Capítulo 7

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Samantha 🌸

Eu me permiti chorar tudo o que eu estava segurando durante muito tempo. Eu prometi ser forte e aguentar essa barra pela Eliza, mas eu não sou de ferro.

Eu também tenho meus medos, inseguranças e dores e não vou deixar de sentir isso só por uma promessa.

Meu coração começou a ficar acelerado e minhas mãos ficaram trêmulas. Era horrível a sensação de ser atingida pela ansiedade. Cada vez que as lágrimas desciam, minha falta de ar ficava mais intensa.

Eu olhei para um ponto fixo e fiquei tentando controlar minha respiração, mas minhas lágrimas não cessavam. Eu não me machucava quando tinha crises, eu tinha medo da minha mãe ver ou até mesmo a Eliza.

Cada pessoa reage de um jeito quando se tem uma crise e cada pessoa consegue se controlar de uma forma. Eu não poderia me afundar como minha mãe fez, eu tinha a Eliza para cuidar e eu não poderia deixar que ela perdesse a infância por conta da minha incapacidade.

....

Eu preferi não acordar a Eliza, então sai de casa com ela no colo mesmo.

Sabe quando você chora a noite inteira e ao acordar seus olhos ficam inchados e seu nariz entupido? Eu estava exatamente assim, sem contar meu rosto vermelho e ardendo por causa daquele idiota.

A consulta da Eliza era as 12h e já são 10: 50h da manhã. Eu tenho a plena certeza de que iremos chegar atrasadas e eu espero que eles não desmarquem nossa consulta.

Eu estava descendo o morro e lembrei de passar na boca. Eu peguei o único dinheiro que eu tinha para conseguir pagar o aluguel. Quando eu cheguei lá, tinha uns meninos lá na frente e então eu fui na direção deles.

Samantha– Eu queria falar com seu chefe, onde é que eu acho ele? — Falei com uma voz séria e fiquei encarando eles. Eles se entreolharam e um deles pegou um radinho e ficou falando, não dava para entender nada do que eles estavam falando.

XXX– Pode entrar aí, vou te levar lá. — Me mediu com um olhar malicioso e eu fiz cara de nojo. Ele me guiou até uma sala e abriu.

Eu entrei e limpei a garganta e antes de pegar o dinheiro da calça eu ajeitei a Liza no meu colo e peguei o dinheiro da calça.

Major– Manda o papo, novinha — Ele se encostou na cadeira e tirou a bituca de maconha da boca e ficou me encarando.

Eu só coloquei o dinheiro em cima da mesa e virei as costas para sair da sala, ele fez um barulho com a boca para chamar minha atenção.

Major– Tu tem que assinar o bagulho aqui. — Me virei e voltei para perto da mesa, eu olhei para a Liza no meu colo e depois encarei ele e sussurrei um "tá de sacanagem" e soltei um suspiro.

Peguei a caneta e assinei do jeito que dava, joguei a caneta na mesa e sai daquele lugar fedorento.

Andei o mais rápido possível para longe daquele lugar. Depois de um tempo, cheguei na barreira do morro e já fui chamando um Uber. Uns 3 cancelaram e depois de um bom tempo um aceitou. Eu fiquei esperando encostada em uma parede que era o único lugar que tinha sombra. Até que depois de um tempo o carro chegou e nos levou até a clínica.

Chegamos lá na clínica era 12:10 e mesmo assim não questionaram em atender a Liza, eu fiquei super aliviada com isso. Hoje era o dia de Psicoterapia e a Liza não podia perder. Eu não podia entrar na sala, então fiquei na recepção esperando e tudo isso demora em torno de 1 hora e meia.

...

Nós voltamos de ônibus, então demorou um pouco para chegarmos no morro. Mas quando chegamos, fomos direto para o mercado.

Entramos no mercado e eu peguei um carrinho, coloquei a Liza dentro e fui direto nas coisas que eu precisava. Enquanto eu pegava algumas coisas Eliza me pedia outras e eu dava né. Eliza foi mexer na prateleira e derrubou um pacote de biscoito.

Samantha– Eliza toma cuidado! — Falei com uma voz calma e me virei para pegar, mas uma menina já tinha pegado. Olhei pra ela e agradeci. — Obrigada!

Julia– Por nada. — Deu um sorriso e depois me lançou um olhar preocupado. — O que houve com o seu rosto?

Samantha– Ah, longa história. Mas eu estou bem. — Coloquei a mão no rosto e dei um sorriso.

Julia– Você é a professora do Gabriel, né? Eu sou a menina que você atendeu ontem. — Eu atendi tantas meninas ontem, que se eu me lembrasse dela, seria um milagre. — Seu nome é Samantha, né? O meu é Julia.

Samantha– Prazer Julia, muito bom te conhecer. — Dei um sorriso forçado e ela continuou ali. Eu só queria ir embora.

Julia– Desculpa por ontem, aqueles meninos conseguem ser tão escrotos.— Falou revirando os olhos. Agora eu lembrei quem era ela, ela estava sentada junto com o pai do Biel.

Samantha– Realmente... Chega a dar nos nervos. — Ela deu risada e eu soltei uma risada fraca.

Julia– Você tem certeza que está tudo bem? Isso parece ter sido um tapa. — E realmente foi.

Samantha– Está tudo bem sim. Qualquer outro dia, te conto o que foi. — Ela apenas assentiu e pegou o celular.

Julia– Me passa seu número pra gente ir conversando. Preciso de amigas novas, as meninas desse morro só falam comigo para se aproximar do meu irmão. — Ela estendeu o celular para mim e eu anotei meu número e depois entreguei o celular para ela.

Samantha– Desculpa o desânimo na conversa. É que eu estou bem cansada, eu só quero tirar essa roupa e tomar um banho bem gelado para desestressar. — Soltei um suspiro e ela deu uma risada.

Julia– Não tem problema, compreendo totalmente. Vou te mandar uma mensagem quando eu chegar em casa, podemos marcar de fazer alguma coisa hoje, jogar um papo fora e tals.

Samantha– Podemos ver isso. Mas agora preciso ir viu, foi um prazer conversar com você. — A Liza deu tchau pra ela e ela retribuiu e então eu saí dali e fui para o caixa.

Paguei as compras e fiquei olhando as bolsas. O que deu na minha cabeça de comprar tudo isso? Não sei como vou levar essas coisas com a Liza aqui.

...

Na Minha MiraOnde histórias criam vida. Descubra agora