como Yanli não parecia do tipo que chorava por nada.
— Isso é muito próximo em idade para as outras vítimas.
— Eu vi aquele símbolo Yanli, estava esculpido em seu peitoril, — disse Wuxian baixinho. Wangji ficou completamente imóvel. Esta não era a direção que ele esperava de sua conversa.
— Nós compartilhamos um quarto, idiota. Meu pai é um pastor, não um cavalheiro do interior. Ele certamente não fez nenhum acordo com seres estranhos na floresta, — Yanli retorquiu, o mau humor de sempre se reafirmando.
— Nós não sabemos se isso é comum —, disse Wuxian. — Os Fairchilds podem ter deixado entrar, mas quem sabe sob quais regras ele opera agora.
— Wuxian, parece que você deveria tirar um momento para pesquisar esses arquivos cuidadosamente anotados para conexões, — disse Yanli, fungando. — Sabe, aqueles que eu fiz para você, na sua casa.
— Yanli, a última vítima se parecia com você! Deve ter desejado você! Marcou sua casa, pelo amor de Deus.
Aquele baque surdo tinha que ser Yanli batendo o pé.
— Uma aparição semelhante é uma coincidência, não um presságio, Wuxian. Não sabemos qual quer. E se essa criatura decidir que quer levar um menino? Eu tenho irmãos jovens. Não vou deixar meus irmãos vulneráveis para satisfazer seus sentimentos superprotetores. Faça uma oferta melhor! — Seus passos bateram no assoalho, mas a porta se fechou com um clique suave atrás dela.
Brava como estava, Yanli não iria bater a porta em um quarto de doente para fazer uma questão. Wangji percebeu a contragosto que poderia ter que reavaliar a natureza de seu relacionamento com Wuxian. Deus o ajude, mas o vampiro genuinamente parecia se importar com ela.
Madeira ganiu. O vampiro suspirou.
— Você pode parar de fingir. Eu sei que você está acordado.
Wangji se encolheu, abrindo um olho para olhar Wuxian.
— Eu não queria interromper.
Ele olhou ao redor. Esta tinha que ser a casa Jiang. Tudo estava incrivelmente limpo, com decoração escassa.
Wuxian bufou.
— Tenho certeza que você achou um demônio sendo repreendido por uma garota muito divertida.
Wangji abriu os dois olhos e olhou para o vampiro descansando ao lado de sua cama. Wuxian parecia terrível. Sua pele era branca como papel e tinha a qualidade translúcida de uma longa doença, o delicado traçado de suas veias visível em linhas azuis fracas. Seus olhos estavam afundados com sombras de meia-lua embaixo deles, mas o detalhe mais revelador ainda eram as unhas. Wuxian agora tinha dedos de homem morto, as unhas descoloridas e machucadas na base da unha.
As sobrancelhas de Wuxian se juntaram com a aparente avaliação de Wangji.
— Você parece um inferno, — disse o vampiro.
A risada de Wangji foi mais uma tosse dolorosa.
— O sujo falando do mal lavado.
— Engraçado, isso foi uma piada? Não me diga que você está sendo mole comigo, Prospective, — disse Wuxian.
Wangji estremeceu quando se sentou. A pontada em seu ombro era um rugido maçante, muito parecido com os ferimentos anteriores que ele sofreu. Ele tinha sido esfaqueado uma dúzia de vezes por um Prospective sênior ranzinza que Wangji superou pela precisão da lâmina. Cortes afiados e abrasadores, mas o garoto nunca atingiu nada vital. Não por falta de tentativa; ele realmente não podia mirar para merda nenhuma.
Durante sua primeira caçada, Wangji foi baleado por um vampiro recém-nascido que ainda preferia armas a dentes. Essa bala o atingiu na coxa e quebrou o fêmur. Incrível como a dor era então, não era nada para a dor desta ferida. Semelhante a ser perfurado por uma barra de ferro quente que continuava a queimar sua carne. A memória daquela agonia insuportável estava fresca em sua mente. Assim como as circunstâncias em que ele perdeu a consciência.
— Já me decidi, — ele disse a Wuxian.
O rosto de Wuxian traiu apenas uma pitada de confusão.
— Oh?
— Você não é um monstro. — Wangji olhou para cima, seu olhar se conectando com o olhar de Wuxian quando percebeu tardiamente que estava, mais uma vez, sem camisa.
Wuxian havia trocado suas roupas encharcadas de sangue, a camisa fresca um ajuste mais apertado em sua forma esbelta, acentuando seus músculos magros. O rosto de Wangji ficou quente ao notar tal detalhe.
Wuxian se recostou na cadeira, passando um dedo pelos lábios exuberantes.
— Como estou lisonjeado com sua resposta, o que o levou a tal conclusão? Seu olhar mergulhou, examinando o abdômen exposto de Wangji.
Wangji corou e desviou o olhar, cerrando os dentes na pontada aguda em seu ombro. O vampiro conseguiu deixá-lo tão desconcertado com apenas um olhar.
— Além da grande caridade e delicadeza em seu tratamento da Sra. Fairchild. — Ele respondeu — Você também mostrou notável contenção enquanto eu sangrava no chão.
Havia também seu “sentimento” por Yanli, embora Wangji preferisse bater com o ombro ferido na parede do que trazer isso para a conversa. Simplesmente, ele sabia que não se importava com a ideia de Wuxian com Yanli; não de uma forma romântica.
Os olhos de Wuxian brilharam com uma mistura de calor e diversão que fez o rosto de Wangji queimar ainda mais.
— Você tem certeza de que eu não tomei um gole enquanto você estava sob efeito? Você tem um aroma bastante inebriante.
O olhar de Wangji estalou, encontrando a cabeça de Wuxian. Havia uma tensão estranha puxando entre eles que fez seus músculos ficarem tensos.
— Eu saberia se tivesse sido provado. E você acha que eu não reconheço um vampiro faminto? Eu vejo tudo em você.
Wuxian sorriu, revelando presas muito mais proeminentes, mas a curva sedutora de sua boca prometia algo muito mais perigoso do que um ataque.
— E eu te disse Wangji, eu tenho meus próprios métodos de lidar com a sede de sangue. — Ele se inclinou para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos.
— Tenho mais de um apetite insaciável.
Uma onda de calor percorreu o peito de Wangji, seu destino inconfundível. Se isso continuasse, ele tinha certeza de que seu cabelo pegaria fogo com o calor de seu rubor.
Ele engoliu com dificuldade. O relacionamento deles tinha sido muito mais simples quando Wangji teve certeza de que Wuxian era um demônio cruel que acabaria se voltando contra ele. Esta versão do Wuxian, no entanto…
Wangji não mordeu a isca. Ele não conseguia se reconciliar com as emoções que o vampiro despertava nele, uma mistura confusa e complicada que ele não estava em condições de desembaraçar agora. Ou nunca.
Ele limpou a garganta.
— Por que eu me pego acordando na casa do Pastor Jiang? Eu sei que Yanli está ciente de sua condição, mas e seu pai e irmãos?
Wuxian franziu os lábios.
— Boa mudança de assunto. Você é o epítome da sutileza, Wangji. Em resposta à sua pergunta, era trazer você para Yanli ou Yanli para você, e eu não tinha certeza se você aguentaria o último. ― Ele sorriu com a pergunta na expressão de Wangji. — Jiang nem sempre foi um pastor. Ele era um cirurgião treinado antes de se estabelecer aqui e ensinou a Yanli mais do que algumas técnicas. Eu certamente confio neles mais do que se passa por um médico nesta cidade.
— Mas o pastor... — As palavras de Wangji foram interrompidas pela passagem da ninhada do pastor, as crianças mais novas passando pelo quarto do doente mais alto que um bando de banshees, com Yanli em seu rastro, ordenando seu silêncio. O tom de barítono do pastor se elevou uma vez em um comando rápido e curto que fez o barulho parar abruptamente.
Um pequeno sorriso brincou na boca de Wuxian enquanto ouvia o caos familiar.
— O pastor não aprova minha... amizade com Yanli, mas ele é um homem de fé, e bom. Ele não recusaria um homem ferido ou faria muitas perguntas.
Wangji lutou para se dar mais força na cama. Seu ombro ficaria dolorido por vários dias, mas ele não tinha tempo para esperar pela recuperação.
— Quem encontrou o símbolo no peitoril da janela de Yanli?
Wuxian se inclinou para trás e cruzou as mãos sobre o peito.
— A irmã mais nova de Yanli encontrou a marca. Apareceu ontem à noite enquanto você dormia. Ela não sabia o que era.
