Capítulo 1

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Samantha 🌸

Eu aprendi desde muito cedo tenho que me virar e lutar pelo que é meu e a vida me ensinou que ninguém, nunca pode tirar aquilo que me pertence. Ela só nos dá uma única escolha: lutar; custe o que custar, lute pelo seu ideal e pelos seus sonhos, pois sempre será só você contra todo o mundo.

Eu fui nascida e criada no PPG, mesmo com condições precárias, meus pais sempre trabalhavam muito para poder me dar uma boa condição de vida. Após o nascimento da minha irmã, Eliza, que é uma criança autista; as coisas ficaram bem complicadas aqui em casa. Com os tratamentos nada barato de Liza, meus pais tiveram que optar por horas extras e até mesmo recorrer a um segundo emprego.

Era perceptível o cansaço deles, o esforço que eles faziam para nos sustentar e conseguir nos entregar o melhor. Na época em que as coisas começaram a ficar apertadas aqui em casa, eu comecei a trabalhar em uma lanchonete famosinha aqui da comunidade, a lanchonete da praça. Eu sabia que o dinheiro que eu recebia era pouco, mas era garantido que minha irmã teria seus tratamentos em dia e isso tirou uma enorme preocupação das costas dos meus pais.

Quando eu estava prestes a completar meus 18 anos e me formar no colegial formativo, o PPG estava em uma época alarmante, onde praticamente todos os dias o BOPE estava tentando pacificar o morro. E em uma dessas invasões, fizeram uma chacina, eles invadiram o morro bem na hora que os trabalhadores, pessoas de bem estavam saindo para trabalhar. Eles deixaram mais de 20 corpos no chão e segundas informações que soltaram pelo morro afora, apenas 2 eram traficantes e o resto eram trabalhadores, que não tinham nada a ver com aquela operação nada pacífica. Meu pai estava no meio daqueles 18 corpos, ele estava indo trabalhar e quando um daqueles policiais que assassinaram aquelas pessoas foi dar entrevista, ele disse que havia uma arma em sua mão; o que era totalmente mentira.

Minha mãe permitiu que o luto lhe engolisse, ela não soube lidar com a morte de meu pai, ela literalmente perdeu o seu sentido da vida e isso ocasionou com que ela perdesse seu emprego e após isso entramos em uma crise financeira absurda. Isso fez com que ela se abalasse mais ainda e desenvolvesse depressão. Com nossa situação financeira tivemos que interromper os tratamentos de Liza e mudá-la para a escola daqui do morro. O dinheiro que eu conseguia na lanchonete eu pagava nossas contas e quando eu fazia trabalhos extras, guardávamos para alguma emergência.

Durante nosso período de luto, nunca saímos do lado uma das outras e nunca deixamos de apoiar e incentivar a Liza. Nunca demonstramos fraqueza para ela pois ela era muito nova para entender nossa real situação, então quando Liza vinha festejar conosco, festejávamos com ela e sempre foi assim. Quando eu concluí meus estudos, eu pude me dedicar mais ao trabalho, fazia horas extras até dizer chega, as vezes chegava em casa altas de madrugada. Tinha dias que eu não conseguia ver minha mãe, eu conseguia ver Eliza pois eu a levava para a escola. Até que uma vez minha mãe ficou me esperando voltar para casa e tivemos uma conversa muito importante para nossas vidas e eu me lembro dela até hoje.

Flashback on

Tirei meu molho de chaves da minha bolsa e abri a porta, porém ela estava emperrada por estar enferrujada. Anotei mentalmente que deveria trocar aquela porta com urgência, pois Liza poderia se machucar nela. Dei um empurrãozinho nela e consegui entrar em casa e logo após fechei a porta e me virei para colocar minha bolsa no sofá

Samantha– Aí mãe, que susto! — Coloquei a mão no peito. Ela estava sentada no sofá com um semblante pensativo e um pouco confuso. — Por que a senhora está acordada uma hora dessas? — Perguntei enquanto colocava minha bolsa no sofá e me sentava para tirar meu tênis.

MônicaOi filha, me desculpe pelo susto - Riu pelo nariz e me olhou com compaixão. — Como foi o trabalho, minha pequena?

SamanthaFoi bem movimentado, mas eu consegui ganhar uma gorjeta de 150 reais, juntando com a de ontem podemos ir ao mercado comprar algumas coisas. — Abri minha bolsa e peguei minha carteira que estava dentro dela e abri pegando o dinheiro e entregando para ela. — Sei que não é muita coisa, mas já ajuda. Eu vou receber semana que vem e aí... — Ela me cortou e começou a falar.

Mônica Era isso que a mamãe queria conversar com você... — Limpou a garganta e se ajeitou no sofá se virando para mim e pegando minha mão. — Primeiro eu quero te pedir perdão por ter jogado essa responsabilidade nas suas costas, quando era para mim estar sustentando você e sua irmã. Eu fui fraca e não soube controlar meus sentimentos, não soube ajudar minha filha em um momento difícil e entreguei, não, na verdade eu joguei, joguei em seu colo uma responsabilidade que deveria ser minha. - Seus olhos estavam lacrimejando e sua voz estava falhando, ela olhou para o chão por um instante para tentar se recompor. — Essa semana, quando você saiu para trabalhar, eu recebi uma proposta de emprego como cuidadora de idosos lá em Portugal. O salário é bom e eu indo para lá, podemos nos recompor e você vai poder fazer sua faculdade e sua Irmã os tratamentos dela. Quando me mandaram essa proposta, eu aceitei sem pensar duas vezes... eu queria arrumar um trabalho por aqui para não ter que deixar vocês sozinhas, mas eu não iria conseguir trabalhar e todas as vezes em que eu saísse para trabalhar e começasse uma operação e acontecesse comigo o mesmo que aconteceu com seu pai, vocês não iriam ter mais ninguém e eu não iria me perdoar. Mas eu também tenho medo de deixar vocês aqui e pensarem que eu abandonei vocês. Eu perguntei milhões de vezes se podia levar acompanhante e eles disseram que não porque eu iria ficar na casa do senhor. Mas assim que eu receber eu compro uma casa lá e iremos voltar a ficar juntas. Eu prometo!

Eu prestei atenção em tudo o que ela falava. De certo modo dava para entender o lado dela. O medo nos priva de muitas coisas, nos priva de tudo o que o mundo nos proporciona e naquele momento eu podia ver o medo, a angústia e a tristeza em seu olhar

Samantha Mãe, eu sei que a senhora não faria nada que pudesse nos prejudicar. Se a senhora acha que indo para Portugal irá nos ajudar, vá. Lembra que temos que apoiar umas as outras independente de qualquer coisa? Quando a senhora conseguir seu salário, foque em você, iremos ficar bem aqui, não se preocupe — Me levantei e dei um abraço nela.

Flashback off

Minha mãe sempre me ensinou que não devemos renunciar a oportunidades. Desde a infância, nossas vidas nunca foram fáceis, sempre tivemos dificuldades e dívidas, mas sempre levamos a vida com altruísmo. Sempre foi nós três para tudo; eu, mamãe e papai e depois virou quatro pois Eliza chegou, mas se tornou três de novo e por um momento deixamos as dificuldades nos assolar. Mas nos superamos as dificuldades ou pelo menos tentamos.

...

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Beijus💋❤️

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