Capítulo 2

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Major 🧸

Desde pivete, meu sonho era ser jogador, afinal, que menor nunca sonhou em ser jogador de futebol? eu até fazia aula em uma escolinha de futebol aqui do morro, eu era um menor bom, tinha futuro no bagulho. Mas a vida sabotou aquele moleque, mostrou da pior forma que a vida não era só sonhar. Sempre fui um moleque esperançoso, corria atrás do meu desde que eu tinha 8 anos, fazia vários bicos e sempre ganhava uma merreca em troca, achava que com 50 reais podia mudar o mundo, mas não era bem assim.

fui criado pela minha vó, minha coroa, mãezona pra caralho. Sempre fez de tudo por mim, se esforçava demais pra me ver feliz. A coroa não tinha condições de comprar um chinelo novo pra ela, mas fazia questão de me dá tudo do mais caro. Quando eu completei 10 anos, minha velha descobriu um tumor no cérebro, fiquei desnorteado quando recebi a noticia de terceiros. Tava voltando da escola felizão, louco pra mostrar meu boletim cheio de nota 10 e quando cheguei na porta de casa, tinha várias pessoas chorando, não entendi nada. 

minha vó era amada por geral, ela cuidou de geral, foi fundamento nesse morro. Tinha um coração que não cabia no peito. Quando ela se foi, favela inteira ficou de luto. O bagulho durou semanas, mas logo depois caiu no esquecimento, mas foi pra eles, não pra mim. Depois daquele dia, larguei a escola e na semana seguinte fui expulso da escolinha de futebol porque não tinha pagado o mês anterior. Fiquei desnorteado, não tinha mais nada e nem ninguém. Nem a mulher que me colocou no mundo tava lá pra me acudir.

Bagulho foi que com 10 anos de idade, pivete cheio de futuro, não tinha pra onde correr, foi pra boca pedir pra virar bandido porque tava a dias sem comer. Geral riu de mim, moleque menor que um fuzil, achando que ia conseguir alguma coisa, conseguiu foi porra nenhuma. Mas o Popeye, dono da porra toda naquela época me deu mó moral, adotou pá filho. A mulher dele, Simone, minha outra mãezona, me ajudou muito, pegaram pá filho mesmo.

Até que numa operação contra o PCC levaram geral, lembro que eu tinha 17 pra 18, invadiram minha residência e caparam minha mãe na minha frente, tudo por ganancia. Queriam dominar o morro e pegaram no ponto mais fraco do Popeye. Minha mãe morreu olhando nos meus olhos e sussurrando que me amava. O ódio daquela cena subiu pra mente e eu só queria vingança, naquele dia me tiraram pra merda, esculacharam nois, bateram e os caralho

Popeye chegou em casa achando que tinha abalado naquela guerra, mas foi ela que abalou com ele, o cara ficou doidão quando viu aquela cena dentro da sala da casa dele. A mulher morta e eu, o filho dele, jogado no chão as traças, o cara assinou a sentença dele indo atrás dos mano que fizeram covardia, sem mais e nem menos. Tu esperou a poeira abaixar? Hãm, nem ele, foi no mesmo dia atrás dos caras. Tu sabe o que aconteceu, era óbvio que o cara ia cair. Ele foi com sede de vingança e não pelo morro e sim por nois, Simone e eu. 

Depois daquele dia, a gestão veio pro meu nome. Simone nunca tinha deixado eu chegar perto de uma arma, quando Popeye tinha me levado pra goma dele e contou a história pra ela, a mulher me pegou no cacete sem nem me conhecer, tu ligou pra isso? nem ela. Mas eu nem questionei porque eu sabia que estava no erro. O braço direito do Popeye, o Russo, que ficou de frente, disse que iria esperar eu completar 18 anos pra pegar a gestão, segundo ele, ele não queria Simone puxando o pé dele de madrugada vendo eu na boca, podendo tá estudando.

Quando menor, depois da morte das pessoas mais importantes pra mim, me fechei com geral, fiquei pocas idea. Não troco lero com ninguém, tirando os mais chegados. Quando meus pais se foram, restou só eu e Julia. Russo sozinho pegou nois pra cuidar, Julia que era menor e mulher sofria abeça quando precisava das coisas de menina dela, Russo logo tratou de achar uma dona, porque segundo ele "essa vida de pai não é pra mim". 

Com 21 anos o meu pivete chegou no mundo, em um baile qualquer, comi a ninfeta e essa porra engravidou. Uma coisa que Popeye e Russo me ensinou é arcar com as consequências e foi o que eu fiz, assumi o menor. Acabou que quando aquela vaca leiteira deu a luz no meu menor, ela meteu o pé do morro. Nunca mais vi a desgraçada, mas suave, criei meu menor conforme fui criado; com o amor da minha vó e da Simone e sabedoria do Popeye e do Russo. Óbvio que ele sempre vai sentir saudades de um amor materno, como na minha infância eu senti do paterno. Mas não dá pra se ter tudo na vida.

E eu sigo a minha vida assim, tranquilo e posturado, nada mais tira minha paz. Tem que ser muito pica de ouro pra tirar esse negão do sério. Comando meu morro na maior sagacidade, sem nenhum problema, tenho meus menor do meu lado, então tá paz, tá lazer. Aprendi do pior jeito que, com a mesma mão que a vida te tira as coisas, ela de dá de volta. Nunca viva no comodismo da vida, um dia ela pode te sabotar.

...

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Beijus ❤️💋

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