Capítulo 6

8.3K 518 23
                                    

Samantha 🌸

Hoje a Eliza tem consulta, eu acordei às 6 da manhã para conseguir preparar as coisas para chegarmos lá no horário. É sempre muito cansativo a nossa rotina quando tenho que levar ela nas consultas.

Pela clínica ser longe é muito demorado o caminho e isso faz com que a Eliza fique estressada. Hoje, por exemplo, ela acordou em crise, o que não é nada bom para o dia de hoje.

Quando eu consegui acalmar ela, eu dei banho nela e escolhi uma roupa confortável para ela. Eu deixei o cabelinho dela sem nenhum acessório por conta de que se ela tiver outra crise, ela pode arrancar e se machucar.

Depois disso, a gente foi na padaria e compramos pão pra gente tomar café. Quando estávamos voltando pra casa, ela voltou a se irritar, então peguei ela no colo e fui andando o mais rápido possível.

Liza não é uma criança tagarela, ela é muito na dela e nas suas consultas com a fonoaudióloga, ela disse que temos que corrigir quando ela fala alguma coisa de errado, mas eu acho tão bonitinho, que às vezes eu deixo passar.

Quando chegamos em casa, eu deixei ela no sofá deitada e fui fazer seu café. Era a mesma coisa sempre e se eu tentasse mudar, ela se irritava.

Peguei um potinho e coloquei as uvas dentro, com um suco de laranja natural e fiz seu pão e logo fui entregar pra ela. Enquanto eu estava na cozinha preparando o meu café bateram na porta, o que eu achei estranho, porque não tenho amizades que venham aqui em casa a essa hora da manhã.

Lavei a mão e fui abrir a porta, quando eu abri me deparei com os mesmos caras de ontem, eu olhei para eles um pouco assustada e preocupada.

Samantha– Posso ajudar? — O cara que eu "discuti" ontem veio na minha direção empurrando a porta e isso fez com que eu quase caísse. Olhei pra ele indignada.

Ele começou a falar, até que ele disse algo que me deixou com muita raiva e eu acabei rebatendo e ele desferiu um tapa na minha cara. Logo depois disso, a Liza começou a chorar e muito.

Meus olhos encheram de lágrimas e meu peito começou a ficar apertado. Meu rosto estava ardendo, tenho certeza que estava a marca dos 5 dedos dele na minha cara.

Chaveirin– Você tá bem? — Chegou perto de mim e ficou me analisando com o olhar, eu só balancei a cabeça e fuji até a Eliza me abaixando no lado dela.

Samantha– Liza, respira fundo. Olha pra mim — Falei com uma voz serena e limpei o rosto dela que estava todo molhado pelas suas lágrimas.

Se para uma criança de 5 anos já é difícil lidar com seus sentimentos, imagina para uma criança autista? É mil vezes pior. Saber lidar com as crises que eles tem é pedir para ter um controle emocional muito grande. Não é fácil lidar com isso é desesperador tanto para quem cuida quando para quem sente.

E ver minha irmã daquele jeito, ver que ela presenciou um tipo de agressão física, me destrói. Se pudesse protegê-la de toda maldade do mundo, eu faria.

Marcola– DR só faz merda, nunca vi. Bora Chaveirin. — Eles saíram em silêncio deixando eu e Liza a sós.

Eu me sentei no sofá e peguei a Liza no colo e fiquei tentando acalmar ela, isso durou um bom tempo...

O aluguel estava atrasado por conta de que os remédios da Liza acabou. Quando minha mãe se mudou para Portugal, ela mandava uma quantia de dinheiro que dava para fazer tudo relacionado a Eliza, só que no ano seguinte, ela diminuiu o valor mas eu não questionei.

Com o valor que ela manda agora, eu só consigo pagar as consultas. O aluguel da casa é 100 reais, mas tirando isso, tenho que pagar a água e as coisas dentro de casa.

No meu trabalho da lanchonete, eu não recebo muito, recebo apenas 500 reais e tem meses que nem vem certo, vem faltando. Com as gorjetas que eu ganho, eu consigo juntar e colocar na nossa conta de emergência e minha emergência é Liza. Com esse salário da lanchonete, eu compro os remédios da Liza que não são nada acessíveis.

No trabalho da escola, eu recebo menos do que um salário de um professor. E todo o meu dinheiro são contados e eu sempre fiz tudo muito certinho, nunca ultrapassei as contas, sempre segui tudo a risca.

Fazer compras do mês, remédios da Liza, meus remédios, aluguel, conta da água, as consultas da Liza; sem contar que quando temos alguma emergência médica e temos que comprar remédio de fora, já é um prejuízo. E eu pago tudo com o meu salário da escola, tirando as consultas.

Quando eu olhei pra Liza, ela estava cochilando então eu deitei ela no sofá e fui me arrumar para irmos a consulta. Tomei um banho e logo sai com a toalha enrolada no meu corpo e fui até o guarda-roupa pegar uma roupa.

Peguei uma calça jeans e uma blusa de alça preta. Me vesti, passei a escova no meu cabelo e coloquei meu tênis.

Com todo esse alvoroço, perdi até a fome, eu fui na cozinha e fiz um lanche para a Liza comer no meio do caminho de ida e volta.

Coloquei as coisas dentro da minha bolsa e voltei para o quarto, abri o armário e peguei uma caixinha que eu guardava alguns trocados. Eu olhei pra caixinha e tinha 200 reais certinho, agradeci por isso e peguei as duas notas de 50 e uma de 100, só restou moedas lá dentro.

Eu fiquei sentada na cama olhando para as minhas mãos e a sensação de falta de ar e dor no peito voltaram a me atingir, meus olhos encheu de lágrimas e eu me permiti chorar por aquele momento. Eu estava sendo forte até agora.

...

Na Minha MiraOnde histórias criam vida. Descubra agora