𝒞𝒶𝓅𝒾́𝓉𝓊𝓁ℴ 4

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Um misto de sentimentos tomou conta de Helena.

— Como é que é? Deixa eu ver se entendi direito.... Você se apaixonou por outra pessoa? Por isso estava estranho depois que voltou? Por isso as "saídas" para correr?

George apenas concordou com a cabeça. Helena não sabia o que fazer, estava tão decepcionada, não imaginava que tudo isso tinha acontecido debaixo de seu nariz e não tinha percebido nada.

— Então me esclarece uma coisa George, porque você decidiu me contar isso agora?

— Porque eu não aguentava mais mentir para você, mas...

— Ainda tem mais?

— Depois do exército, eu percebi que quero viver mais do que nunca vivi. E eu não posso fazer isso estando casado com você.

— Puta que pariu George...

George a olhou surpreso. Helena raramente xingava.

— Então quer dizer que você quer sair por aí, curtir a vida e abandonar seus filhos, sua esposa, sua família?

— Eu não quero abandonar ninguém, jamais deixaria meus filhos.

Helena se levantou e encarou George.

— Você passou por muita coisa no exército George. E eu entendo que isso pode afetar a forma como você vê a vida e o mundo. Mas uma mulher te fez querer viver? Não sua esposa, não seus filhos, mas uma outra mulher?

— Helena...

— Tudo bem George, eu já entendi o que você disse. O que você quer fazer agora? Se divorciar?

George assentiu.

— Tudo bem, vou ligar para o advogado amanhã para dar entrada nos papéis.

— Eu... Eu já fiz isso. Por isso queria conversar com você antes.

— Você pensou em tudo, não é? Seu filho de uma... Não vou colocar sua mãe no meio disso.

Helena estava em choque, parecia que tudo aquilo era um pesadelo. O sonho de voltar a ter sua família feliz e normal acaba de ser destruído.

Usou todas as suas forças para não chorar, não queria mostrar como estava machucada com tudo aquilo.

— Helena, me perdoa. Nunca foi minha intenção te magoar.

— Vou entrar em contato com o advogado para falarmos sobre a guarda das crianças.

— Eu não queria que isso acontecesse...

— É, nem eu George.

— Eu vou embora. Vou ficar em um hotel por alguns dias até resolvermos tudo.

Helena o olhou e arqueou uma sobrancelha.

— Está esperando que eu o ajude a fazer as malas?

George se levantou e foi até o quarto. Arrumou algumas roupas e em seguida saiu de casa.

Sozinha, pôde chorar. Sentia como se tivessem arrancando fora seu coração. O que mais a machucava não era o fato da traição, e sim o fato de sua família não ter sido o suficiente para que ele quisesse viver. Helena se sentia horrível, insuficiente.

Não sabia o que fazer ou pensar. Como iria contar aos filhos o que aconteceu? Como iria lidar com tudo sozinha? A culpa e o desespero a consumiram durante aquela noite, até que adormeceu depois de tanto chorar.

{...}

Helena acordou com o som da campainha. Vestiu seu robe e se olhou no espelho, não era uma visão nada agradável. Seus olhos estavam vermelhos e inchados. E por sua expressão parecia não dormir há dias.

Desceu as escadas e pôde ver de relance pelo vidro lateral da porta que Dylan aguardava alguém atender.

— Bom dia Dylan.

— Bom dia Helena...

Dylan a olhou estranho. Percebeu que ela não parecia nada bem, mas não sabia o porquê.

— Está tudo bem?

Helena sorriu e suspirou, abriu um pouco mais a porta e deu passagem para que Dylan pudesse entrar.

— Está procurando pelo George?

— Sim, ele disse que precisava conversar comigo hoje.

— Entendi. Ele deve estar querendo te contar a novidade.

Helena começou a preparar um café enquanto Dylan se encostou no balcão da cozinha.

— Qual novidade?

— George e eu vamos nos divorciar.

Dylan ficou paralisado, acreditava que tinha ouvido algo errado.

— Como é que é? Não entendi.

— Ele deve te explicar melhor, mas resumindo, ele disse que se apaixonou por outra pessoa e que queria viver a vida com ela agora. E antes de conversar comigo ele já tinha entrado em contato com o advogado para falar sobre o divórcio, você acredita?

— Isso é brincadeira, não é?

— Quem me dera...

— Como assim Helena, não pode ser... George não faria isso.

— Eu parei de achar que as pessoas não fariam comigo o que eu jamais faria com elas.

— E onde ele está?

— Não sei, disse que ia para um hotel até resolvermos tudo.

Helena entregou uma xícara à Dylan e caminhou até parte externa da casa.

— E como você está?

— Estou bem...

— Eu nem sei o que dizer...

— Não precisa dizer nada Dylan... Você... Você estava no exército com ele, não sabia de nada?

— Não Helena, acredite, eu teria feito ele confessar a você no momento em que eu desconfiasse de algo.

— Eu sei desculpa... É que, tudo aconteceu tão rápido.

Ficaram em silêncio observando as flores do quintal por algum tempo. Dylan estava incrédulo, não conseguia acreditar no que aconteceu. Helena se esforçava ao máximo para transparecer força, mas aquilo estava sendo demais para ela.

— Eu preciso ir. Se você precisar de alguma coisa, qualquer coisa, me liga.

—Tá bom Dylan, obrigada.

O acompanhou até a porta e voltou para o quarto.

Helena não conseguiu comer, havia perdido todo apetite. Passou o dia deitada, chorando e repensando cada decisão de sua vida. Ainda não tinha conseguido encontrar uma forma de contar aos filhos que seu pai não iria mais morar com eles, que iam se separar.

Sem dúvidas, Thomas seria o mais afetado. Sempre foi muito ligado ao pai, o via como um ídolo a ser seguido. Claro, Olívia também sofreria, mas tinha uma conexão maior com Helena, talvez por ser mais nova.

A noite, decidiu se levantar e tentar com todas as forças seguir em frente. Olhou no espelho e começou a conversar sozinha.

— Como você pôde ter aceitado tão bem essa situação? Ok, você sempre optou pela paz, por resolver qualquer conflito na conversa. Mas isso? Você deveria ter gritado Helena, devia ter ao menos dado um belo tapa no rosto daquele cafajeste. Que droga! De todos os momentos em que poderia ter surtado, você perdeu o melhor.

A raiva agora se direciona a ela mesma. Não acreditava que havia se comportado tão educadamente nessa situação. Sabia que gritar ou bater nele, não mudaria ou resolveria nada, mas acreditava que se tivesse feito isso, se sentiria um pouco menos arrependida.

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