Insidioso Encanto - Triologia Encanto Sombrio, Vol. 1

CAPÍTULO II: Impulso e Perigo

❝ Interessante ver como alguns humanos se entregam tão facilmente ao perigo, agindo impulsivamente sem sequer considerar as consequências. Uma presa fácil para quem sabe aproveitar as fraquezas alheias.❞

Daniel conduzia pela estrada, absorto em seus pensamentos, enquanto o silêncio preenchia o interior do automóvel. As luzes dos postes de iluminação pública delineavam o percurso à medida que avançava. Era mais uma sexta-feira, igual a tantas outras. Tinha acabado de sair do trabalho e seguia agora tranquilamente em direção a casa, em Belo Horizonte, em um trajeto que levava cerca de duas horas, considerando que seu escritório ficava no bairro de Benfica. Embora fosse uma rotina extenuante, Daniel já estava acostumado.

Ao passar pela área do cemitério, uma mulher apareceu repentinamente na estrada, forçando-o a frear bruscamente para evitar um possível acidente. No momento seguinte, avistou um homem a fugir, e uma dúvida surgiu: seria um conhecido da mulher ou um assaltante? Saiu rapidamente do carro antes que outros veículos começassem a se acumular, evitando assim um possível congestionamento.

Aproximou-se da mulher, cuja pele contrastava com a sua. Ela vestia um vestido preto curto de mangas longas, botas, e o cabelo estava preso em um rabo de cavalo. Tentava levantar-se, mas sua perna sangrava.

— Desculpe. — A voz dela era suave, quase um sussurro, enquanto se erguia com dificuldade, ajustando o vestido que realçava suas curvas. — Estava tentando fugir de um ladrão. — Com dificuldade em andar, começou a coxear, mas Daniel a pegou e a colocou dentro do carro.

— Vou te levar ao hospital.

— Não é necessário, estou bem.

Ignorando a recusa, Daniel fechou a porta e dirigiu-se à clínica Sunshine, evitando os hospitais públicos, que considerava inadequados. O trajeto tomou um rumo inesperado quando Inês, de forma súbita, forçou Daniel a virar o volante, resultando em um impacto contra o muro do Campus Universitário da Universidade Pedagógica.

Após o choque, Daniel segurava firmemente o volante, observando Inês sair do carro e caminhar com dificuldade. Algumas pessoas pararam para observar a cena com curiosidade. Sentindo a tensão no ar, ligou para seu melhor amigo e, ao terminar a chamada, virou-se para Inês, segurando-a pelo braço.

— Só podem ser um casal — comentou uma das pessoas que assistia, mas Daniel ignorou o comentário, mantendo o aperto firme no braço de Inês.

— Onde você pensa que vai?

— Larga-me. — Inês tentava se libertar.

— Vou perguntar outra vez, onde você pensa que vai?

— Vou para casa, deixa-me, por favor. Eu nem te conheço. — Ela continuava a tentar se soltar, mas quanto mais lutava, mais ele apertava.

— Você tem noção de que, em pouco tempo, já me causou vários problemas?

— Isso não teria acontecido se não me tivesses praticamente sequestrado. Eu nem te conheço.

— Eu não te sequestrai, estava tentando levar-te ao hospital.

— Ah, claro, podias muito bem ser um psicopata que me ia matar e abandonar o meu corpo em algum lugar, só porque sou uma potencial vítima em um momento de vulnerabilidade.

Um sorriso astuto surgiu no rosto de Daniel ao ouvir a resposta de Inês. Era curioso como uma pessoa comum podia pensar daquela maneira. Apesar de tudo, ele não podia negar a habilidade dela em avaliar a situação. Enquanto ela tentava se soltar, Daniel sentia-se cada vez mais intrigado pela determinação e coragem que ela demonstrava, mesmo diante da adversidade.

— Não vais a lugar nenhum. Vamos ficar aqui até a polícia chegar, e você vai ser responsabilizada por tudo o que aconteceu, incluindo os danos ao meu carro.

O rosto de Inês empalideceu ao perceber as consequências de suas ações impulsivas. Sabia que teria de enfrentar as repercussões, e isso a deixava inquieta.

Enquanto aguardavam a chegada das autoridades, Daniel observava Inês com uma mistura de curiosidade e admiração, intrigado pela complexidade da mulher que, de forma tão inesperada, cruzara seu caminho.