— Preciso ver se é igual aos outros —, disse Wangji. Ele balançou as pernas nuas sobre a cama.
Wuxian estava lá em um piscar de olhos, cadeira e tudo, sentado diante dele. Sua mão fria descansou no ombro bom de Wangji, prendendo-o no lugar.
Ele apertou a mandíbula para não gritar com um vampiro faminto e irritável.
— O que você pensa que está fazendo?
— Você acha que eu não verifiquei o quarto da Srta. Fairchild depois que você saiu pela maldita janela perseguindo a fera? Reconheci o símbolo, Wangji. Ele soltou Wangji e passou a mão pelo cabelo, mechas ruivas caindo da trança em sua nuca. — É o mesmo símbolo sangrento que o resto.
Ele soltou uma respiração longa e muito humana.
Wangji seguiu os movimentos reveladores do vampiro.
— O que aconteceu com você depois que eu persegui?
— Pensei que você ainda estava consciente para essa parte. A adorável Sra. Fairchild me esfaqueou. ―Wuxian bateu em seu peito. — A idiota boba enfiou a lâmina direto no meu esterno.
Wangji lembrou-se das palavras da Sra. Fairchild. O ato de esfaquear alguém no peito para matá-lo não era tarefa fácil, e tentar atravessar o esterno era um movimento óbvio de amador. Mesmo com alguma força real por trás disso, a Sra. Fairchild não deveria ter conseguido muito mais do que raspar contra o osso.
— Ela cravou. Até o fim?
Wuxian zombou e segurou os dedos a alguns centímetros de distância.
— Era uma maldita faca de aparar.
Wangji levantou uma sobrancelha.
— Muito sangue para uma lâmina tão pequena.
— Ah, isso seria o atiçador de fogo que o marido dela colocou nas minhas costas antes de ir caçar você. — Wuxian fez uma careta, estendendo a mão para esfregar um ponto na parte inferior das costas. — Ele estava bêbado e irritado com perguntas que achava que eu não deveria fazer.
Não admira que o vampiro tenha demorado tanto para alcançar Wangji.
— Sra. Fairchild esqueceu de mencionar isso, — Wangji disse levemente. Ele olhou para suas pernas, perguntando-se quem o havia despojado de suas calças. — Você a deixou na floresta?
Wuxian ficou em silêncio por tanto tempo, Wangji teve que olhar para cima para ver se ele ainda estava lá, meio esperando ver o vampiro cobiçando suas pernas nuas.
— Eu fiz —, disse Wuxian. — Eu tinha preocupações mais urgentes. Quando tirei sua camisa, a ferida era uma massa pulsante de pele enegrecida, escorrendo um líquido preto acastanhado. Achei que você tinha sido envenenado.
Wangji ficou boquiaberto para ele, sua mão voando para seu ombro.
— O que? Com o que diabos ele atirou em mim?
Wuxian tirou um objeto do bolso e o estendeu para ele. A bala estava na palma da mão do vampiro, muito mais deformada do que ele esperava de uma simples bola de chumbo, mas em uma inspeção mais próxima, o metal tinha uma cor peculiar.
— É prata. No momento em que conseguimos arrancá-lo de sua carne, seu sangue ficou vermelho novamente.
Havia um detalhe aqui, significativo e terrivelmente importante, eles estavam faltando.
Wangji agarrou seu ombro dolorido, mentalmente montando uma imagem incompleta.
— O que isto significa?
— Não sei. — Wuxian se inclinou para frente e rolou a bola entre os dedos. Era uma demonstração reveladora de sua agitação, os pequenos movimentos uma sugestão de sua profunda distração. Vampiros normalmente estavam parados, e Wuxian estava faminto e ansioso, seus instintos predatórios em alta. Não é uma boa combinação em uma casa cheia de crianças.
— Você deveria se alimentar, — disse Wangji. Ele olhou para o teto, imaginando se seria possível fechar os lábios antes de fazer papel de bobo ainda maior.
Wuxian inclinou a cabeça, mordendo o lábio inferior.
— Você está oferecendo, Wangji?
Seus dedos dançaram pela panturrilha nua de Wangji.
A nuca de Wangji esquentou, e embora todos os instintos lhe dissessem para não ser um tolo, para ficar o mais longe possível desse demônio, ele seguiu adiante em sua tolice de qualquer maneira.
— Se Yanli não pode ou não quer, então sim. Estou oferecendo.
