CAPÍTULO XI: Versos do Paraíso

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❝ Nas sombras do paraíso sombrio, dançam os versos da alma, onde a melancolia encontra sua canção etérea

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Nas sombras do paraíso sombrio, dançam os versos da alma, onde a melancolia encontra sua canção etérea.

A noite estendia-se como um manto de veludo negro, denso e impenetrável, capaz de engolir tudo à sua volta. A escuridão era-me familiar, uma companheira silenciosa nas horas mais solitárias, mas esta noite estava diferente. Em vez de me acolher no seu abraço frio e permitir que me escondesse num canto, senti uma energia vibrante a atravessar-me, como se cada sombra sussurrasse promessas de algo mais.

Hoje, a escuridão não me oferecia refúgio; convidava-me à ação. Não queria lamentar-me na cama, a pensar no quão miserável era. Hoje, queria dançar com ela. Era estranho, mas de algum modo excitante.

Este pico de energia fazia-me sentir viva, uma mudança drástica após um dia que me deixara exausta. Contudo, era como se a minha alma, sufocada por tanto tempo, implorasse por um sopro de liberdade, e eu estava disposta a conceder-lho, nem que fosse só por esta noite.

Sinto-me revitalizada, como se cada célula do meu corpo despertasse finalmente para a vida. A vontade de dançar, uma atividade que tinha quase esquecido, invadiu-me de forma avassaladora. Não queria apenas mover o meu corpo; queria que a minha essência se libertasse através dos movimentos graciosos de ballet que há muito não praticava. Levantei-me da cama, quase sem pensar, e dirigi-me ao guarda-roupa, onde as minhas velhas sapatilhas e a saia de ballet aguardavam, esquecidas. Vesti-me em silêncio, com uma serenidade inesperada, como se estivesse a preparar-me para um ritual secreto.

Em seguida, caminhei até ao terraço, onde o mundo parecia adormecido, entregue aos braços da noite.

A brisa nocturna acariciava suavemente a minha pele, como dedos invisíveis que prometiam liberdade. As estrelas, cintilantes e distantes, observavam-me de longe. Já não me lembrava da última vez que olhara para o céu com tanto fascínio, como se cada estrela guardasse um segredo.

Escolhi uma música que sempre mexera comigo, "Dark Paradise" de Lana Del Rey. O ritmo melancólico e as letras profundas eram como um eco dos meus próprios pensamentos, como se a cantora conhecesse a minha alma. À medida que a música preenchia o ar, comecei a mover-me, hesitante de início, mas logo fluindo com uma naturalidade que me surpreendia. Era como se o meu corpo se tornasse uma extensão da música, uma corrente fluida de emoções que palavras jamais poderiam descrever.

E foi então que o senti.

Daniel chegou silenciosamente, como uma sombra que emergia da própria noite. Parei por um instante, a música ainda a tocar, e virei-me para o encontrar a observar-me, os olhos fixos em mim como se estivesse a testemunhar algo sagrado. Havia algo no seu olhar que me perturbava, um misto de admiração e fascínio, como se eu fosse uma visão fugaz prestes a desaparecer.

O coração disparou no meu peito, não apenas por causa do olhar, mas porque ele estava ali, a invadir um espaço que eu julgava ser só meu.

O silêncio entre nós era quase palpável. Embora o impulso de desviar o olhar fosse forte, obriguei-me a encará-lo, mesmo que a vulnerabilidade me fizesse sentir exposta.

— O que estás a fazer aqui? — perguntei, a voz mais firme do que esperava. Desliguei a música e aproximei-me dele, sentindo a sua altura imponente a cada passo. — Como chegaste até aqui? Pelo que me lembro, nunca te disse onde vivo. — Cruzei os braços, num gesto defensivo. — Espera... tu és um stalker? Porque no sábado ligaste-me e eu nunca te dei o meu número.

O vento soprava sobre nós, e o frio do terraço era agora mais evidente. Senti um arrepio percorrer-me a pele, mas não sabia se era apenas o vento ou a presença inesperada dele.

— Vais ficar aí, sem responder às minhas perguntas?

A minha paciência começava a esgotar-se, mas tudo o que recebi de volta foi um olhar enigmático. Ele deu um passo em frente, a distância entre nós diminuindo rapidamente. O ar tornou-se pesado, quase sufocante, e a sua respiração quente chocou contra a minha pele. Uma parte de mim gritava para me afastar, para manter uma distância segura, mas outra parte, talvez a mais teimosa, mantinha-me ali, estática.

— Antes de responder às tuas perguntas — murmurou ele, a voz baixa e rouca — Podemos dançar juntos?

Os meus olhos arregalaram-se, o coração a martelar descontroladamente. Pisquei, atordoada, tentando processar as suas palavras. Dançar? Aqui, agora? O mundo à minha volta parecia distorcido, como se estivesse presa num sonho estranho.

— E-e...

As palavras escapavam-me, como se o ar tivesse fugido dos meus pulmões.

Ele não esperou pela minha resposta. A sua mão deslizou até à minha cintura, segura, mas gentil, como se soubesse exatamente onde tocar. Pediu à Siri para tocar "Le Monde" de Richard Carter, e a melodia suave encheu o ar. Deixei-me guiar pelos seus passos habilidosos, os nossos corpos a moverem-se em perfeita harmonia.

Era estranho como, em tão pouco tempo, ele conseguia prender a minha atenção, como se tivesse alguma espécie de poder sobre mim. A cada passo, sentia-me mais envolvida, o meu corpo respondendo ao dele, e, por um breve momento, esqueci-me do mais importante: ele sabia onde eu morava e tinha o meu número, algo que eu nunca lhe dera. Mas, naquele instante, com a música a envolver-nos e as estrelas a brilhar sobre nós, nada disso parecia importar.

Insidioso Encanto - Triologia Encanto Sombrio, Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora