Vida Adulta

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CLÍNICA MÉDICA II

Aquilo não podia ser real.

Eu não sabia de absolutamente quase nada daquela prova. Certo, talvez eu estivesse exagerando, o fato é que exigia conhecimento de praticamente todo o curso, pois a maioria das questões eram casos clínicos, mas não tive tempo de revisar no ultimo mês, então algumas daquelas palavras simplesmente não estavam fazendo sentido. Certo, eu precisava ficar calma, eu tinha todo o conhecimento dos últimos cinco anos estudando e tirando notas excelentes. Eu estava apenas nervosa demais. Tentei respirar fundo e ficar calma, contar até dez e reler as questões. 

Mulher, 57 anos, apresenta poliúria, polidipsia--

Parei imediatamente de ler, não lembrava o que diabos era polidipsia. Céus! Eu sabia que em casos clínicos o que importava era saber todos os detalhes das complicações que os pacientes apresentavam, analisar minuciosamente o que o problema indicava, reunir os sintomas e resultados dos exames, para chegar a uma conclusão. Eu precisava ter o famoso raciocínio clínico, mas como eu teria isso se não sabia o significado de certas palavras? Com certeza já tinha visto isso em algum momento, e se tivesse tido tempo para estudar, teria relembrado algumas coisas, estava me sentindo a pessoa mais burra daquela sala. Vou trancar o curso, é isso, ninguém merece uma médica incompetente. Eu estava lidando com vidas!

- Ei. - Ouvi uma voz rouca sendo sussurrada. Olhei para o lado, vendo Hope Mikaelson e seus olhos azuis brilhantes em mim. 

Não trocamos mais e-mails durante esse mês, eu a via as vezes no refeitório, na lanchonete/bar do senhor Tarrayo, ela sorria para mim e eu, obviamente retribuía, mas era somente isso.

- O que está errado? - Ela questionou. 

- Hum... Não tive muito tempo para estudar. - Confessei, baixinho. Mordendo o lábio inferior, estava nervosa por estarmos conversando no meio de uma prova. O professor poderia pensar que estávamos colando e ao invés de tirar - provavelmente um cinco - eu ficaria com zero.

Hope suspirou e encostou-se na cadeira, colocando sua prova em um ângulo no qual eu conseguisse ver todas as suas respostas. Fiquei surpresa com aquilo, mas eu não podia colar, era errado demais, principalmente cursando algo no qual eu lidaria com a vida das pessoas, qualquer erro em uma situação real poderia ser fatal. Quando ela olhou para mim, confusa, eu apenas neguei com a cabeça e olhei para minha prova.

- Estou de olho em vocês, senhorita Mikaelson e Saltzman. - Meu coração acelerou quando o professor disse aquilo, fiquei com medo de que ele pegasse nossas provas, mas ele não o fez. Suspirei aliviada e continuei tentando recordar dos cinco anos de matérias cursadas.

O restante do tempo que nos foi designado para terminar aquela prova, eu gastei fazendo o que eu sabia, não era possível que cinco anos de estudos intensivos não iriam me ajudar a pelo menos tirar uma nota não tão horrível. Sai triste da sala. Após entregar a prova para o professor, fui diretamente para o jardim da faculdade e sentei perto de uma árvore, chorando.

Felizmente, ninguém estava vendo. Todos estavam ocupados com suas próprias vidas, além disso, sentei de costas para o campos, eu queria chorar em paz, ao ar livre, acho que tenho esse direito.

Ouvi meu celular disparar, quando olhei a hora, levantei imediatamente e corri para meu quarto, precisava me arrumar para trabalhar.

Era essa a vida adulta? Eu não tinha tempo nem para chorar.

Enquanto tomava banho, pensava sobre minha vida e chorava um pouco também. Era tanta coisa, eu não tinha tempo para nada e com essa prova, comprovei que não estava fazendo o suficiente.

Crush On You - Hosie Onde histórias criam vida. Descubra agora