Insidioso Encanto - Triologia Encanto Sombrio, Vol. 1

CAPÍTULO III: Olhos na Penumbra

❝ Na penumbra da noite, olhos famintos capturam a aura enigmática da sua mais recente descoberta, uma alma repleta de segredos a serem desvelados.❞

Inês. Inês. Inês.
Um nome de origem grega, feminino, que significa casta ou pura. Mulheres com este nome são frequentemente vistas como sonhadoras, imaginativas e intuitivas. São sensíveis, o que as torna simultaneamente frágeis e independentes. Tendem a adaptar-se a qualquer ambiente, são profundamente ligadas às memórias de infância e possuem uma notável capacidade de reflexão e amadurecimento de ideias. Pessoas com este nome revelam uma personalidade sociável, que necessita de estar integrada em um grupo e de desenvolver atividades em conjunto. Sentem-se realizadas em ambientes tranquilos, previsíveis e harmoniosos.

Nunca tive um interesse particular na simbologia dos nomes. Não acredito que tenha utilidade para mim, pois concebo que os significados são atribuídos às coisas porque as pessoas têm uma necessidade intrínseca de acreditar em algo. Elas sentem a urgência de romantizar até os menores detalhes das suas vidas para justificar suas ações ou convencer-se de que são exatamente aquilo que o nome sugere, porque precisam de um arquétipo. A simbologia dos nomes, os signos, os testes de personalidade são apenas ferramentas que restringem a expansão da identidade de alguém, confinando-a dentro de rótulos sociais pré-existentes.

No entanto, um fato intrigante sobre Inês despertou a minha curiosidade: o seu nome parecia corresponder a uma das suas características mais marcantes, a intuição e a imaginação. Pessoas comuns imaginam sempre o pior quando estão diante de perigos iminentes. Por mais que sejamos educados desde a infância para ter cuidado com estranhos, ainda somos ingênuos ao julgar os outros pela aparência. Um homem bem vestido nunca será visto como uma ameaça até que revele a sua verdadeira natureza. O problema dos indivíduos de conduta duvidosa é que usam uma máscara para enganar e atrair seguidores, e é por isso que devemos estar sempre atentos. Inês parecia ter uma compreensão clara disso.

Viro-me para Inês. Ela está sentada no outro canto da sala, segurando a mala com firmeza, o seu pé balança nervosamente, evitando encarar diretamente as pessoas, mordendo o lábio inferior enquanto fixa o olhar na parede. Posso até deduzir que tipo de mulher ela é através das suas ações, mas não tenho essa vontade. Quero conhecê-la profundamente, porque algo me diz que ela será uma verdadeira caixa de surpresas.

Penso em me aproximar, mas um agente da polícia chega e informa que podemos ir embora, pois as questões burocráticas foram resolvidas; assumi a responsabilidade por todas as despesas. Inês começa a caminhar em direção à saída assim que recebe a resposta. Depois de me despedir do policial, sigo atrás dela e chamo-a.

— Inês.

Ela vira-se imediatamente. O vento da noite faz o seu cabelo esvoaçar, os seus grandes olhos encontram os meus com uma mistura de expectativa e surpresa. É como se, por um breve instante, ela estivesse tentando ler a minha alma, perscrutando os meus segredos mais profundos.

— Deixa-me levar-te a casa. Está tarde e é perigoso uma mulher andar sozinha.

Inês revira os olhos como se quisesse protestar, mas então diz:

— Andar com qualquer homem é arriscado. Estaria mais segura com um urso.

Impressionante. Esta mulher é fascinante. A escolha do urso não é irracional, é lógica, pois ela tem uma compreensão clara de que um urso, por si só, é um animal perigoso. Ela sabe que a morte seria certa com um animal daquele porte, mas seria rápida, ao contrário de estar com um homem. Thomas Hobbes disse uma vez: "o homem é o lobo do próprio homem". Inês encara-me como se estivesse à espera de algo. Apenas a observo antes de sorrir.

— Uma escolha sábia. — Digo, enquanto a acompanho. — Moras longe?

— Não.

Ela não parece ser o tipo de pessoa que gosta de conversar, por isso mantenho-me calado e apenas sigo os seus passos. Consulto o relógio: são 21:45. Levaria algum tempo até o Fausto chegar, então continuo a caminhar ao seu lado. Passamos pelo posto de gasolina e vejo o quão movimentadas estão as ruas, mas Inês caminha com o olhar baixo, como se nenhum ser humano fosse digno de olhar nos seus belos olhos. Não de uma forma arrogante, mas como se tivesse medo.

Durante o percurso, noto que Inês carrega consigo uma certa tensão, como se cada passo fosse uma decisão ponderada, como se carregasse um peso invisível nos ombros. A sua postura não é apenas de alguém que quer evitar contato, mas de alguém que está a lutar contra uma batalha interna. Quem seria ela verdadeiramente? Uma mulher que se protege do mundo, ou alguém que teme os seus próprios demônios?

— Chegámos. — Diz ela, interrompendo os meus pensamentos. — Obrigada por me teres acompanhado até aqui e desculpa pelos transtornos causados.

Os seus olhos encontraram os meus. Observo-a atentamente antes de dizer calmamente:

— Não aceito o teu pedido de desculpa.

Inês arregala os olhos, mas depois suaviza a sua expressão, deixando escapar um suspiro quase imperceptível.

— Está tudo bem não aceitares. Fiz o pedido porque, de fato, sinto muito. Se o pedido for aceito ou não, isso é uma escolha pessoal.

Ela afasta-se como se aquilo fosse a coisa mais simples do mundo, como se o seu aparecimento na minha vida, naquela noite, não tivesse despertado uma certa curiosidade. Mas havia algo mais... algo que não conseguia definir. Quem é Inês White? Estou intrigado e preciso conhecê-la profundamente. Será que ela é tão enigmática e misteriosa como o oceano? Capaz de nos afogar, apesar da sua beleza, porque somos iludidos pela profundidade do seu ser e achamos que a conhecemos por completo?

Enquanto a vejo desaparecer na entrada do prédio, sinto uma pontada de ansiedade. Algo nela puxa-me para um abismo que não sei se quero ou devo explorar, mas sei que vou. Porque há algo em Inês White que me faz querer mergulhar nas profundezas desse oceano, sem pensar nas consequências.