Melhor ele do que os filhos do Pastor Jiang. Isso foi o que ele disse a si mesmo, de qualquer maneira.
O sorriso de Wuxian desapareceu, e suas sobrancelhas se juntaram.
— Você está realmente falando sério. — Ele suspirou. Olhando para cima, ele deslizou para fora da cadeira e acomodou seu peso na cama.
Antes que Wangji pudesse reagir adequadamente, Wuxian começou a rastejar sobre ele, fazendo-o recuar, descansando no cotovelo de seu braço bom, olhos arregalados enquanto o vampiro pairava sobre ele, presas brilhantes.
— Você tem certeza de que está pronto para isso? — Wuxian respirou. Seu cabelo preto balançava no rosto de Wangji, fazendo cócegas em sua bochecha.
Wangji se encolheu, seu corpo mantido em uma posição extremamente desajeitada enquanto sua mente se agitava. O que ele deveria fazer? Onde ele deve colocar as mãos? Doeria?
Ele se mexeu um pouco, tentando aliviar a tensão em seu ombro machucado, e prontamente deslizou para fora da cama. Wuxian o pegou no meio do caminho para o chão, mas empurrando seu ombro enviou uma nova pontada de dor em seu peito.
— Ow, — Wangji gemeu. Wuxian, com aquela força vampírica anormal dele, gentilmente o colocou de volta na cama e voltou para sua cadeira.
— Considere este um momento de ensino. Você tem alguma ideia de quanto sangue você perdeu, seu idiota? ― Wuxian disse com desgosto. — Acho que você perdeu mais do que eu, pela metade. E eu disse-te que não seria eu que te mataria. Alimentar-se de você nesse estado seria a morte certa. — A expressão de Wuxian ficou perturbada. — O que exatamente aconteceu lá fora, Wangji?
— Eu vi alguma coisa. — O olhar de Wangji voltou-se para dentro, desfocado ao recordar o crânio com chifres e os longos membros fusiformes.
— Que totalmente vago. Importa-se de elaborar para as chegadas tardias?
Wangji olhou para ele.
— Me desculpe. Minha recuperação é um pouco lenta graças ao ferimento de bala que sofri no ombro.
Wuxian ergueu as mãos em falsa rendição.
— O sarcasmo é a defesa de um homem sem imaginação.
— Eu mudei de ideia. Você é um monstro.
Wuxian abaixou a cabeça, um sorriso inclinado no canto da boca.
— Você se lembra?
— Eu lembro. — Ele hesitou, tentando invocar a memória. A princípio sua mente não cooperou, mas o caçador determinado que se recusou a ser dissuadido veio à tona. Wangji descreveu a criatura com hesitação, mas precisa, se não perfeita, recordação. Os pequenos detalhes lhe causavam problemas, como o número de galhos presentes nos chifres, um número muito maior do que ele tinha visto em qualquer cervo ou alce real. Ele até conseguiu uma estimativa bastante precisa da altura da criatura e do comprimento de seus membros, embora tais minúcias fossem difíceis de avaliar a uma distância considerável. O que faltava em sua descrição era o terror alucinante que sentia, e algo mais, um detalhe importante que permanecia fora de seu alcance.
Wuxian assentiu, sua sobrancelha levantada.
— Muito bem, Mestre Lan. — Ele murmurou.
Havia algo nas palavras suaves de Wuxian que o fez se sentir na defensiva, embora não houvesse nenhuma mordida real nelas.
— Sou um investigador treinado da Society. Devo anotar o máximo de detalhes possível —, disse Wangji. Por um instante, ele se perguntou se Wuxian tentou compeli-lo, mas quando ele alcançou os detalhes de sua memória, eles vieram prontamente o suficiente. Talvez ele tenha rompido qualquer influência que minasse sua importância, exceto... ele não acreditava que tivesse escapado completamente.
Ele franziu a testa, incapaz de descartar aquela sensação mesquinha de que estava esquecendo alguma coisa, quando os movimentos sinuosos de Wuxian atrapalharam seus pensamentos.
O vampiro se levantou e começou a andar de um lado para o outro no chão, fluindo com graça em meio à frustração.
— O que você está descrevendo, em teoria, quase soa como um espírito da floresta. — Ele fez uma pausa, puxando o lábio. — Ou algo que poderia ser confundido com um.
