Inês, uma jovem marcada por traumas do passado, procura reconstruir a sua vida e descobrir a sua verdadeira força interior. Enquanto isso, Daniel, um homem enigmático e obcecado, é movido por um desejo profundo e secreto. A sua obsessão leva-o a apr...
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❝No compasso paciente do tempo, encontramos o ritmo perfeito para semear sonhos e tecer planos que florescerão no momento exato da colheita das boas realizações. ❞
Oito meses se passaram desde que Amanda foi dada como desaparecida. O tempo arrastava-se como uma tortura lenta, cada dia a pesar mais do que o anterior, enquanto a polícia batia com a cabeça nas investigações, sem avanços significativos. Mas eu sabia que eles não iriam encontrar nada. Fui meticuloso em apagar qualquer vestígio que pudesse levar até mim. Cada passo, cada movimento, foi calculado para garantir que o meu segredo permanecesse enterrado, como uma sombra invisível.
Durante esses meses, fingi ser um marido preocupado, desesperado pelo regresso da minha esposa. Era um ator consumado, encenando uma mentira com tal convicção que poucos poderiam duvidar da minha dor. Longe dos olhares curiosos e dos holofotes da polícia, ansiava pela presença de Inês. Mesmo sem trocar uma palavra com ela desde aquela noite no terraço da sua casa, eu a observava discretamente, vasculhava as suas redes sociais em busca de qualquer sinal de sua existência. Era a minha forma de me manter conectado a ela, mesmo que à distância.
O tempo que passei observando Inês deu-me uma visão mais profunda sobre a sua vida. Descobri os seus hábitos diários, os amigos com quem partilhava os momentos mais íntimos e os lugares onde encontrava refúgio. Percebi também as suas fragilidades, os momentos em que ela se sentia sozinha e vulnerável. Esses momentos alimentaram a minha obsessão, reforçando a necessidade de a ter ao meu lado, como um alvo que se tornava cada vez mais irresistível.
Agora, com tudo aparentemente calmo, sabia que era hora de agir. Comprei um buquê de rosas vermelhas, certificando-me de remover cuidadosamente os espinhos para não a magoar. No meu bolso, guardava um colar em forma de rosa, um presente que esperava que ela aceitasse com gratidão. Era um símbolo do meu carinho, disfarçado de gentileza.
Conduzi até ao seu bairro, com os nervos à flor da pele e a incerteza pairando no ar como uma névoa opressiva. Ao chegar, desci do veículo e enviei uma mensagem, pedindo para que ela saísse para me encontrar. Sabia que ela estava em casa e que a minha presença poderia surpreendê-la.
Caminhei até à entrada do prédio e fiquei parado, observando a fachada do edifício como um espectador de uma peça que não sabia se iria ter um final feliz. Enquanto esperava pela chegada de Inês, o meu celular começou a tocar. Era o detetive responsável pelo caso de Amanda.
— Senhor Oliveira, temos algumas atualizações sobre as investigações — disse ele, com um tom grave e ponderado.
— Alguma novidade? — perguntei, tentando manter a minha expressão neutra e o coração calmo.
— Infelizmente, não. Continuamos sem pistas concretas. Parece que estamos a dar voltas sem sair do lugar — respondeu o detetive, a frustração evidente na sua voz.
— Entendo. Mantenha-me informado sobre qualquer nova informação — respondi rapidamente, desligando o celular antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa.
A conversa com o detetive apenas reforçou a minha certeza de que tudo estava a decorrer conforme o meu plano. Eu havia apagado meticulosamente qualquer rasto que pudesse levar até mim, como um artista que esconde a sua assinatura. Ajustei a minha postura e então Inês apareceu no meu campo de visão. Ela parecia confusa com a minha presença, e, quando os seus olhos encontraram o buquê de flores, percebi que nunca tinha recebido flores antes. Naquele momento, ser o primeiro a proporcionar-lhe algo que ela nunca vivenciou seria o ponto de partida para a conquistar e finalmente torná-la minha.
Inês aproximou-se, com os olhos arregalados de surpresa e uma expressão que misturava curiosidade e apreensão.
— Daniel? O que estás a fazer aqui? — perguntou ela, com a voz hesitante, como se ainda tentasse entender a situação.
— Precisava de te ver, Inês. Precisava de te dizer o quanto significas para mim — respondi, estendendo o buquê na sua direção, como se fosse uma ponte para a nossa conexão. — Estas flores são para ti.
Ela pegou nas flores com mãos trémulas, um sorriso tímido surgindo nos seus lábios, iluminando o seu rosto.
— Nunca recebi flores antes... — murmurou, emocionada, como se tivesse recebido um presente dos céus.
— Fico feliz por ser o primeiro a fazê-lo — disse, tirando o colar do bolso. — E também trouxe isto. Um presente especial para alguém igualmente especial.
Ela olhou para o colar, com os olhos a brilharem de curiosidade e apreço. Coloquei o colar em seu pescoço, a proximidade criando um vínculo tangível que eu desejava há tanto tempo.
— Obrigada, Daniel. És realmente... — começou ela, mas fui interrompido pelo toque insistente do meu celular. Olhei para o número desconhecido na tela. Atendi, com o coração acelerado e uma pitada de nervosismo.
— Senhor Oliveira, aqui é o sargento Costa. Temos uma pista nova sobre a sua esposa — disse uma voz firme do outro lado da linha.
O meu sangue gelou, mas mantive a calma, tentando não transparecer a minha inquietação.
— O que descobriram? — perguntei, esforçando-me para esconder qualquer emoção na voz.
— Encontrámos uma testemunha que afirma ter visto Amanda. Estamos a seguir essa pista e esperamos ter novidades em breve — explicou o sargento, com um tom de esperança controlada.
— Entendo. Por favor, mantenha-me informado — respondi, desligando de seguida com um sentimento de apreensão misturado com alívio.
Voltei a minha atenção para Inês, que me olhava preocupada, a sua expressão refletindo uma mistura de curiosidade e preocupação genuína.
— Está tudo bem? — perguntou ela, tocando o meu braço gentilmente com um gesto que tentava confortar-me.
— Sim, apenas uma atualização sobre Amanda. Mas vamos focar em nós agora — disse, forçando um sorriso para tranquilizá-la.
Ela assentiu, ainda visivelmente desconfortável, mas disposta a aproveitar o momento. Eu sabia que teria de lidar com a polícia, mas por agora, Inês era a minha prioridade.