— Confundido com um? — Wangji esfregou cuidadosamente o ombro dolorido. — Antes de vir aqui, eu não achava que existiam muito mais do que vampiros.
Wuxian franziu a testa.
— Eu pensei que a Society lhe deu uma educação extensa.
Lá estava novamente, o desejo de defender, de responder, embora o tom de Wuxian estivesse longe de ser acusatório. Wangji se curvou, intrigado com a mudança mercurial de seu temperamento.
— É extenso, no que diz respeito a ameaças reais. Esta não é a tarifa típica. Ele passou a mão pelo cabelo, não acreditando no que estava prestes a dizer.
— Estamos aqui perseguindo criaturas que parecem pertencer a um conto de fadas. Estas são entidades desconhecidas.
Um olhar de conhecimento passou pelo rosto de Wuxian.
— Existem muitas entidades por aí que não querem ser conhecidas, Wangji. — Ele parecia perturbado. — Quando eu trouxe você para isso, eu acreditava que a Society possuía uma maior compreensão dos mistérios do mundo. —Ele olhou para a bola de prata que tirou do ombro de Wangji. — Parece que me enganei.
— A Society deve ter encontrado algo assim antes, — insistiu Wangji, não gostando da sensação de ignorância que surgiu enquanto Wuxian falava. —Seus caçadores viajaram por todo o mundo. Eles...
Wuxian revirou os olhos.
— Se eles encontraram esses seres, por que eles não informaram seus caçadores sobre eles?
— Eu não sei, — disse Wangji, odiando a nota de incerteza em sua voz. Wuxian fez uma pausa, olhando para ele com um olhar que trouxe um calor muito diferente para a nuca de Wangji.
O vampiro se sacudiu.
— Bem, pouco antes de partirmos ontem, eu rastreei o contato que eu estava procurando. — Sua expressão se fechou. — Eu posso ser capaz de obter alguma clareza sobre nosso mistério, mas você vai ficar aqui. É muito arriscado levar você, — disse Wuxian, uma pitada de arrependimento em sua voz antes de seu rosto se contrair.
— Você está indo? Quem você está encontrando? — Wangji se levantou da cama. A sala girou sob seus pés. Ele ignorou a sensação e arrancou a bala da mão de Wuxian. — Eu não sou um maldito obstáculo.
— Você nunca seria um obstáculo, — Wuxian murmurou,levantando as mãos para pegar Wangji se caísse. Uma carranca se formou entre suas sobrancelhas delicadas.
— Eu disse risco, pois não estou disposto a arriscar mais danos a você. Por favor, Wangji, descanse. Você não será de muita ajuda para nós se não se curar.
Wangji ignorou isso também. Ele estava ficando muito hábil em ignorar bons conselhos, embora soubesse que permanecia de pé por pura teimosia. Apesar disso, ele se recusou a deixar o vampiro ditar o que ele fazia agora.
— Apenas me diga, — Wangji exigiu.
Wuxian se endireitou. Seu humor era difícil de decifrar quando ele revirou os ombros e soltou uma respiração lenta. Wangji pensou que ele quase parecia... com medo?
— Quem eu deveria ter procurado em primeiro lugar, em vez de implorar à Society que me enviasse um Caçador jovem. — Suas narinas se dilataram. —Embora o preço por seu conhecimento seja alto.
Wangji fez uma careta.
— Que surpreendentemente claro. Importa-se de especificar quem são?
— Não—, disse Wuxian.
— Neste caso, é melhor manter sua ignorância. — A sinceridade de suas palavras deu a Wangji uma pausa. O olhar do vampiro brilhou. — Não me siga, Wangji. Se eu não voltar, preciso que você mantenha Yanli e sua família em segurança.
O vampiro parecia querer dizer mais alguma coisa, sua expressão tão dilacerada que Wangji se viu tentando alcançá-lo, embora não tivesse certeza do que faria se pegasse Wuxian.
Seus dedos roçaram a manga do vampiro, mas Wuxian deslizou para longe como uma brisa, deixando Wangji agarrado ao ar. A porta se fechou um segundo atrás do vampiro em fuga.
Um emaranhado de sentimentos lutou no peito de Wangji. Se eu não voltar...
Ele cambaleou um passo à frente, apoiando-se na parede. Pânico e indignação disputavam o domínio. A indignação venceu.
— Não se atreva a pensar que pode me deixar para trás, seu vampiro estúpido!
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